Na
janela,o gato vê o mar.Ronrona e namora,quer a água como amor.Não sabe o que
são ondas,apenas está afoito.Chegar até a praia é o seu grande desejo.
Salta
para a rua,atravessa-a,chega até o cobiçado local.
O namoro
principia.
Nunca
ninguém viu coisa igual.Um gato pela praia não é de todo dia.Passam
pessoas,passeiam pelas calçadas,nenhuma só presta atenção em tão inesperado
acontecimento:um gato apaixonado pelo mar.
Água e
felino não combinam,creem todos.Jamais viria à cabeça de quem quer que fosse
semelhante pensamento:um gato apaixonar-se pelo mar.
Ninguém
vira o rosto para observar o gato a rondar o inquieto líquido.Mas ali está
ele,todo à espreita,à espera de uma distração,de um descuido das ondas.Talvez
dê o bote.É que ele sonda as águas.E não compreende.
Com o
inesperado encontrou-se:uma coisa que balança suavemente e o chama para si.
Vem comigo,dizem as ondas,vem.
Difícil resistir.
Resistente,ao invés de ser encantado,quer encantá-las.
Também sei pular,diz.E salta para frente
em exibição.
Um
estranho bailado se faz presente:o do gato que não só não quer render-se ao
mar,como também pretende rendê-lo.E o do mar,igual em quase tudo,só mais
largo,mais tentador.
Difícil
saber qual o movimento mais poderoso.Um,cheio de manha.O outro,vasto.
Um tentando vencer pela agilidade.O outro,pela
grandeza.
Duelo
perigoso,onde os dois atacam,se exibem,tentadores e hábeis.Cada qual mais cheio
de encantos.
Eu consigo,sussurra o mar.
Consigo eu,insiste o gato.
Bailado e
duelo plenos de beleza e susto.
Homens e
mulheres continuam seu passeio,nada percebem.Parecem tão preocupados.
Enquanto
isso,do inesperado beijo,do bailado e da embate nasce o inesperado:um
ronronar-marulhar ou um marulhar-ronronar.
Somente
eles poderiam entender o significado de tal diálogo.
Irrompendo
em claridade,em tudo interferindo,surge,entre bicho e imensidão aquosa,no exato
meio,o sol:
Não sei o que pretendem vocês,interrompe.
Meio
atônitos,ambos olham para cima.É o gato que responde,insolente:
Não te interessa.
Estamos testando quem vai vencer,explicou
o mar.
Está na hora de resolverem esta situação,esclareceu
o sol.
Ali
embaixo,cada um pensa que teria sido melhor se aquele intrometido não tivesse
vindo dar ordens.
Precisam,agora,encontrar uma rápida saída.
Recua,em
ondas,o mar.
Para casa
vai o gato.
O
sol,meio aborrecido,recolhe-se atrás de uma nuvem.
Da janela
o gato mira o mar e mia.
Na
praia,retorna a água e murmura.
Mesmo à
distância,o namoro prossegue.
A vidraça
através da qual os dois se enxergam,dirige-se a eles,compreensiva:
Sim,sim,podem ficar à vontade.
( Minha história O Gato e o Mar foi traduzida para o inglês e publicada nos estados Unidos)
(FOTO: Cleber Pacheco)