sábado, 28 de novembro de 2020

VOZES


 A monja, em voto de silêncio. Ouve os estalos das tábuas, o ruído dos grilos, o pingo da torneira, o saltar do sapo, o ranger das portas. Depois, o rumor da umidade nas paredes, do suor dos vidros, de uma folha que ainda não chegou ao chão, de um caracol deslizando no muro. Então, a voz dos animais, vegetais, minerais. Quando torna a falar, ninguém no convento compreende a língua usada por ela.

(Livro publicado em 2014).

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Um poema de Mirabai


 PORQUE MIRABAI NÃO PODE VOLTAR PARA SUA ANTIGA CASA

As cores do Escuro penetraram o corpo de Mira;
todas as outras cores desapareceram.
Amando o Escuro e pouco comendo,
isso são minhas pérolas e turmalinas.
Rosário de meditação e a marca na testa,
tais são os meus adereços e anéís.
Isso é beleza feminina suficiente para mim;
aprendi isso com meu professor.
Aprovada ou reprovada, eu louvo a Energia da Montanha
dia e noite.
Tomo o caminho que os seres humanos extasiados
tomaram por séculos.
Não roubo dinheiro e não agrido ninguém;
do que me acusarão?
Senti o balanço dos ombros do elefante;
e agora você quer que me sente num asno?
tente agir com seriedade.