sexta-feira, 30 de junho de 2017

Livro


  O pequeno livro Como Aprendi a Escrever de Gorki contém ideias  interessantes do autor. Ele divide os escritores em duas correntes básicas: românticos e realistas. E afirma que os melhores escritores conseguem mesclar as duas tendências. E cita como exemplos Balzac, Turgueniev, Tolstoi, Gogol, Leskov, Tchekov. E afirma:

   Esta fusão do realismo e do romantismo é especialmente característica de nossos grandes escritores.

    Daí surge o questionamento: de onde surge a vontade de escrever? A resposta vem de um dos seus correspondentes: para embelezar,por meio da imaginação,uma vida de miséria. Ou do excesso de impressões decorrentes das vivências cotidianas, conforme afirmou outro correspondente.
   E aí Gorki comenta:

    comecei a escrever  devido à pressão  que exercia sobre mim a 'vida de pobreza e tristeza' e porque tinha  tantas impressões que não podia deixar de escrever.

   E assim ele relata algumas lembranças a respeito do que viu e viveu e também prossegue expressando sua opinião a respeito de diversos autores. E, algo interessante, relata algumas de suas experiências de leitura.
   Em suma, trata-se de um livro para quem se interessa pelo ato de escrever,pela literatura,para pesquisadores, estudiosos, para candidatos a escritor e para quem já é escritor.


quarta-feira, 28 de junho de 2017

Estação

Quanto tempo leva
para que a chuva nos lave
e fecunde, na carne,
pele mais fina,
aguçando a nervura
da filigrana dos dedos,
polinizando o toque,
agora tão raro,
do existente e do extinto?
Quanto tempo leva
para valorizar o que vale,
sugando o supérfluo
em tintas simpáticas,
reescrevendo o visível
em novo idioma?
Quanto tempo leva
para que a vida vele
as duras entranhas
do que se revela
sempre evidente?
Que o aquoso
una o que o homem
separa, propondo liga
aos disjuntos.
Se o aquoso varre
mimético e continuo,
que ela nos trague
em desvario sóbrio.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Livro

    ELES,O MINISTÉRIO OU A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ABSURDO

    Alguém ainda duvida de que vivemos num mundo distópico? Se por acaso tal dúvida ainda existir, certamente será dissipada pelos textos deste livro de Cláudio Parreira. Breves e densos, conseguem, em poucas palavras – o que é um mérito- expressar de modo contundente o absurdo deste novo século e da realidade brasileira atual. Mas não é só isso. Conseguem ainda  ser atemporais, remetendo-nos para além de outras obras do gênero como Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, 1984 de George Orwell ou ainda Laranja Mecânica de Anthony Burgess. Seu conteúdo é mais kafkiano, remetendo-nos ao livro O Proces-so, mas contendo indiscutível voz própria, num estilo direto que nos choca.
   Este trabalho revela o quanto a estrutura do poder é, em si mesma, absurda, seja qual for a tendência, a ideologia dominante, as tentativas de legalizá-lo e legitimá-lo. A essência do poder é o seu aspecto manipulador, opressivo, cruel, estimulando a coletividade a tornar-se apenas a manada passiva, obediente, servil. E nos faz refletir a respeito dos conceitos de democracia existentes numa época em que esta mesma democracia é, cada vez mais, apenas uma sombra de si mesma, mero simulacro a encobrir o processo de submissão e escravização, de destruição das individualidades. 

Pode-se adquirir o livro acessando:

https://www.amazon.com/dp/1521585253

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Ler

Todos os dias,
para retornar à Ítaca,
desço os nove círculos
do Inferno,
luto contra os moinhos de vento,
enfrento a fúria de Moby Dick,
como a massa da barata.
Uma vez lá,
não sei se encontrarei
Capitu ou Penélope,
não importa.
Importante mesmo
é a viagem.


(foto: Google)

domingo, 25 de junho de 2017

Cultura


Eles produzem corrupção.
Nós produzimos cultura.
Eles propagam a ganância.
Nós propagamos a reflexão.
Eles incentivam a ignorância.
Nós cultivamos o pensamento.
Eles disseminam a estupidez.
Nós regamos os sentimentos.
Eles cultuam a velhacaria.
Nós cultuamos o talento.
Eles abominam a inteligência.
Nós semeamos a genialidade.
Eles odeiam a cultura.
Nós amamos a criatividade.
Que a incapacidade deles de compreender o humano,a ética e o sublime
 seja o nosso incentivo para valorizar o humano, a sabedoria e reconhecer o sagrado.

sábado, 24 de junho de 2017

Sóis



Encadeamento de sóis
no fulgor do Vivo,
comunhão de claridade
sem aparatos que não luz,
fulgor de Ser
em plenitude sem miasma,
imensidão de mar ardente
no Sumo do Infinito.

(foto: Google)

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Poema



No centro da Via,nenhum planeta ou sol.
No caudaloso,movimento,sêmen da rota.
O fecundo do vácuo no atrito do nada.
Fluxo.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Vestígio


Ascende
o dia
entre escombros.
Perdida
está a tardia
aurora.
resta,
no solo,
o vestígio
duma sombra
a marcar as horas.
A vida é além.

(foto: Meteora, Grécia- Google imagens)

terça-feira, 20 de junho de 2017

Ancestral


O Ancião dos Dias
 emerge
do caos à ordem,
trazendo consigo
a força que reitera
a sanidade das coisas,
a insanidade dos homens,
o fiat lux do mundo.
Compor o Cosmos
é um ato de osmose.

( Arte de William Blake)

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Metamorfose



Estou me mudando
para uma outra casa,
bem maior e mais ampla,
com jardim e uma fonte.

Ainda estou trabalhando nela,
conferindo-lhe
mais consistência no soalho
e mais flexibilidade
nas paredes.

É uma casa suspensa
com requintes de simplicidade
Seu único luxo é a janela
onde vejo tudo
o que há para ser visto.

Nela até o meu sonho
é desperto e desabrocha
para um mundo mais vivo,
destrancando vidros e porta
e gerindo a infinitude.

Estou me mudando
para uma outra casa
assentada sobre
o além das formas.

Hoje revisito
o desconhecido
 que já me conhecia de outrora.

(imagem Google)

sábado, 17 de junho de 2017

Cruz e Sousa

 CAVEIRA

I
Olhos que foram olhos,dois buracos
Agora,fundos, no ondular da poeira...
Nem negros,nem azuis e nem opacos.
Caveira!

II
Nariz de linhas,correções audazes,
De expressão aquilina e feiticeira,
Onde os olfatos virginais,falazes?!
Caveira! Caveira!!

III
Boca de dentes límpidos e finos,
De curva leve,original,ligeira,
Que é feito dos teus risos cristalinos?!
Caveira! Caveira!! Caveira!!!

(imagem: google)

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Conhecimento


Conheci a noite,seus pesadelos,
o corte na carne,
o suor do sangue
enquanto definhava
nas veias do horror.

Conheci a as astúcias do pesadelo,
seu rosto sem alma,
sua forma esvaída
nos interstícios do medo.

Conheci o medo,o espanto,
o pavor avolumando-se
nos moldes das vísceras,
o grito soldando
crueldade e pânico.

Conheci o amanhecer
e os vestígios do sol
anunciando
que aves inventam as manhãs.

(foto: Google)

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Poema




Na foz da Fronteira, o deslimite.
O maior no incluso do mínimo.
No reverso das coisas, o translúcido.
O que reverbera,anuncia.
Adiante, mares,desertos, florestas, não o excesso.
Aqui o adiante.
O limite.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

O Túmulo de Charles Baudelaire- Mallarmé




O templo tumular divulga em sepulcral
Boca de esgoto gotas de lodo e rubis
Abominavelmente algum ídolo Anubis
Todo o focinho a arder como um uivo brutal

Ou que o gás novo aviva a mecha trivial
Submissa a opróbrios sabe-se uma meretriz
Ele acende selvagem um imortal púbis
Cujo voo entre lâmpadas é sensual

Que louros a secar em vilas sem poente
Votivos vão benzer como ela põe-se assente
Inútil  frente ao mármore de Baudelaire

No véu que vibra e a ela ausente a envolver
Aquela a Sombra dele um vírus protetor
Por sempre a respirarmos até no estertor

terça-feira, 13 de junho de 2017

Koan



Num poço que não foi cavado,
a água está ondulando de uma fonte que não flui;
lá,alguém sem sombra ou forma
está retirando água.

(foto: Google imagens) 

Poema de San Juan de la Cruz

 (trecho:)

Yo no supe dónde estaba,
pero, cuando allí me vi,
sin saber dónde me estaba,
grandes cosas entendí;
no diré lo que sentí,
que me quedé no sabiendo,
toda ciencia transcendiendo.

sábado, 10 de junho de 2017

Realidade


O balde,
 sua corporeidade metálica,
 circunferência.
Então a água,
sua fluidez líquida,densidade,
volume.
Quebrar
o fundo do balde:
 Visão

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Conto



FLOR

A flor luminosa e giratória do ventilador  assombra a penumbra do quarto. É um girassol ardendo nas trevas. Esvoaçam cortinas e toalha da mesa onde coloco meus livros. Ouve-se apenas o zumbido das pás em seu incessante movimento.
\Estou á espera. Só.
Estendido e nu sobre a cama.
há nenhuma pressa.
Mansamente ela chega,sem quebrar o silêncio.Com suavidade se aproxima.Senta-se ao meu lado.
Seu toque acaricia todo o meu corpo.
Permaneço imóvel,recebendo suas mãos que ause me fazem penetrar no oceano das sonhos.
Sem fazer ruído,minhas lágrimas escorrem pelo rosto.
A madrugada se esgota nesta cumplicidade de silêncios.
Pela manhã ela calça os sapatos,apanha a bolsa e parte.
Continuo inerte sobre a cama,cerro as pálpebras.
Talvez amanhã ela retorne.

(foto|: Cleber Pacheco)

quarta-feira, 7 de junho de 2017

SENSO

Ás vezes,tem,o dia,
um fulgor
de laranja,a casca,
de cardo, o agudo,
apimentar
das essências do insípido,
aroma
nas asperezas do cítrico,
o sutil dos sentidos
na crucificação das formas,
superação do hígido
nas fronteiras do único.

O Agora não tem pressupostos. 

terça-feira, 6 de junho de 2017

Fado


Há quem sofra de insônia
e reze na madrugada.

Há quem sinta um aperto no peito
ao findar o dia.

Há quem desça a escada
na ponta dos pés.

Há quem beba apenas água da chuva
ao meio-dia.

Há quem abarrote a casa
com toalhinhas de crochê.

Há quem ingira a comida fria
sobre a mesa nua.

De qualquer modo,
às vezes é preciso
riscar o fósforo.

(imagem: Google)



Poema - IMAGENS

Nos escombros do instante,
o agora vomita
uma beleza sem diagnóstico.
Parir de flores
em fulgor de cólicas.
Estrebuchar de amor
no ósculo das bestas.
Vinho é o dia
fermentado
nas catacumbas do claro. 

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Poema

  

 Nos reparos do nada, ainda o sol.
   Cru sobre os frutos.
   Frutos, quem os come? quem os molda?
   Frutos e vermes em alinho sobre a terra num cardume de raízes.
   Frutos, a vastidão do que povoa o mundo.
   Mundo, movimento.



sábado, 3 de junho de 2017

TEATRO




( Um trecho da minha peça O TIRO):

Homem 1- Muito bem.Assim sendo,em que ponto você quer chegar ?
Homem 2- No desaparecimento dele.Este é o nó,o xis da questão.
Homem 1- Se há três envolvidos – e não podemos esquecer disso- ,e se em dois deles não está o problema,a falha,provavelmente deve estar no terceiro.É um raciocínio lógico.Isso significa que ele deve ter mudado de ideia. Decidiu não fugir.
Homem 2- Sem nos avisar ?
Homem 1- Ora,ele sempre teve um caráter,no mínimo,duvidoso,
você tem de reconhecer,apesar  de toda a sua...bondade.
Homem 2- Como de hábito,começa a acusá-lo.Mesmo quando aparentemente se prontifica a ajudar,a ser tão compreensivo,
a...
Homem 1- ...perdoar ?...
Homem 2- Se consegue admitir...
Homem 1- Ah, finalmente estou começando a ver as garrinhas de fora!
Homem 2- Cada um vê o que quer.
Homem 1- Mas o pior cego é o que não quer ver.
Homem 2- E o que você está vendo ?
Homem 1- Eis a questão.
Homem 2- Diga.

Homem 1- Uma acusação.

(imagem: Google) j

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Morte-Vida



São muitas as máscaras da morte,
inúmeros os estratagemas,
inesgotáveis os recursos.

Infinitas são as faces da vida,
seus organismos, mananciais
de enigmas, irromper
de estigmas.Vácuo que preenche
a si mesmo nas categorias do fluido.

Luz complexa
acometida das sofisticações do simples.

(foto:  Cleber Pacheco)

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Força

  Das paredes que se desfazem,
das muralhas que se consomem,
das montanhas que são alcançadas
mero vapor exala
e é, ainda que volátil
 da consistência do aço.

desenho de Cleber Pacheco)