sábado, 25 de maio de 2019

Paramashiva


Desvestir os nomes,
reconfigurar as nuvens,
provisório é o paradeiro
do Verbo, 
 rito do obscuro e do ígneo,
espírito sobre as águas
sem águas,
inviabilidade das formas.

O que não está dito
articula o anônimo,
inverso de antônimo,
engenho e arte
do que não foi inscrito
em todo e parte.

(foto: Google imagens)

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Tisana

Macerar o sumo,
extrair
essência , abdicar
do diverso
para engendrar
o íntimo
caldo
de partes
em concatenação do todo,
espírito de planta
em amálgama
de carne e flora,
fornalha de seivas
em simbiose líquida,
cerzir de misturas
na alquimia dos díspares.

(foto: Google)

sábado, 11 de maio de 2019

Resenha



   Estou numa fase de reler livros lidos há muito tempo. E chegou a vez de reler Leviatã, do escritor francês  Julien Green, que eu também havia lido durante o curso de Letras.  Aliás, estou focado nos autores franceses,por ora.  Por necessidade de reavaliar textos dos quais já não me lembrava com clareza.
    Trata-se de um romance angustiante,   cujos personagens não possuem nenhuma possibilidade de redenção.  Para o autor, a existência humana é marcada pelo absurdo, pelo desespero, pela completa falta de sentido. Violência, tensão, tristeza num mundo incapaz de qualquer afeto  percorrem cada página do livro.
   Guéret aparentemente apaixona-se por Ãngela,apesar de ser casado. E mergulha numa tentativa de relacionamento cada vez mais estranho, conflitante, sem esperança. Na verdade podemos questionar se há de fato qualquer espécie de amor entre eles. Há mais uma tentativa  desesperada de buscar uma saída para vidas tão vazias. Criar amores imaginários  para buscar algum alívio acaba por trazer uma situação ainda pior. Nada melhora.Muito pelo contrário, tudo vai se tornando cada vez mais sombrio e beirando o trágico.
   Trata-se de um mal sem remédio, onde o monstro da desespero vai destruindo todos  sem a menor piedade. Como é o caso da temível sra. Londe, dona do restaurante onde manipula seus clientes numa interminável ansiedade por vasculhar suas vidas insignificantes e medíocres, ávida por saber tudo a respeito de cada um. Sua decadência é notória, num livro onde todos caminham na beira do abismo até caírem definitivamente nele. Também é o caso da sra. Grosgeorge, aniquilada pelo tédio, pelo ódio, pelo desprezo e cujos atos serão decisivos no destino de Guéret. 
   Circulando num universo marcadamente feminino, Guéret é incapaz de compreender as mulheres. E os outros homens, personagens secundários na história,mas importantes no contexto,  são igualmente incapazes. No máximo tentam usá-las para seus fins egoístas  e vivem de rivalidades mesquinhas entre si. Já as mulheres, com exceção da esposa de Guéret,  são intensas e se debatem furiosamente nas garras de uma existência cruel que as esmaga sem piedade.
   Os capítulos finais são exasperantes e magistrais., tornando a leitura inesquecível e nos deixam um sabor amargo que o autor não faz nenhuma questão de atenuar. Trata-se,portanto, de um livro para leitores capazes experientes e dispostos a se defrontarem com um autor implacável e sem concessões.
 
   .

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Novo Livro


   A escritora e pesquisadora da  Fundação Biblioteca Nacional apresenta meu  mais recente trabalho: O Livro dos Livros. 

   "  Na melhor tradição de Umberto Eco, Italo Calvino e Jorge Luis Borges,  Cleber Pacheco apresenta a seus leitores uma enciclopédia de obras fantásticas , das quais a simples descrição provoca  assombro e deslumbramento. A cada página se desvendam novas e infinitas possibilidades : livros escritos sobre pedra, metal ou no próprio ar , que tanto abrigam palavras quanto sentimentos,  experiências ou mesmo o vazio absoluto . Livros que revelam segredos arcanos , que relatam batalhas eternas, que transcendem as fronteiras  do tempo e do espaço. Livros que podem conter o universo - e ainda assim se ocultar, invisíveis e insuspeitados,  nas estantes de uma biblioteca imaginária." 
   O livro está à venda na livraria virtual da editora Penalux.
   

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Livro



Mergulhar
na página,istmo
no desobedecer
do senso,
desencavar
de histórias
nas entranhas
do limbo e do sonho,
ênstase
a desventrar
o desatino dos calígrafos,
estigma
de Caim e de anjos
a se darem as mãos,
enlace
de poro e medula
nos abismos do raso.

(foto: Cleber Pacheco).