quinta-feira, 24 de maio de 2018

Vibração


Beijo a boca do silêncio,
que não quer ser conhecido,
divisão de águas sem marés
na língua do desconhecido,
encontrar de desencontros em sincronia
no assimétrico constante
da irrepreensível convergência
da geometria do inconstante,
ritmo irregular do sinfônico
em mudez de gesto e libras
na harmonia do cacofônico.

domingo, 20 de maio de 2018

Resenha



   Na livraria que frequento encontrei este exemplar do romance A Livraria, de Penelope Fitzgerald. Nunca havia lido nada da autora,mas fiquei interessado. Acabei de ler o livro, satisfeito por ter escolhido bem. Foi uma belíssima descoberta,confesso.
   Texto simples,preciso,econômico e certeiro. Com humor e ironia, Fitzgerald consegue criar uma situação aparentemente simples,mas muito reveladora do comportamento humano, das pequenas cidades, das mentalidades estreitas, além de criar personagens muito interessantes utilizando-se de poucas palavras.
   A solitária Florence ,por questões de sobrevivência, decide abrir uma livraria em Hardborough. E se depara com a resistência de Violet Gamart, a poderosa local, cheia de pretensão e veneno, muito consciente de sua própria importância. Florence não age como uma heroína romântica, tampouco sabe lidar direito com negócios e contabilidade. Curiosamente também não se interessa muito por livros e é incapaz de julgá-los se ,de fato,são bons. No entanto, ela resiste,a seu modo, à letargia , à ignorância e às pressões sociais. É uma personagem sui generis, como o é também o sr. Brundish, o único que realmente lhe oferece apoio.  Outra personagem,Christine, é adolescente que se torna sua assistente e vem da classe baixa. Rude e implacável,mas capaz e organizada. Ambas conseguem uma boa sintonia,embora Christine se revele , no final, tão implacável quanto antes.
   Os clientes da livraria estão interessados em livros sobre a rainha, a realeza, relatos de experiências de guerra,floricultura,etc. Não são exatamente amantes da literatura. O único romance que causa certa repercussão é Lolita, de Nabokov, embora o sr. Brundish a avise de que ninguém ali seria capaz de entender o livro. E se avaliarmos os habitantes da cidade,por certo não devem ter entendido mesmo.
   A Livraria é um romance realmente imperdível graças ao talento da autora, que consegue dizer tanto com tão pouco e pode extrair dos pequenos detalhes singularidades,riquezas e misérias humanas.
   
   
 
   

terça-feira, 15 de maio de 2018

Raso



São excesso
avanço e recuo;
pedido ou recusa,
extravagância.
Surdos,mudos,mendigos:
pura insolência.
Desentendem-se
acúmulo e solidão.

sábado, 12 de maio de 2018

Poema




O candente, o vibrátil nas fímbrias do caudaloso.
Silêncio.
Eclosão de coisas.
Para além dos oceanos,universos.
O que nunca chega a atingir.
Desproporção.
No caudaloso, a vibração do Agora.

domingo, 6 de maio de 2018

MIcroconto : SONHOS

   Escrevia romances no estilo Barbara Cartland com títulos similares: "Ingênua Sedutora", "O Duque Galanteador", "A Princesa Plissetskaya" e assim por diante.
   Sentava-se à mesa da cozinha para rabiscar as histórias enquanto os cinco filhos demoliam o restante da casa e o marido arrotava suas três dúzias de garrafas de cerveja.
   Entre um suspiro e outro, baixava as pálpebras sobre seus olhos sonhadores.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Existir



Assimétrica é a dissonância
entre os segredos,
pausa de instante vertida
na comunhão que exclui
semente e víscera
de tudo o que existe.
Palavra,parábola,
istmo que se consome
no desidratar do sumo das coisas.
Existir é um insulto
e um fluxo que se regenera
no ápice das contundências.
Acontecer é sempre um  risco
que às vezes até vinga.

(foto: Cleber Pacheco)