terça-feira, 30 de março de 2021

Filosofia e Poesia


 As reflexões do filósofo GASTON BACHELARD a respeito de poesia são excelentes As frases a seguir são retiradas do seu livro A POÉTICA DO ESPAÇO:

"Não há poesia se não há absoluta criação."

" O poeta, na novidade de suas imagens, é sempre origem de linguagem."

" Por sua novidade, uma imagem poética abala toda a atividade linguística. A imagem poética nos coloca diante da origem do ser falante."
"A poesia põe a linguagem em estado emergência.A vida se mostra ai por sua vivacidade."

"Os poetas e os pintores são fenomenólogos natos."

" O artista não cria como vive, vive como cria."

(foto: Google imagens)

domingo, 28 de março de 2021

Rubáiyát de Omar Kháyyám


 

Os dias passam rápidos 

como as águas do rio 

ou o vento do deserto. 

Dois há, em particular, 

que me são indiferentes: 

o que passou ontem, o que virá amanhã. 

sábado, 20 de março de 2021

Resenha


     Li o romance A Náusea, de Jean Paul Sartre quando cursava o terceiro ano de Letras. Teve um grande impacto para mim. E agora releio o livro com um olhar muito mais experiente, é claro. 

   Nitidamente o livro é uma expressão de sua filosofia existencialista.  Escrito de modo brilhante, sem dúvida. Há uma crítica ao modo de vida burguês, ao humanismo, ao socialismo, à filosofia de Nietzsche  e a uma cultura que pode ser, paradoxalmente, alienante e ridícula. 

   Antoine Roquentin é um indivíduo, imerso em solidão. Não faz parte do grupo, do rebanho, da sociedade. Isolado de tudo e de todos, mantém um olhar cético em relação a tudo o que cerca. A náusea que o acomete em determinados momentos vai se acentuando até a tomada de consciência:  a vida não tem sentido, o mundo não tem sentido. As pessoas repetem rituais vazios para se protegerem disso. Não suportam olhar a verdade nua e crua. A humanidade  cria e vive uma farsa para esconder essa terrível verdade de si mesma.  Viver é contingência: estar presente. |Nada mais.

   Aos poucos, os tênues elementos de sustentação da vida  do personagem se desfazem: os momentos de convivência constrangedora com o Autodidata, a antiga relação com Anny, os encontros sexuais com a patroa do Rendez-vous des Cheminots desabam implacavelmente não restando nada além da solidão e da percepção da pura existência. Sequer a tentativa de escrever uma biografia do marquês de Rollebon  vai adiante. Não resta nada onde se agarrar . Não há como escapar. Roquentin tem de encarar a si mesmo e a realidade. 

   Isso tudo poderia levar a um final que mergulhasse no mais mais completo desespero. Mas a última audição de uma canção de jazz  revela uma tênue possibilidade a Roquentin de criar um sentido para sua existência: escrever não uma biografia mas um texto literário, um romance. Não se trata de uma redenção e, sim, criar a capacidade de evocar sua vida sem repugnância. 

   

segunda-feira, 15 de março de 2021

AUTOR CONVIDADO


   Milton Rezende nasceu em Ervália (MG), em 23 de setembro de 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público aposentado, atualmente reside em Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de doze livros publicados.

Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015). 




TATUAGEM

 

O corpo utilizado

para a afirmação

de uma individualidade,

de resto inexistente.

 

A individualidade,

como um fantasma abstrato,

esconde-se por detrás

da porosa pele.

 

A tatuagem utilizada

para a identificação

dos corpos, vítimas

do desastre aéreo.


GOLES DE LEVEZA

 

chás & cicatrizes

aromas em lata com

ferrugem

o intervalo do trajeto

entre o chão e o

travesseiro

melhor ser um homem

deitado que um andarilho

de joelhos, e bêbado.