domingo, 29 de junho de 2014

ALMA

A alma
do vivo
visualiza
as fronteiras
do intangível.

Não há fronteiras
no sumo
do vivo,
só seiva.

A alma
da fronteira
é não ter
contornos.

(Foto de Cleber Pacheco).

sábado, 28 de junho de 2014

NAUSICAA


Nu e faminto,
desconheço
esta praia hostil.

Pronunciar palavras não posso.

Nausicaa
 observa
e,indiferente,
abandona
meu corpo e minha tristeza.

O vórtice engole
céu e navio
mastigando
meus olhos.

O abismo
não tem palavras.

(Pintura de Frederic Leighton).

sexta-feira, 27 de junho de 2014

FAROL

A forma,
farol
que anuncia
a percussão da luz,
congela,
por um átimo,
a chama
e mergulha
no oceano
do amorfo.

(Foto de Cleber Pacheco).
.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

MITO E LITERATURA - parte II

Visão moderna a respeito do mito.
BERNARD DE FONTENELLE: Segundo ele,o mito é uma tentativa de explicar de modo diferente o que é difícil de entender ou características ou aspectos estranhos do nosso mundo natural.
DAVID HUME: O filósofo era totalmente contrário ao uso do mito.Acreditava que era necessário expurgar a mentalidade antiga e deixá-la para trás.Mito seria pura perda de tempo.O que vale é o método científico.
CHRISTIAN GOTTLOB HEYNE: De acordo com ele,os mitos servem para que possamos estudar o mundo antigo,o clássico.Considera que o o mito não é apenas fruto do medo,mas uma mistura de medo e maravilhamento .
JOHAN GOTTFRIED HERDER: O mito é uma expressão de verdades profundas.É inato ao ser humano,ao comportamento humano.É a soma de poesia,religião me linguagem.
WALTER BURKET: O mito é um "conto" tradicional contado com referências parciais e secundárias a algo que tem importância coletiva.

   Vale destacar ainda dois estudiosos importantes desta área: MIRCEA ELIADE e JOSEPH CAMPBELL.

terça-feira, 24 de junho de 2014

MITO E LITERATURA - parte I

A mitologia está intimamente ligada ao mundo literário.Primeiro na literatura oral e,a seguir,quando passou a ser registrada de modo escrito.Considerada uma linguagem sagrada,a poesia era uma linguagem associada ao mítico e ao mágico,à inspiração divina.E tendo uma fonte, divina,os textos não poderiam ser modificadas,tendo se ser transmitidos sem alterações.
   A poesia épica é,sem dúvida,resultado disso.
   No entanto,o mito,ao longo do tempo,foi sendo compreendido de diferentes maneiras.
   Coloco aqui alguns dos principais conceitos desenvolvidos em diferentes épocas bem como posicionamentos referentes ao pensamento mítico:

PLATÃO: De acordo com o filósofo,não se deveria apreciar os mitos por considerá-los algo falso.O mau comportamento dos deuses seria péssimo exemplo uma vez que os mitos têm o poder de construir a cultura.
XENÓFANES DE COLOFÃO: A cultura é que constrói o mito.
METRODORO DE LÂMPSACO: Considerava os deuses como manifestações da natureza,representações de ações físicas e reflexões a respeito da natureza humana,alegorias.
ARISTARCO DE SAMOS: Entendia os mitos como uma abordagem literária,representação exagerada,licença poética.
EVÊMERO: Segundo ele,as histórias seriam baseadas em personagens históricos que foram endeusados.

Na segunda parte,colocarei a visão moderna a respeito do tema.



 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

INVERNO

Cedo aprendi
as artes do frio,
as agruras do gélido.
Cedo reconheci
a geometria do rigor
no coração do olvido.
Prematuro era o parto
do embrião da morte.
Escavando
camadas do frio,
encontrei,trincado,
o corpo
da Rainha da Neve. 
Comecei
pelos sincelos e geadas,
atravessando,
a seguir,
as crateras do rústico.
Treinado
por granizo e tormenta,
resgatei o invólucro
empalhado em vidro,
múmia do límpido,
repousando,calado,
nas consistências do sólido,
escultura e retalho
na sisudez do único.
Preso e lacrado
nas armadilhas do anatômico,
com sonhos cinzelados 
nas brumas do extinto.
O fossilizado
- cultivada semente
da flora dos mortos-
devolvendo o âmago
à textura dos espectros,
fruto cristalizado
no âmbar do limbo,
flor fecundada
no pólen do anêmico.
Retirei
do abismo
a seiva do estático
guardando comigo
as fissuras do frígido,
era pedra a alma
dos soterrados
nas catacumbas do esfíngico.
Devolvi
o corpo
da Rainha da Neve
ao reiterar das formas,
às injúrias dos gelos,
recompondo o impecável
com máximo zelo.
Não tinha pressa
o tempo
para aniquilar
o eterno.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

CONSTRUÇÃO

É muito pouco
construir
catedrais.

É insuficiente
ressuscitar
olhos.

É necessário
remodelar
arquitetos
na aurora do impossível.

(Google Images)

segunda-feira, 16 de junho de 2014

HALO

Roçar de asas
no aroma do instante.

A vida é halo
e flagrante.

(Desenho de Cleber Pacheco)

domingo, 15 de junho de 2014

LITERATURA E AMBIGUIDADE

   O texto literário é plurissignificativo .Portanto,é ambíguo por natureza. Alguns livros,porém, levam a ambiguidade a um nível tão intenso, que  ela se torna  a essência da obra,tornando a leitura um desafio do início ao fim,instigando a inteligência do leitor e desafiando os seus conceitos de realidade.
  Uma leitura assim torna-se muito enriquecedora e ainda mais interessante,com um fascínio próprio mantendo o verdeiro sentido da palavra mistério.Não tem de ser  um livro de mistério necessariamente.o que nem sempre garante interesse e qualidade.A palavra aqui tem um sentido mais profundo,significando,de certo modo,o resgate de aspectos não totalmente esclarecidos de nossa existência.
   Lembro de algumas histórias que considero muito interessantes neste sentido: LE RIDEAU CRAMOISI, do escritor francês Barbey d'Aurevilly , que faz parte do livro de Contos LES DIABOLIQUES.
  A VOLTA DO PARAFUSO, A FERA NA SELVA, O DESENHO DO TAPETE, de Henry James.
   O conto OS SALGUEIROS, de Algernon Blackwood.
   O conto DEPOIS ,de Edith Wharton.
   São alguns exemplos excelentes de literatura de alta qualidade que desestabiliza nossos tradicionais conceitos do que possa ser o real.
   Recomendo.
 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

NÉVOA

Do ou-
tro
lado
da névoa,
talvez
MAIOR seja
o abismo.

Corroendo
as paredes
de espuma,
atra-
ves-
so
o invólucro,
sentindo,
na pele,
a erosão
de tudo
o que foi
 conhecido.

Silente,
a névoa
vai esculpindo
os instintos
do vazio
em asas de fênix.

(Foto de Cleber Pacheco)

quinta-feira, 12 de junho de 2014

PRAIA

O sol
atravessa
as ondas
e alcança
o âmago da areia.

A vida repercute
entre
luz e sombras
e molda
imagens
de sonho.

Pegadas
comprovam
os indícios
da brisa.

O gesso
do instante
se esboroa
no ruminar insidioso
das ondas.

O agora
repercute
entre
árido e úmido
revestindo
o esboço
das exsudações
do precário.

(Pintura de Cleber Pacheco)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

FILOSOFIA E LITERATURA

Quando escrevo textos de Crítica Literária,costumo fazê-lo por um viés filosófico,que enriquece as diversas interpretações possíveis de um livro.É um modo de alcançar profundidade à análise e explorar a plurissignificação própria da linguagem literária.
  Aqui abordo de modo breve uma questão digna de nota e que nos faz pensar: a Filosofia,ao longo do tempo,tem abordado como um dos seus temas recorrentes a Utopia.Diversos filósofos, desde os gregos até os modernos debatem o tema e não raro,criam mundos utópicos de acordo com suas próprias concepções.Podemos concordar com eles ou não.O fundamental é que,com isso, gera-se reflexão e,quem sabe, uma práxis.
   Por sua vez,a Literatura tem preferido tratar a respeito das Distopias,dando ênfase nos problemas e conflitos gerados por sociedades injustas,autoritárias que geram consequências danosas aos indivíduos.É grande e significativo o número de autores que escreveram a respeito,desde os clássicos até aqueles que se incluem na chamada cultura pop.
   Creio que seria muito interessante fazer um estudo buscando analisar cuidadosamente essas visões tão díspares ,ao menos em aparência, o que pode levar a conclusões enriquecedoras.
  Fica a minha dica aos estudiosos.
 

terça-feira, 10 de junho de 2014

LEITURA

Encontrei meu óculos trincados
próximo ao livro que estava perdido.

Quebrei as lentes,
guardei o livro
e li minhas retinas.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

LIVROS ANTIGOS





sábado, 7 de junho de 2014

RAIZ

Você tem um talento
para as coisas
mais improváveis:
sabe acariciar o musgo
sem esquecer a pedra,
sabe olhar as nuvens
sem esquecer a chuva.

Poucos conhecem
a delicadeza
tão bem
quanto os seus olhos.

Muitas vezes,
 contemplando-a,
 digo para mim mesmo:
"o coração não é
uma folha levada pelo vento."

(Desenho de Cleber Pacheco).

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Microconto; OBSERVAÇÃO

Mrs. Furthermore,famosa observadora de pássaros,só percebeu que o marido tinha outra quando ele bateu asas e voou.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

CORAÇÃO

Conecto
meu cordão umbilical
ao sol.

No coração da galáxia
nascem
estrelas e buracos negros.

terça-feira, 3 de junho de 2014

AUTOR CONVIDADO

Claudio Parreira é escritor e jornalista. Foi colaborador da Revista Bundas, do jornal O Pasquim 21, Caros Amigos on line, Agência Carta Maior, entre outras publicações. Teve contos incluídos nas coletâneas CONTOS DE ALGIBEIRA, FIAT VOLUNTAS TUA, DIMENSÕES.BR, PORTAL 2001, A FANTÁSTICA LITERATURA QUEER, FRAGMENTOS DO INFERNO e também LINHAGEM MONTESSALES – RETRATOS DA INQUISIÇÃO
Recebeu Menção de Honra para o conto O Jardim de Esperanças (Der Garten Der Hoffnungen), da Revista de Assuntos Latino-Americanos XICOATL, Áustria, em 1996. Foi ainda o ganhador do 1º Concurso de Contos da Revista piauí, em março de 2007 e, no ano seguinte, integrante do folhetim despropositado A Velha Debaixo da Cama, da mesma revista.
É autor, pela Editora Draco, do romance GABRIEL.
Mora em São Paulo, SP, e mantém na Internet o BLOG PPC! 
twitter: @ClaudioParreira


NA RUA
por Claudio Parreira

Nós nos conhecemos no dia da sua morte. Foi curioso: eu passava na rua; na mesma rua ele havia acabado de morrer. Eu disse oi, ele falou oi. Para encurtar a conversa, cheguei a ser grosseiro: “Não adianta você ficar aí falando comigo porque eu não acredito em mortos falantes!”. Ele gargalhou. E disse: “Pois agora que estou aqui deste lado, começo a duvidar — a vida existe mesmo ou não passa de puro sonho?”.
Faz três anos que conversamos. Eu continuo não acreditando. Ele duvida mais e mais a cada dia. Concordamos apenas num ponto: todas as respostas são insuficientes.


domingo, 1 de junho de 2014

O LIVRO DE SOYGA

   Manuscrito que supostamente ditado pelos anjos para Adão no paraíso. Utilizava uma linguagem cifrada,criptográfica,com conteúdo ainda não completamente esclarecido.
   Um dos livros que fazia parte da biblioteca de John Dee,  famoso mago,alquimista,astrólogo e cientista,no século XVI.Ele possuía uma das maiores bibliotecas particulares da Europa e,provavelmente,a maior da Inglaterra.
  É difícil encontrar muitas referências a respeito desse livro.
  Faz parte de uma época em que ciência e estudos esotéricos se misturavam.
 

OUTONO

A folha,
 palavra caída
na poça
da melancolia
nada
rumo a
nenhum.

(Foto de Cleber Pacheco)