sábado, 28 de fevereiro de 2015

INSETO

Não menos sente
um menos corpo
de falsa múmia ou botão
só há mais mundo
e bem mais rente
no vasto horto
sem redenção

Se algo move ou fende
não é o que falta ou rende
nem tampouco o que comove
mas o chão que se estende

Carne e máquina
remendo e rima
ter e não ser pátina
é sua saga ou sina

(Google imagens)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

LIMITE

Além da treva
há certa claridade,
se aurora não é.
também não é tarde.

Além do deserto
brota uma erva,
se o estéril não acaba,
também não conserva.

Além do desencanto
resiste um fardo,
se morte não é,
também não é parto.

(Google images)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

MALALA de Viviana Mazza

   Uma breve biografia a respeito de Malala - a menina mais corajosa do mundo , a jovem que queria estudar apesar da proibição do Talibã. Eis um modo de resumir o livro. Mas ele é mais do que isto. Ele pode simbolizar a resistência à opressão, o desejo de aprender  apesar das circunstâncias desfavoráveis, uma amostra da pós-modernidade e suas contradições,as consequências do fanatismo religioso.
    Um texto simples e breve, com capítulos curtos e de fácil leitura contendo boas ilustrações.
    Trata-se de uma leitura acessível  que pode despertar o interesse de diversas fixas etárias de leitores.
     Existem muitos momentos marcantes na narrativa da jornalista italiana Viviana Mazza além do atentado propriamente dito que  malala sofreu. A convivência com as colegas e com a família  produz imagens comoventes e que demonstram bem os conflitos no Paquistão.
   Contando o que aconteceu antes e depois do atentado, a autora consegue nos fornecer um breve retrato da menina que ganhou o prêmio Nobel da Paz.
   O Ocidente ainda tem dificuldade de entender o Oriente. Talvez o livro não desvende toda a complexida-de dos fatos históricos nem é esta a sua pretensão. Trata-se, na verdade, de um retrato humano que nos toca e faz pensar.
 
 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

SUMIDOURO

Um poço no deserto
por certo não é exemplo.
Tudo o que descreve
é o que não tem por dentro.

Se algo aflora
nessa boca sem saliva,
é relembrar à hora
o transbordar da sua dívida.

Nesse poço outro,
só o pó habita.
E achando pouco,
o nada regurgita.

Fuçando no mais fundo,
redescobre o rente:
para ele o mundo
é ainda insuficiente.

(Google images)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

VENTOS

Os ventos chegaram
até as ilhas
destruindo
casas e árvores.

Um prejuízo incalculável,
disseram.

Contemplei
as ruínas,
examinei
as folhas

Já havia engendrado
minha própria brisa.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Poema: Ninho

O sol ainda é dourado.
A lua continua surgindo à noite.
As aves buscam abrigo no inverno.

Certas árvores não sustentam ninhos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A MORTE DE VISHNU, de Manil Suri

    O Oriente legou ao mundo uma literatura rica e fascinante.Mas não é só do passado que ela sobrevive. Obras contemporâneas  relevantes, autores talentosos nos convidam a continuar descobrindo o outro lado do mundo. Tais autores fazem agora uma revisão de suas tradições e uma análise da sociedade atual com um olhar crítico e profundo.
   É o caso do romance A Morte de Vishnu do escritor Manil Suri. Texto publicado em 2001 na Índia e também no Brasil , nos revela as contradições,conflitos e problemas, mesquinharias e grandezas de uma sociedade complexa e multifacetada.
   Num  pequeno edifício de três andares, famílias e moradores vivem envolvidos em disputas,conflitos religiosos, tentativas de ascensão social e sublimação.
   Enquanto o ganga que presta serviços aos moradores está morrendo e é tratado com desprezo,preconceito e falsa compaixão, as famílias Asrani e Pathak brigam entre si por motivos fúteis,em disputas sem sentido. De tal situação e por problemas próprios, desencadeiam-se situações tragicômicas com a família Jalal.
   No último andar, o senhor Vinod é o único que está imune às loucuras do mundo.Já teve sua cota de dor e pequenos prazeres e vai fazendo as pazes com a própria existência.
   Neste pequeno mundo o autor faz um retrato do seu país e de humanidade com habilidade e talento, prendendo a atenção do leitor e levando-o à reflexão, à percepção de como os atos ridículos,os dramas, os preconceitos vão forjando o comportamento da humanidade.Trata-se de um microcosmo que revela o macrocosmo. Assim como o ganga, que é uma pessoa comum,mas que pode ser também a representação do mistério que é a vida .
   Uma leitura altamente recomendada.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Poema; DESPOJOS

Quanto represa
ou perde,
se algo guarda
ou herda,

ninguém sabe,
só pressente
o que coube
ao restante.

O ocorrido
ou o exceto
está lavrado
no inexato.

Se carente
ou circundante,
o seguinte
é o indiferente,

sem apelo
para prover
ou abalo
para negar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Poema; DESAJUSTE

Minha caligrafia é ruim,
minhas palavras são incompreensíveis,
minhas cartas nunca chegam ao endereço correto.

Não tenho óculos e leitores,
só conheço alfabetos arcaicos.

Minha escrita é sempre estrangeira.

(Google images)



domingo, 8 de fevereiro de 2015

Poema: SONO

O dia dispersa
 pesadelos,
a madrugada
os remenda.
.
Fechar pesado
de pálpebra
vasculhando
o sono das pedras.

A noite macera
 sonhos
 esculpindo
avantesmas..


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Microconto: Composição

Surdo, só podia ouvir o intervalo entre duas notas. Não estava mais apto a reconhecer os pássaros. A não ser os colibris suspensos entre dois nadas.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Poema: Navegação

Não consulto a cartografia
nem a previsão do tempo.

Não respondo a questionários
porque ignoro as respostas.

Não dedetizo a casa
por solidariedade às baratas.

Só leio evangelhos apócrifos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Conto em língua inglesa

(Este é o meu conto que foi publicado plea Sugar Mule)

                                         Monument

Somewhere,in the future

   It took a long time for me to find the library. It was necessary to cross  the destroyed city and part of the forest. There were dangerous animals and traps. Twice I nearly died.
   In fact it was not a legend. The library exists. It is an ancient monastery occupied now by countless books. The architecture is a masterpiece, full of ingenuity  and beauty. Seven giant towers guarding the greatest treasure of humanity. Seven guardians watching over each one.  Guards everywhere. Inside, librarians and copyists monks.
   When I arrived, I thought of becoming a guard. After all I could survive in this chaos. I’m young, tall, strong and always  liked challenges. But the monks told me that they were in need of copyists. There were few, and some were already sick or blind. At first, I rejected  the idea. Gradually I was accepting their proposal  and after twenty years of preparation, I became one of them. Made sacred vows and wore the black cloak.
   Contact with the books was a slow revelation. I could never imagine something like that. Paper is considered precious here as much as the inks. The books are huge and heavy and every page is a work of art .  And all  considered important  are carefully kept on the shelves.
   It is very difficult to choose which of the work performed by the monks is the best. All are exquisite and fascinating. But one in particular has become my obsession. For being one copy only, was easier to receive approval to copy it.
   Exultant, I chose to use letters in Gothic style. I made several attempts. Failed every time. It seemed impossible to repeat such mastery. Only then I understood why no one had tried it before.
   I felt myself a loser. I was hopelessly lost.
   Nightmares were torturing  my nights.
   Fear and anguish have taken me.
   I felt anger and hatred of the book. I wanted to destroy it .But love won. I opened it and was enthralled by endless hours. It  had an irresistible spell.
   Now they are chasing me through the forest. There is a high probability that I will be killed. Before that happens, I stop and behold the book once again.
      Shakespeare was right:
   “ And thou in this shalt find thy monument,
     When tyrants’ crests and tombs of brass are spent.”