sábado, 29 de junho de 2019

Resenha


   A Redoma de Vidro de Sylvia Plath é o romance escrito pela famosa poeta e narra o processo de formação da personagem Esther Greenwood, que enfrenta percalços em suas tentativas de encontrar algum caminho para sua vida.
    Tendo vencido um concurso, Esther passa um mês em Nova York, num ambiente supostamente cheio de glamour.  No entanto, a realidade é bem outra. Tudo é descrito de uma forma bem crua, sem grandes ilusões. Futilidade, vulgaridade à sua volta, pessoas interesseiras, tornam a personagem cada vez mais desnorteada. Moda, mulheres correndo atrás de homens e vice-versa, desejo de fama. Nada que possa realmente acrescentar algo à sua vida. Junte-se isso a decepção amorosa e tudo ainda fica pior. A sensação de vazio vai se agravando a cada dia.
   Esse mundo de aparências e de possibilidades trazem inúmeras dúvidas. Qual o melhor caminho a seguir? Qual a sua vocação? Vale a pena escrever poesia?
    As situações se sucedem de um modo nem um pouco lírico ou romantizado. Até mesmo testemunhar um parto não transmite nenhuma sensação maternal ou de afeto. É uma cena meio grotesca e sem sentido.
As escolhas das outras pessoas sempre possuem um caráter de estupidez, de falta de sentido, adquirindo, no máximo, um caráter  simplesmente tosco. A vida é uma sucessão de acontecimentos que parecem não levar a lugar algum.
   O resultado de tudo isso é que, ao retornar para casa, Esther sente-se completamente perdida e sem rumo. O péssimo relacionamento com sua mãe agrava ainda mais a situação. Então ocorrem as diversas tentativas de suicídio, sempre difíceis ou meio ridículas.
   Passando por mais de uma clínica psiquiátrica, a melhora da personagem é uma incógnita.  Houve mesmo recuperação?  A resposta é bem duvidosa.
   Inicialmente promissora, a trajetória de Esther desanda rapidamente em direção ao abismo, de onde, pressentimos, não há retorno. Em 1963 a autora cometeu suicídio, encerrando tragicamente uma vida tão atormentada quanto a de seu alter ego. 
 
   
 

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Moledro (2)


Apanhar a pedra
é devolvê-la
ao que poderia ter sido,
é imprimir trajetória
nos territórios do sentido,
tocar piano mudo
e música só de ouvido, expiar toda memória
no intestino do esquecido,
expirar qualquer história
após tê-la construído,
renegar nome e glória
para acolher só o perdido.

(foto: Google imagens)

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Moledro


Apanhar a pedra
é devolvê-la
em rito e resgate,
acúmulo
de ato e retiro
que acrescenta e reparte
o espólio de opaco e estrela
no coração do contraste,
gesto de inscrevê-la
nos domínios do bruto e da arte. 

(foto: Google imagens)

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Internacional




Fui selecionado e participo desta antologia publicada na Índia.
São 360 poemas de  360 poetas ao redor do mundo.
Represento o Brasil.

sábado, 15 de junho de 2019

Resenha


   Seguindo  as releituras, desta vez escolhi o romance Sob O Sol de Satã, de Georges Bernanos, um livro importante de um autor católico, que aborda o tema do mal e da salvação.
    Trata-se da narrativa da trajetória do abade Donissan, homem simples, com dificuldades para compreender as finezas do pensamento teológico e para fazer os seus sermões, pois expressar-se bem não é o seu ponto forte. Mas é o abade que se tornará o santo de Lumbres. E seu objetivo é salvar as pessoas, os fieis mergulhados no pecado, no vício, na luxúria, na ganância. 
   Recebendo o dom de enxergar as profundezas da alma humana, Donissan sofre. Não ter paz é o peso a carregar por toda sua vida. Ele consegue perceber o jogo impiedoso de Satã, carregando sempre almas para si. As pessoas comuns simplesmente caem em suas garras com a maior facilidade. Seu ódio, explica o narrador, dirige-se aos santos, capazes de resistirem aos seus apelos. 
    Donissan está disposto a sacrificar sua própria salvação em benefício dos outros. E esta é a missão dos padres e dos santos, conforme o ponto de vista de Bernanos. Enfrentar o mal a atravessar milênios, sempre perverso, é uma tarefa assombrosa, causadora de grande sofrimento. Com inúmeros riscos e tentações, diga-se de passagem.
    Tendo outros padres como personagens, nos deparamos com o abade Menou-Segrais, que optou pela comodidade e acompanha as dificuldades e limitações de Donissan, mas é capaz de reconhecer a santidade dele. Diferente do cura de Luzarnes, cético, envolvido momentaneamente pela atmosfera mística e pela possibilidade de um milagre. No entanto, sua entrega é passageira, causando ressentimento e retornando à sua postura anterior de ceticismo.
   O maior contraponto de Donissan é o intelectual Antoine Saint-Marin, inteiramente cínico e desiludido, cuja velhice é atormentada pelo medo da morte. Vendo a si mesmo como um grande farsante, copiado pelas novas gerações de escritores, tenta encontrar algo onde se apoiar, um refúgio ou consolo diante da possibilidade do fim iminente.  Sua presença concluirá a história de modo marcante. E o seu encontro com Donissan nos causa grande impacto.
   Francamente não sei o quanto Bernanos é lido hoje em dia, nesta época de modismos, de consumismo e hedonismo. Estou convicto, porém, que sua obra continua sendo fundamental.
 

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Microcontos

Casamento Sologâmico 1
A dificuldade sempre surgia na hora de Discutir a Relação.

Casamento Sologâmico 2
Uma semana depois cometeu adultério.

Casamento Sologâmico 3
Três dias depois pediu o divórcio.

(imagem : Google).