sábado, 15 de junho de 2019

Resenha


   Seguindo  as releituras, desta vez escolhi o romance Sob O Sol de Satã, de Georges Bernanos, um livro importante de um autor católico, que aborda o tema do mal e da salvação.
    Trata-se da narrativa da trajetória do abade Donissan, homem simples, com dificuldades para compreender as finezas do pensamento teológico e para fazer os seus sermões, pois expressar-se bem não é o seu ponto forte. Mas é o abade que se tornará o santo de Lumbres. E seu objetivo é salvar as pessoas, os fieis mergulhados no pecado, no vício, na luxúria, na ganância. 
   Recebendo o dom de enxergar as profundezas da alma humana, Donissan sofre. Não ter paz é o peso a carregar por toda sua vida. Ele consegue perceber o jogo impiedoso de Satã, carregando sempre almas para si. As pessoas comuns simplesmente caem em suas garras com a maior facilidade. Seu ódio, explica o narrador, dirige-se aos santos, capazes de resistirem aos seus apelos. 
    Donissan está disposto a sacrificar sua própria salvação em benefício dos outros. E esta é a missão dos padres e dos santos, conforme o ponto de vista de Bernanos. Enfrentar o mal a atravessar milênios, sempre perverso, é uma tarefa assombrosa, causadora de grande sofrimento. Com inúmeros riscos e tentações, diga-se de passagem.
    Tendo outros padres como personagens, nos deparamos com o abade Menou-Segrais, que optou pela comodidade e acompanha as dificuldades e limitações de Donissan, mas é capaz de reconhecer a santidade dele. Diferente do cura de Luzarnes, cético, envolvido momentaneamente pela atmosfera mística e pela possibilidade de um milagre. No entanto, sua entrega é passageira, causando ressentimento e retornando à sua postura anterior de ceticismo.
   O maior contraponto de Donissan é o intelectual Antoine Saint-Marin, inteiramente cínico e desiludido, cuja velhice é atormentada pelo medo da morte. Vendo a si mesmo como um grande farsante, copiado pelas novas gerações de escritores, tenta encontrar algo onde se apoiar, um refúgio ou consolo diante da possibilidade do fim iminente.  Sua presença concluirá a história de modo marcante. E o seu encontro com Donissan nos causa grande impacto.
   Francamente não sei o quanto Bernanos é lido hoje em dia, nesta época de modismos, de consumismo e hedonismo. Estou convicto, porém, que sua obra continua sendo fundamental.
 

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