segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Vísceras


Crueldade
à vista e à prazo,
para todos os gostos,
oferecendo,de modo suculento,
as vísceras do mundo,
suas dores e aromas,
seus cancros e cuspes.

Tudo está dito,
falou alguém
antes de fechar a última página.

O mundo sangra
e não cessa.


sábado, 28 de outubro de 2017

Labirintos


São muitos
os nomes do medo,
maiores são
os tons da tristeza.
Vida é vínculo
e aliteração,
tempo é fragmento
e presteza.
Emaranhados
sempre desnudam
a precariedade
das certezas.

(Arte de Cleber Pacheco)

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Cuidado; Frágil


Frágil é a forma,
seus recônditos de beleza,
sua insanidade.

Mais frágil
é o instante
que se quebra
agudo e seco,
desfeito
em gestos insepultos.

Exstir
se consuma
na liquefação
dos pontos de fuga.

( foto: Cleber Pacheco)

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Díspares


Cibernético e arcaico
se abraçam,se cospem
em mútua adoração,
num rejeitar-se descontínuo,
ramificar
onde o oblíquo
se encontra:
desfazer quimeras, criar monstros,
o fortuito parindo
idênticas desigualdades.

(Foto: Cleber Pacheco- Sombra de uma parabólica incidindo sobre antiga carreta)


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Clarice


Sabes
os sentidos do mistério,
perpétuo enigma,
decifração de tumbas,
pulsação do túmido.
Vives
sempre
em todas as coisas,
mesmo as não anunciadas
e destituídas,
as mais exóticas e banais.
Agora
teu silêncio
é só um detalhe
a ser inscrito
na vibração do vivo.

(foto de Clarice Lispector- Google imagens)

sábado, 21 de outubro de 2017

Tempo



Este não é um tempo
de recatos,de amenidades,
 tempo isento de
 fineza e sobriedade,
gasto,roído,estilhaço
de penúria e cólera,
 tempo de cingir  rins e ranger  dentes,
tempo de naufrágio
sem ilhas,
 de irrisão e ruína
a vasculhar escombros
na brutalidade do agora.

(imagem: Google)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Vislumbre


 Nem dia ou noite,
nem luz e treva,
distensão de enigmas
a se entrecruzarem
na abside do instante.

Furor do insidioso
no que não tem norma,
lapso de agora
em desonras de sol e lua.

Entreato,
vínculo do que de tudo
foi desvinculado
em ferocidade de clavícula exposta,
fulgor do opaco
nos descaminhos do íntimo.

(foto: Cleber Pacheco)

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Frágil



Tudo
se esboroa,
cai,
fenece.

Todo dia
é dia
de morrer.

(foto: Cleber Pacheco)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

BRUTO


Não bruta é a pedra,
o seixo,mais bruto
é o homem em suas artes de besta,
mais bruta é sua verve
calcinada de veneno,
sua honra espúria,
sua insaciedade de sangue,
mais bruta é a viuvez
da delicadeza em fragilidade
de fio.
Rara é a pedra,
ainda que não lapidada,
em sua aspereza e  crua saliência,
reavivando as ranhuras do corpo
estiolado nas agruras do instinto,
em fragilidade e nudez irrestrita
diante da desumanidade do humano.

(foto: Google)

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Árido

 Pode,o árido, ter a sua sina,
embriaguez seca de modos,
fatalidade de discernimento,
sem calor ou brasa ou sumo,
capaz ainda de reverter
o avesso à sua face,
criar raiz e entrave nas frestas
do mundo.
Aridez,
um outro oásis de possíveis.

(foto: Cleber Pacheco)

sábado, 14 de outubro de 2017

AUTOR CONVIDADO



   TIAGO PAREDES nasceu em Valpaços, Portugal.  Atualmente está terminando o Curso de Programação de Sistemas Informáticos . A sua grande paixão é a literatura.


Receita para uma vida inspira a luz que te oculta expira a escuridão que te ilumina ofusca os que pensam elevar-se mostrando que entre os homens não existem vales nem tampouco colinas bebe das estrelas que o tempo calcou explode na imensidão do silêncio que pesa faz-te lua colado à planície dos mares e descobre em ti a natureza que por lá navega

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Efêmero


Desfazer-se
é próprio das coisas inconclusas:
o inacabado tende a despir
as carcaças do abandono
em vestimenta de osso e treva.

É próprio dos acabamentos
a busca pelo destituído,
nutrir de chão sem solo
e céu sem firmamento,
fossilizar de vapor em âmbar.

Restituir
é só um modo
de reiterar a redundância
do ausente.

(foto: Cleber Pacheco)

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Saber


Saber
é mais do que modo
ou estar em contato.

Saber
é tornar-se
a coisa,
não só olhá-la ou vê-la.

Saber
é mergulho
e corrente.

Voragem
que assombra e expande.

Saber
não é culto,
é fluxo.

(imagem : Google)

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Salto


Dar o salto
que se desconhece,
onde não se sabe
em que se investe,
pulo,
forja,
ir adiante,
repensar
de escuro
mesmo sem antes,
depois desvestido
em recesso e espanto,
esculpir de fio
em tessitura de abismo,
medo tecido no encanto.

(foto: Google)

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Arte


Obre de arte
é a vida,
o instante,
é o que vibra
em foco e sentido,
revelação a nutrir
todos os espaços.

Arte,
a agonia e o êxtase
de existir e ser
na varredura dos quadrantes.

(imagem: pintura de Alexandre Brun)

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Mundo


Profano
é o mundo
em sua avidez.

Cegos e tolos
a arder
em vão.

Vida:
misto de Eclesiastes, Gênesis e Apocalipse.

(Foto: A Sagrada Família- Gaudí- Google).

domingo, 1 de outubro de 2017

Fadiga


Limites, êxodos,
circunscrições e circunferências,
âmbitos que se desfazem,
repovoam,
recuam.

Momento
de esgotar-se
em limo,em agonia,em dano,
espírito carcomido
de amplitude e fastio.

Exaurir
de acúmulos
no retinir dos desatinos.

(foto: google imagens)