quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Quadrantes


Todos os crimes
já foram cometidas.

A morte se reinventa,
também o vivo.

Dormir e despertar,
tubos de ensaio.

Todas as estranhezas
cabem
no mero existir.

(foto: Cleber Pacheco)

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Antologia no Canadá



   Alguns poemas curtos de minha autoria que estão no livro ON THE WORDS OF LOVE, publicado no Canadá:

LOVE

I sit under
the sun
without clouds
and seeds germinates
on the rocks
with tenderness.

TYPHOON

My eyes filter
your breeze
and a brainstorm is born
in my calm.

LOVERS

You are my reader.
I am your masterpiece.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Carta a Jorge Luis Borges



                                                                                                           Amigo.

   Bem sei que não mais você próprio  lê as suas cartas, mas estou ciente de que possui quem as leia, traduzindo cada sinal, sílaba  e palavra em sons e que poderá, assim, convertê-los em imagens suas,  muito particulares, com peculiaridades somente possíveis às suas idiossincrasias e, uma vez tendo feito isso, esta minha carta simplesmente deixará de existir, transmutada em indefiníveis hieróglifos e arcaicas escrituras, incompreensíveis  aos outros, todavia perfeitamente  claras apenas para si mesmo.
   Sei,portanto, que esta carta perderá por completo o sentido para mim, nunca tendo obtido significado algum para o ser intermediário que a lerá para você e que Adolfo terá alquimicamente  transmigrado para Borges.
   Isso quer dizer o seguinte: esta carta não existe , portanto jamais poderá ser lida por alguém,  ou seja, nunca a receberá, obrigando-me,enfim, a tentar escrevê-la. Caso contrário,  acabaria por tornanr-me um sonho de Borges.
                                                                                   Atenciosamente,

                                                                                 Adolfo Bioy Casares.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Resenha


 
   Reler é tão importante quanto ler. E posso afirmar que, neste caso, depois de anos, foi uma sábia decisão pegar este livro da minha biblioteca e mergulhar em suas páginas mais uma vez.
   Com praticamente apenas três personagens conduzindo a história, Carson McCullers consegue, em A Sócia do Casamento ( The Member of the Wedding), criar um mundo intenso, em que as conversas entre Frankie, Berenice e o pequeno John Henry na cozinha nas tardes de verão refletem suas angústias, inquietações, experiências, limitações, sentimentos. São cenas de grande intensidade, reveladoras e nos tocam de modo profundo.
   A adolescente Frankie, sentindo-se deslocada, sozinha, deseja ardentemente pertencer a algo, a alguém, fazer parte do mundo, de um grupo e,em suas ilusões um tanto ingênuas, acredita que seu irmão, prestes a se casar, a levará para morar junto com o novo casal. Mal ela sabe o golpe a ser sofrido em seus planos.
      Eles são o nós de mim. Na véspera, e em todos os doze anos de sua vida, fora apenas Frankie. Era uma pessoa eu. que tinha de se virar e fazer as coisas sozinha. Todas as outras pessoas tinham um nós a reivindicar, todas, menos ela. (...) Todos os sócios dos clubes  têm um nós a que pertencem, e a respeito do qual falam. Os soldados no exército podem dizer nós e até mesmo os criminosos,acorrentados uns aos outros. Mas a velha Frankie não tinha nenhum nós a reivindicar, a menos que fosse o terrível nós de seu verão com John Henry e Berenice-e  aquele era o último nós do mundo que desejava.
   Na primeira parte do livro, ela faz seus planos. Na segunda, vive suas "aventuras" pela cidade contando a estranhos sua partida iminente. Subdividida em três momentos- manhã, tarde e noite-, é um dos pontos altos do romance. As expectativas da adolescente vão se intensificando e ela se mete em confusões. Há trechos espetaculares, construídos graças ao grande talento da autora e o ponto alto do livro é o instante em que a jovem Frankie senta-se no colo de Berenice, que é também abraçada pelo menino e há um instante de grande desamparo, de tristeza, de estranhamento do mundo e da vida, onde tudo parece hostil, distante e enigmático e todos buscam o mais próximo possível  de um acolhimento. Poderia soar piegas,mas não acontece. A cena nos comove por sua intensa humanidade, pelo revelar das fragilidades e da nossa humana condição.
   A terceira parte ocorre rapidamente, como um anticlímax e os fatos, anteriormente se desenrolando de modo lento e angustiante, sucedem-se em profusão até o final desconcertante.
   A Sócia do Casamento é, sem dúvida, um ótimo livro e merece nossa leitura e atenção. Escreveu Tenessee Williams a respeito da autora:
    Encontrei em seu trabalho uma intensidade e uma nobreza de espírito que não tínhamos em nossa prosa desde Herman Melville.
 
     

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Tradução



   O poema a seguir é de autoria de Elizabeth Esguerra Castillo e Jonathan Aquino.
   Elizabeth é escritora das Filipinas, publicada e premiada internacionalmente. Ela é membro da American Authors Association, Asia Pacific Writers and Translators, etc.
   Jonathan também é das Filipinas e tem livros e artigos publicados em sites, jornais e revistas. Escreve peças, ensaios, histórias.


SINAIS

Elizabeth:
sinais vindos dos céus
pedindo a Deus clemência
nos gritos de um'alma esbelta,condenada
ecos atravessando a noite negra como um trompete,
como os ritmos do jazz, saxofone solitário
driblando através das orelhas do amado.

Jonathan:
Borrifou-me o mar  ao sentar-me sobre a rocha,
tirei meus sapatos, enrolei meu jeans,
sentindo-me grato pela chance de conversar,
só, com Deus, a fonte do meu ser.

Elizabeth:
símbolos semelhantes a mãos
apontando a direção certa,saindo do nada,
uma nova fronteira, onde o homem abraça o amanhã,
e alguns  apenas olham-
e continuam andando em círculos
enquanto outros adentram as portas de novos horizontes.

Jonathan:
Contei-Lhe tudo, tudo o que passei,
enquanto olhava meu amado mar,
pedindo sabedoria  além daquilo que conheci
e soube: Ele realmente se importa comigo.

Elizabeth:
minha bela borboleta-
aquela que trouxe sol ao meu jardim.

metamorfose-
o fim de todo sofrimento
esperado por todos-

o fim da minha velha vida-
indo pacificamente
atravessando  a estrada para
a eternidade.

Jonathan:
Todas as minhas preces são,agora, agradecimentos.
Não peço favores, digo apenas obrigado 
pelas lições aprendidas e todas as bençãos ,
mas sobre aquela rocha pedi algo novo.

Elizabeth:
Amo o cativante arco-íris
e preferiria banquetear meus olhos em seu esplendor,
encantadores matizes como as estações mutantes
da vida  de alguém-
um sinal de esperança de novas coisas por vir.

Eu te amo

Jonathan:
Durante o tempo sagrado quis um sinal:
uma ave voando da esquerda para a direita  sobre mim.
Sua trajetória a dizer: Tudo ficará bem. 
Demorou um minuto.
Levou só um minuto, ainda assim mudei por completo.

(foto Google)
  


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Conhecimento



Redimensionar mundos
em novas órbitas
e diferentes hemisférios
é mais que projetar lunetas,
reconfigurar geometrias,
é esculpir o som do silêncio
nas crostas do impensado,
é abrir  o olho ocluso
dilatando a pupila do entendimento,
num ver que desonera
circunferência e curvatura,
retina a desinstalar o real,
pétala que desconfigura
a anatomia da flor,
arte de rastrear o raro
em singular vocabulário,
pedra de toque do abismo
na quadratura do círculo,
constelação de buracos negros
na gematria do Cosmos.

(tofo: Google imagens)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Vertical



Estridente algazarra
de felinos no telhado.

Sob o teto,
arrastar de sussurros.

(foto: Cleber Pacheco)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A Arte Alquímica


Cada elemento
ou seu conjunto
traça um traço,
menos que um terço,
então dissolve,
embora ressalve,
o seu tributo,
farto rebento
e o recupera
sem apara
em novo dote,
ainda que acate
jeito antigo
em oposto âmago,
carne da sombra,
vulto da Obra,
feto do arcaico,
ancião do proteico,
ostra lacrada
em vastidão cerzida,
vingar da pérola
no antro da pedra.