quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Carta a Jorge Luis Borges



                                                                                                           Amigo.

   Bem sei que não mais você próprio  lê as suas cartas, mas estou ciente de que possui quem as leia, traduzindo cada sinal, sílaba  e palavra em sons e que poderá, assim, convertê-los em imagens suas,  muito particulares, com peculiaridades somente possíveis às suas idiossincrasias e, uma vez tendo feito isso, esta minha carta simplesmente deixará de existir, transmutada em indefiníveis hieróglifos e arcaicas escrituras, incompreensíveis  aos outros, todavia perfeitamente  claras apenas para si mesmo.
   Sei,portanto, que esta carta perderá por completo o sentido para mim, nunca tendo obtido significado algum para o ser intermediário que a lerá para você e que Adolfo terá alquimicamente  transmigrado para Borges.
   Isso quer dizer o seguinte: esta carta não existe , portanto jamais poderá ser lida por alguém,  ou seja, nunca a receberá, obrigando-me,enfim, a tentar escrevê-la. Caso contrário,  acabaria por tornanr-me um sonho de Borges.
                                                                                   Atenciosamente,

                                                                                 Adolfo Bioy Casares.

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