Resenha
Li o romance A Náusea, de Jean Paul Sartre quando cursava o terceiro ano de Letras. Teve um grande impacto para mim. E agora releio o livro com um olhar muito mais experiente, é claro.
Nitidamente o livro é uma expressão de sua filosofia existencialista. Escrito de modo brilhante, sem dúvida. Há uma crítica ao modo de vida burguês, ao humanismo, ao socialismo, à filosofia de Nietzsche e a uma cultura que pode ser, paradoxalmente, alienante e ridícula.
Antoine Roquentin é um indivíduo, imerso em solidão. Não faz parte do grupo, do rebanho, da sociedade. Isolado de tudo e de todos, mantém um olhar cético em relação a tudo o que cerca. A náusea que o acomete em determinados momentos vai se acentuando até a tomada de consciência: a vida não tem sentido, o mundo não tem sentido. As pessoas repetem rituais vazios para se protegerem disso. Não suportam olhar a verdade nua e crua. A humanidade cria e vive uma farsa para esconder essa terrível verdade de si mesma. Viver é contingência: estar presente. |Nada mais.
Aos poucos, os tênues elementos de sustentação da vida do personagem se desfazem: os momentos de convivência constrangedora com o Autodidata, a antiga relação com Anny, os encontros sexuais com a patroa do Rendez-vous des Cheminots desabam implacavelmente não restando nada além da solidão e da percepção da pura existência. Sequer a tentativa de escrever uma biografia do marquês de Rollebon vai adiante. Não resta nada onde se agarrar . Não há como escapar. Roquentin tem de encarar a si mesmo e a realidade.
Isso tudo poderia levar a um final que mergulhasse no mais mais completo desespero. Mas a última audição de uma canção de jazz revela uma tênue possibilidade a Roquentin de criar um sentido para sua existência: escrever não uma biografia mas um texto literário, um romance. Não se trata de uma redenção e, sim, criar a capacidade de evocar sua vida sem repugnância.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial