quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O GATO E O MAR

     Na janela,o gato vê o mar.Ronrona e namora,quer a água como amor.Não sabe o que são ondas,apenas está afoito.Chegar até a praia é o seu grande desejo.
     Salta para a rua,atravessa-a,chega até o cobiçado local.
     O namoro principia.
     Nunca ninguém viu coisa igual.Um gato pela praia não é de todo dia.Passam pessoas,passeiam pelas calçadas,nenhuma só presta atenção em tão inesperado acontecimento:um gato apaixonado pelo mar.
   Água e felino não combinam,creem todos.Jamais viria à cabeça de quem quer que fosse semelhante pensamento:um gato apaixonar-se pelo mar.
     Ninguém vira o rosto para observar o gato a  rondar o inquieto líquido.Mas ali está ele,todo à espreita,à espera de uma distração,de um descuido das ondas.Talvez dê o bote.É que ele sonda as águas.E não compreende.
    Com o inesperado encontrou-se:uma coisa que balança suavemente e o chama para si.
    Vem comigo,dizem as ondas,vem.
     Difícil resistir.
     Resistente,ao invés de ser encantado,quer encantá-las.
    Também sei pular,diz.E salta para frente em exibição.
     Um estranho bailado se faz presente:o do gato que não só não quer render-se ao mar,como também pretende rendê-lo.E o do mar,igual em quase tudo,só mais largo,mais tentador.
     Difícil saber qual o movimento mais poderoso.Um,cheio de manha.O outro,vasto.
Um tentando vencer pela agilidade.O outro,pela grandeza.
     Duelo perigoso,onde os dois atacam,se exibem,tentadores e hábeis.Cada qual mais cheio de encantos.
     Eu consigo,sussurra o mar.
    Consigo eu,insiste o gato.
     Bailado e duelo plenos de beleza e susto.
     Homens e mulheres continuam seu passeio,nada percebem.Parecem tão preocupados.
    Enquanto isso,do inesperado beijo,do bailado e da embate nasce o inesperado:um ronronar-marulhar ou um marulhar-ronronar.
     Somente eles poderiam entender o significado de tal diálogo.
     Irrompendo em claridade,em tudo interferindo,surge,entre bicho e imensidão aquosa,no exato meio,o sol:
    Não sei o que pretendem vocês,interrompe.
     Meio atônitos,ambos olham para cima.É o gato que responde,insolente:
      Não te interessa.
     Estamos testando quem vai vencer,explicou o mar.
     Está na hora de resolverem esta situação,esclareceu o sol.
     Ali embaixo,cada um pensa que teria sido melhor se aquele intrometido não tivesse vindo dar ordens.
     Precisam,agora,encontrar uma rápida saída.
     Recua,em ondas,o mar.
     Para casa vai o gato.
     O sol,meio aborrecido,recolhe-se atrás de uma nuvem.
     Da janela o gato mira o mar e mia.
     Na praia,retorna a água e murmura.
     Mesmo à distância,o namoro prossegue.
     A vidraça através da qual os dois se enxergam,dirige-se a eles,compreensiva:
     Sim,sim,podem ficar à vontade.

( Minha história O Gato e o Mar foi traduzida para o inglês e publicada nos estados Unidos) 


(FOTO: Cleber Pacheco) 

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