ERAS GEOLÓGICAS
Há muitas maneiras de se ocupar o tempo e de explorá-lo,disse o pesquisador chefe da equipe
arqueológica,explicando para a comunidade o resultado parcial dos trabalhos.
Três anos fazendo escavações demandavam
grande esforço e dedicação.Nenhuma medida fora poupada para alcançar êxito.Nada
parecia difícil o suficiente para impedir a realização de tão importante
empreendimento.Qualquer dedicação parecia pouca diante da grandeza do projeto.
Na
camada mais profunda,continuou ele,encontramos
nada mais nada menos do que um antigo cemitério indígena.Ossadas em excelente
estado de conservação envoltas em esteiras de palha, juntamente com alguns
artefatos feitos por esses povos nos ajudarão a conhecer e compreender melhor a
vida e as crenças dos nativos que aqui viveram há muitos anos atrás.
Na camada seguinte ,encontramos os restos mortais dos antigos coronéis e
de suas senhorinhas,pessoas distintas que organizavam e comandavam a então
pequena vila.Pela grandeza das antigas tumbas será possível investigar seus
usos e costumes.
Por fim,na camada mais próxima à superfície,encontramos,segundo os
exames realizados,apenas cadáveres de bêbados,drogados e prostitutas.De modo
que nos deteremos em investigar tão somente as épocas passadas,pois esta última
descoberta não nos apresenta nenhum interesse.
Após os
esclarecimentos obtidos durante a palestra,as pessoas do lugar voltaram para
suas casas dando sequência aos seus hábitos de mexericos,reuniões no boteco e
despachos na encruzilhada quando absolutamente necessários.
Já os pesquisadores continuaram o seu
heróico trabalho. Levaram o resto de suas vidas estudando os
antepassados:alimentação,vestuário,ritos,doenças.Recolhiam potes de cerâmica e
colares,véus para cobrir a cabeça durante as missas e dentes de ouro.
Os encarregados de registrar tudo gastaram
anos preenchendo formulários e fazendo arquivos minuciosos das descobertas
realizadas.Afinal a memória era algo precioso e a história não deveria ser perdida a fim de que se
pudesse compreender melhor os meandros da alma humana.
Já o pintor pós-modernista,inspirado naquilo
tudo,não teve a menor dúvida ao realizar a sua obra:tascou um borrão preto numa
tela em branco.
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