sexta-feira, 31 de março de 2017

Vislumbre


A arte do provisório,
impermanência,
avultando o precário,
delineando o instante,
revivendo o morrer
de cada dia,
indícios,desfazimentos
que ecoam.
Viver
o fluxo a nutrir
esperas,nuncas,
revolvendo
as especiarias do efêmero,
flor do volátil
desabrochando
nos jardins carcomidos
do agora.

(foto: Cleber Pacheco)


quinta-feira, 30 de março de 2017

Autor Convidado


   Claudia Manzolillo é do Rio de Janeiro, licenciada em Letras pela UFRJ, especialista em Educação e Mestre em Literatura Brasileira.  Revisora de textos. Participou de antologias poéticas como Blasfêmeas: Mulheres de Palavras. Publicou seu primeiro livro de contos A Dona das Palavras pela editora Penalux que foi premiado em 2016 pela União Brasileira de Escritores.

PERTENCIMENTO

Não tenho Taj Mahal
mas tenho um mar abissal
esse me pertence
e ninguém me rouba
queria brincar
de raso
café com pão
arroz e feijão
mas meu sonho é ouro
é outro
só eu sei
e nada mais

.


PINTURA

o ritual se prolongava desde sempre
os três passos
os potes,as poções,os corretivos
todo aquele tempo investido
em enganar o tempo
mas o tempo não se engana
um sinal a mais
esfregou para ver se saía
a dobra do tempo na face magra
uma escavação na órbita,
um desvão no seio,
um canal lacrimal entre as pernas
nada que a lembrasse do rio
caudaloso das horas de gozo
apenas o batom no espelho
escreveu a última cena
da atriz sem papel na vida
assim um the end
em sangue escorreu
num teatro vazio.



DIÁLOGO

Trava-se o diálogo inédito
a fera, a pegada pesada,
a flor,purpúreo adorno
das águas turvas,
quentes e estagnadas.

Lá, a flor,
convite ao deleite narcísico.

Lá,a fera,
espantada diante do inusitado
ser boiante.

Nada a fazer
fera e flor,
naturezas distintas
do mesmo Criador.



quarta-feira, 29 de março de 2017

Segredo



Converso com a árvore
e com a sombra da ave
a escorrer na relva..
Converso ainda
com a pilha de tijolos ao sol
e com o portão coberto de musgo

As histórias que contamos
uns aos outros
 permanecerão ignoradas .
enquanto houver alguém
 capaz de indagação.


(foto: Cleber Pacheco) .
.

terça-feira, 28 de março de 2017

Fruto-Furto


O fruto agoniza
no mar de mortos,
indícios
do que poderia ser
ou do que nunca será,
porta que abre
inutilmente.
Respiração
entre garras ofertando
o infértil,
vago estertor
de sementes em solo seco.
Furto.

(foto: Cleber Pacheco)

segunda-feira, 27 de março de 2017

Resenha


ADMIRÁVEL MUNDO NOVO de Aldous Huxley


   Estes primeiros anos do século XXI são a própria distopia.Então este é o momento certo para ler todos os livros a respeito do tema que ainda não foram lidos. E é exatamente isso que estou fazendo. Para começar,nada melhor do que o famoso romance de Huxley Admirável Mundo Novo. 
   Por algum motivo o livro havia me escapado e quando encontrei um exemplar não tive dúvidas: comecei a lê-lo imediatamente.
   Num futuro baseado no prazer e na felicidade, os seres humanos são condicionados emocional e intelectualmente para que uma aparente harmonia evite conflitos,sofrimentos e o pensamento. Os seres humanos são fabricados em castas e nelas vivem sem questionar,sem raciocínios perigosos e indesejáveis ao Sistema. Para evitar o sofrimento existe o soma que deve ser ingerido diariamente. A literatura foi banida assim como a filosofia.  O único a ler Shakespeare é um selvagem, a versão de Huxley de Caliban,personagem de A Tempestade escrita por,evidentemente,Shakespeare. Até mesmo a ciência está sob controle para servir aos interesses do Sistema.
   Há apenas um arremedo de religião. Agora o mundo se divide em antes e depois de Ford e não mais antes e depois de Cristo.
   O mundo criado pelo autor se assemelha muito ao nosso. As maiorias preferem não pensar, adoram o prazer fácil,vivem de modo gregário e aceitam as coisas como elas lhes foram impostas,uma vez que são condicionadas terrivelmente. Ou seja,o livro não envelheceu: está mais atual do que nunca.
   Trata-se de um romance indispensável,crítico e contestador,um final impactante,muito distante,por exemplo,  dos filmes de ficção científica ruins que têm sido realizados nos últimos anos.
 
 
  

sábado, 25 de março de 2017

Tradução


   Arne Torneck é de Toronto,Canadá. Graduado com honras no Emily Carr College of Art and Design. Produziu transmissões de rádio de entrevistas na Toronto Subway line.  Atualmente escreve vinte e quatro horas por dia.
   Fiz traduções livres de alguns Haiku escritos por ele.


INSPIRADOR

Construindo ninhos de palavras
poetas fazem travessia
tragicamente tristes


SUSPENSÃO

Névoa de primavera perplexa
entre matar os croci *
ou semear as nuvens

(Croci- do latim crocum, crocus,croci:  estame amarelo de algumas flores).



PEIXE EM ÁGUA SECA

Boca garganta osso seco
luta para cair em fundo sono
peixe em água seca

sexta-feira, 24 de março de 2017

Ilha


Não é utópica minha ilha,
apenas local de repouso,
fissura nas ondas estreitas
 que fecundam e cortam
águas.É,em verdade,
porção de terra anímica
e remota, justamente escolhida
pela falta de importância.
Perda de tempo avistá-la
ou vasculhar seus meandros,
é possível apenas acolhê-la
e permitir que aconteça,
 despida
de adornos e feita
para os expatriados do mundo.

(pintura: acrílico sobre tela de Cleber Pacheco)








quinta-feira, 23 de março de 2017

Azul


O céu suspira nuvens,
cumpre hiatos
entre os intervalos
da matéria,
mas nunca argumenta.

Pode-se pintar
sem azul? sem azul
não há pintura
nem evento,
tudo só seria um modo
de se desmentir por dentro.

Celeste é o anseio
que adormece
o mundo
em sua vivissecção
de osso e pedras.

(foto: Cleber Pacheco)

quarta-feira, 22 de março de 2017

História


A criança brinca
com o seixo,
o seixo contém
toda a história do mundo,
 a crua verve primitiva,
o alicerce dos impérios.
A criança brinca
e seu brincar contém
 a força motriz
do movimento ancestral,
todas as possibilidades do humano.
A criança e o seixo
convergem
como convergem vida e morte
no encontro de carne e nous 
no primeiro alento
e no instante do último sopro.

(foto: Cleber Pacheco)


segunda-feira, 20 de março de 2017

Novo Gênesis



Minhas mãos ainda sangram
enquanto vou modelando o barro,
na alma de Adão vou vertendo
vísceras de limo e lodo
de onde nascerá Caim.

(foto: Cleber Pacheco)




domingo, 19 de março de 2017

Avesso


Luz e sombra
no enigma dos avessos
atando imposturas
modeladas no impalpável,
intersecções desniveladas
nas aparas do oblíquo.
Fantasma sem lençol
vagando nas assombrações
do real, istmo
abraçando entornos
em catarses de vômito.
Jogo que imita
 versificação dos contornos
em sinapses sem fonemas,
construção de alicerces
nas aparas das fronteiras.
Tudo é eclipse
na exumação do vivo.

(foto: Cleber Pacheco)


sexta-feira, 17 de março de 2017

Mundo Novo


Vasculho
a paisagem buscando
árvores que não sejam mortas,
aves que não estejam feridas,
nuvens que não sejam negras.

Nada a declarar,
revelam
ramos secos,partidas pedras,
fungos carcomendo ocos.

Na desolação
do novo ritmo do mundo,
agoniza-se a cada instante,
cada instante é prenúncio
de miséria sem comiseração.

(foto: Cleber Pacheco)




quinta-feira, 16 de março de 2017

Vista



A janela redesenha o mundo
em sua translucidez
quase neutra, foco e decalque
de paisagens que se esvaem
em rupturas de pálpebras.
O mundo se desmente
a cada instante,revestido
com as cores do transitório.
Interior que se externa
na ambiguidade das composições.
Vidro a polir
as incongruências do existente.

(Foto: Cleber Pacheco)

quarta-feira, 15 de março de 2017

RESENHA

INTERSECÇÕES (Em 4 tempos)
Por Krishnamurti Góes dos Anjos
TEMPO 1
A magia da linguagem e o prazer que ela nos oferece quando aliada a uma história muito bem urdida. Esta é a grata surpresa que Cleber Pacheco nos oferece em seu novo livro de ficção INTERSECÇÕES (Editora Penalux, Guaratinguetá – SP, 2016. 94p.). Difícil a classificação quanto ao gênero adotado. Uma prosa poética que se poderia classificar como Novela? Fabula? Romance? ou Contos de fadas? Não deixa de ter um pouco de tudo, muito bem dosado, diga-se, para criar uma narrativa surpreendente, porque originalísssima. Difícil a classificação. E o leitor pego de surpresa ante a habilidade do autor em lidar com a linguagem também não se preocupa com isto. Para quê? Vejamos apenas trechos:
“Está escuro. Há uma bruma que aos poucos vai se dissolvendo”...
“Isto é o alvorecer. Há uma flor e uma rocha. Ambas em silêncio. Após a escuridão, surge um vulto logo à frente: é ele. Ele se sentou sobre a calçada de pedras tortas e amarelas. Dilataram-se suas pupilas e árvores latas torrões e cactos foram todos fluindo para dentro e ali morreram afogados.
Ela está aqui, ela veio. Com suas tripas, suas córneas, seus dentes. Procura a chave. Pode estar debaixo de algum tapete ou sobre o vidro. Sabe apenas que está nalgum canto escondida”.
TEMPO 2 As Sintaxes
Entretanto não nos enganemos, nada é gratuito na estrutura narrativa proposta, não há fabulações ingênuas. Os capítulos alternam-se em contar a história e o que vem logo após cada um deles leva sempre o sugestivo título de Sintaxe (parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem), mas também, como que um significado ampliado do que acabou de ser dito. E nessa ampliação novas propostas e novos artifícios linguísticos se não aprofundam significados, os contornam para direções insuspeitadas, significados que se bifurcam, se ramificam. Exatamente como a vida é, uma surpresa, uma mudança de rumo, uma novidade a cada momento...

TEMPO 3
Uma grande metáfora é proposta. A flor e a pedra (a compulsão e o tato), Margarida e Pedro, desde a infância, de descoberta em descoberta, descobrem-se um ao outro. Seres que se encontram....
“Agora ela diz seu nome. Margarida. Baixa um quase nada as pálpebras e vai levantando-as devagar”.... “Ele vai debulhando a rocha vai deixando pedregulho cascalho. Ele, o menino chamado Pedro”. A “Sintaxe’ deste capítulo é mais um exemplo da capacidade de síntese do autor ao versar, ou versejar o encontro:
“Gostaria de me tornar poliglota.
Preciso conhecer o abecedário.
Criei neologismos.
Inventarei a roda”.

TEMPO 4
“Ela vê o rapaz. Ele vê a moça. Olhos. Eles.
Olham-se e juntos vão subindo, lentamente, os degraus. Giram a maçaneta. Abrem a porta. Há uma certa penumbra. Mover-se de cortinas. Ranger de dobradiças. Em breve adentrarão o recinto. Descobrirão suas entranhas. A porta devagar se move. Eppur si muove”. (frase que segundo a tradição Galileu Galilei pronunciou depois de renegar a visão heliocêntrica do mundo perante o tribunal da Inquisição). E finalmente os capítulos “Dragão e Obelisco”, e “Rosa e Diamante”, e.... só lendo!
Raríssimo momento de encantamento na literatura brasileira contemporânea, que anda eivada de dores, sofrimentos, desamor, violências e desencontros de toda sorte. Entretanto, há na existência, um valor máximo que é este. O ‘encontro’ com o outro. Pedras que se batem se atritam e se lapidam (eu disse se lapidam e não se estraçalham, fazer-se em pedaços com fúria, porque essa escolha, essa prerrogativa, é dada unicamente à espécie humana). Este nosso caminho, esta a nossa sina. A ideia fundamental, assim nos pareceu, que Cleber Pacheco nos lembra com suavidade e doçura. É assim e assim será sempre, nem que para isto tenhamos que lidar com flores azuis de plástico e potes de vidros com brilhos de diamante que as conterão. Com efeito, um livro que nos reconduz ao prazer da leitura num ritmo ágil, nos faz pensar, nos prende e nos faz ler vorazmente para chegar ao belíssimo desfecho. Realmente um achado! Merece nosso caloroso aplauso e leitura atenta!
Livro: Intersecções – Ficção, de Cleber Pacheco. Editora Penalux, Guaratinguetá – SP, 2016. 94p.
ISBN 978-85-5833-108-1





   

segunda-feira, 13 de março de 2017

Resenha



SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO de William Shakespeare

   Mais uma tradução em língua portuguesa de Sonho de Uma Noite de Verão de W. Shakespeare, desta vez realizada por  Beatriz Viégas-Faria e publicada pela L&PM.
   Trata-se de um trabalho que busca preservar o estilo do autor e,ao mesmo tempo,tornar a linguagem mais próxima de nosso tempo. Em geral, o resultado ficou interessante.
   Aqui o bardo inglês recorre,como em Hamlet, ao recurso de colocar uma peça representada dentro da peça. Além,é claro, de ser,neste caso,uma comédia a respeito das relações amorosas, o que elas têm de ilusório, de cômico e dramático.Ou melhor, o tema é abordado em suas diversas nuances, num jogo completo de luz e sombra,incluindo a fantasia,o ciúme,o desejo,etc.
   Com extrema habilidade e maestria Shakespeare aborda o relacionamento amoroso de modo amplo,mas sempre explorando a comicidade das situações, além de utilizar o poético com suas fadas e duendes que acabam por causar as confusões presentes no enredo e o aspecto onírico, realçando a delicadeza do tema.
   
   Os  amantes e os loucos têm cérebros tão fervilhantes,fantasias tão imaginativas,que acabam por conceber  mais do que a fria razão pode  compreender. O lunático,o amante  e o poeta são compostos tão somente de imaginação.
   

domingo, 12 de março de 2017

Quietude


A cada dia
menos palavras,
menos escrita,
a cada instante
meno suspiros
ou pulsações.
Retirar-se
em sigilo
é uma arte
que nem só
ocultistas cultivam,
recolher-se
é algo
que também aprendi.
Em vez de idolatrar
exuberância
de flores,
aprecio a veneração
 à espontaneidade
do musgo
soletrando
a idoneidade da pedra.

(foto: Google imagens)

sexta-feira, 10 de março de 2017

Brilho



Silenciei,um a um,
 todos os instrumentos.
Cortei as cordas
dos teclados,
apaguei as notas
da composição.

Nem ruído ou música,
apenas a insistente
voz do vazio
ecoando nas cavidades do nada.

Sei lustrar
os móveis muito bem.
O tampo do piano esmagando
as teclas
agora brilha no escuro.

)togo: Google imagens)

quarta-feira, 8 de março de 2017

Outra Escrita


É hora de tirar os sapatos
e escrever poemas que ardem
na sola dos pés, queimam
peles,incendeiam a terra,
perfuram carnes e anunciam
lesões,fraturas ,internações
em manicômios.
É preciso dilacerar os pés,
sujá-los o mais que puder,
afundá-los nas catacumbas da terra
Basta de plantar pó e pedras
no deserto dos mortos

(imagem:  Google)

.


terça-feira, 7 de março de 2017

A Arte da Presença


O opaco encontra
o calro,
depois descentra
o
zero,

deslocamento
que declara
o espanto
da espera,

desencontro
em linha reta,
encanto
em linha torta,

novo foco chegando,
outro eco
partindo.


segunda-feira, 6 de março de 2017

Resenha



A ABADIA DE  NORTHANGER

   A Abadia de Northager foi o primeiro romance escrito por Jane Austen. Trata-se de uma paródia dos romances góticos que estavam tão em voga em sua época,especialmente Os Mistérios de Udolpho, de Ann Radcliffe.
   O texto é bastante crítico e cômico e os personagens por certo diferem muito dos estereótipos aos quais o leitor estava então acostumado. A heroína, Catherine Morland, não é espetacularmente dotada de beleza, talento ou inteligência. Um tanto ingênua,mas sincera e sem malícia, anseia por viver uma aventura repleta de mistérios e perigos. Ao contrário disso, sua vida tem poucos acontecimentos e todos eles muito comuns: quando enfim sai  do meio rural , consegue fazer  alguns passeios,ir a bailes e visitar amigas. Nada que qualquer outra jovem de sua idade não estivesse habituada a realizar.
   A sra. Allen,com quem ela convive em Bath é totalmente desprovida de cérebro. Sua única preocupação é com os vestidos. Não tem nenhuma opinião própria. O sr. Thorpe, o primeiro a interessar-se por ela, é um gabola que vive contando vantagens a respeito de seus feitos imaginários.Não passa,no entanto,de um interesseiro. A sua amiga Isabella é totalmente dissimulada e hipócrita,incapaz de um gesto verdadeiro,além de leviana. A autora não é nem um pouco condescendente com a hipocrisia social que soube observar e retratar tão bem.
    O único acontecimento extraordinário é quando recebe o convite para ir passar uma temporada na Abadia de Northanger,com a srta. Tilney,uma amiga verdadeira e seu irmão,por quem Catherine nutre amor sincero.
    Ansiando por imitar o livro de Ann Radcliffe, a protagonista vê na Abadia a possibilidade de entrar em contato com um ambiente obscuro e misterioso. Suas fantasias levam-na a criar situações imaginárias que logo são desmentidas uma a uma implacavelmente. Com isso, acaba por efetuar um processo de amadurecimento até compreender que a vida tem suas próprias exigências e é importante estarmos atentos a elas.
   Uma leitura agradável e divertida, que torna possível compreendermos a evolução da escrita de Jane Austen,que,com humor mais sofisticado,nos legou entre outros livros, sua obra-prima Orgulho e Preconceito. 
 

 

sábado, 4 de março de 2017

FLUIDO


A água,quando flui,
ao sólido responde
e,excluindo-o,inclui
o sóbrio que o esconde.

Inundando a matéria
torna-se precisa,
recusando-se a ser séria
é que contabiliza.

A tudo invadindo
com zelosa sanha,
prefere,ao insípido,
cometer barganha.

Roubando o alheio,
revela sua astúcia,
dividindo,sem receio,
a menor minúcia.

(imagem: pintura de Tom Thomson)
[

sexta-feira, 3 de março de 2017

Geômetras



   Enquanto o xamã vai preparando a Roda da Medicina, o monge tibetano vai traçando a Mandala , o artista engendra a rosácea da catedral de Chartres e os Elohins desenham os círculos concêntricos do Cosmos.

(imagem: Google)

quinta-feira, 2 de março de 2017

Resenha


SOBRE A LEITURA

    O prefácio escrito por Marcel Proust intitulado  Sobre a Leitura acabou por ganhar autonomia,ou seja, tornou-se uma publicação com vida própria. No Brasil foi publicado pela editora L&PM e contém ainda um depoimento de Céleste Albaret ,a governanta de Proust durante os seus últimos dez anos de vida.
    O autor inicia evocando as leituras de infância e no seu estilo meticuloso,vai ampliando o alcance do tema, abordando a questão da leitura como uma forma de amizade:

   Na leitura a amizade é subitamente devolvida à sua pureza original . 

   Além desta ideia central, o famoso escritor defende a leitura como um modo de nos retirar da inércia espiritual e auxiliar aqueles que,de outro modo,não conseguiriam encontrar nenhum estímulo para buscar,por si mesmos,a verdade, a vivência espiritual.

    Enquanto a leitura for para nós a iniciadora cujas chaves mágicas abrem no fundo de nós mesmos  a porta de moradas em que não conseguiríamos  penetrar,seu papel em nossa vida será salutar.

   Além disso, comenta a respeito dos intelectuais, dos clássicos e,até mesmo,dos perigos que a leitura pode representar.
   O depoimento de Céleste  vem a seguir e reaviva em nós a admiração por Proust,bem como nos oferece uma visão de como ele viveu em reclusão,sofrendo com as crises de asma, seus caprichos e sofrimentos diante da saúde frágil.
    A única coisa que lamentamos é o fato de o livro ser tão pequeno.Ficamos com vontade de saber maiores detalhes.Mas isso podemos encontrar em sua pródiga obra Em Busca do Tempo Perdido, que é um dos monumentos da Literatura Universal.