terça-feira, 31 de março de 2015

Das Peculiaridades do Sublime

A dança do guerreiro antes de sua morte.
O Sermão da Flor de Buda.
 O homem na cruz gritando " Pai, por que me abandonaste ?" 
O poeta diante do Mistério.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Poema: SOL

A irrecuperável
estranheza
dos besouros
dilacera
o cerne da infância.

Ogros intrusos
na delicada relva
trincando
a pequenez dos ouvidos.

Rumo ao sol,
o escaravelho rola
o coração do pesadelo.

quinta-feira, 26 de março de 2015

OLHOS

Às vezes os olhos estão trincados
e creem que os espelhos são estranhos.

Às vezes espelhos revelam imagens
ocultando contornos.

As vozes dos cegos ressoam
e conduzem a reinos inesperados.



quarta-feira, 25 de março de 2015

VER

 Não olhei
os teus olhos,
somente
tuas pálpebras.

Não olhei
luz que havia neles,
só a paisagem
contemplada.

Nem olhei
o horizonte
circunspecto
à minha frente.

Só havia
margens
para erros
e pupilas dilatadas.

(Google imagens)


terça-feira, 24 de março de 2015

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE

  Estamos vivendo uma inversão de valores ainda mais completa e complexa do que aquela descrita por Hesíodo no seu poema Os Trabalhos e os Dias.
 Há muito estamos distantes do Pacto das Flores. O maquiavelismo de hoje é mais profundo. O Contrato Social de Rousseau foi violado. Quem deveria trazer a ordem estabelece o caos. O protetor tornou-se o agressor.
    O Estado é o primeiro a violar suas próprias leis. O rei não protege mais ninguém dos bárbaros. O rei É o bárbaro.A Ciência nunca foi neutra. E nem busca só o conhecimento. Agora é apenas tecnologia a serviço das empresas.A Religião abandona o Sagrado para tornar-se meio de ludibriar para obter lucro. Quando não prega o ódio. Ou seja, Estado, Ciência e Religião estão se tornando não apenas o oposto do que deveriam ser, mas simulacro.
   O século XXI parece estar substituindo séculos de tentativa de civilização pela pura e simples barbárie.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Poema: DOADORES DE OSSOS

Doei
todos os meus ossos,
dissolveram-se
as carnes,
num beijo líquido,
no ventre da terra.

Se ossos tivesse,
outro seria o beijo,
mas continuaria,
a terra,
a parir
 seus amores fúnebres.

domingo, 22 de março de 2015

NOVO LIVRO

    Em breve estará à venda o meu novo livro de poesia: ARTE RUPESTRE. Do primitivo ao cósmico, a poesia em todos os quadrantes. A existência em todas as suas manifestações.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Poema: Sombras

Sobre
o solo,
doppelganger
nos abisma
e observa
avisando
que  a luz da lua
é só o reflexo
do sol.

(  Foto de Cleber Pacheco)

segunda-feira, 16 de março de 2015

A ARTE DA ESCRITA

        A arte da escrita é paradoxal.  O escritor é pai e mãe de sua obra. No entanto, de um certo modo, o livro nasce por partenogênese, tem vida própria.
       Escrever é um ato de sacrifício e de iluminação. Exige trabalho e entrega ao mesmo tempo. É mental e vai além da mente.
       É preciso estar inteiramente num livro para que ele ganhe existência.  Um mergulho nas profundezas do mar sem fim.  E no entanto, é preciso ausentar-se para que o livro venha à tona. Entre presença e ausência, a obra nasce.
   Um escritor é um ser ambivalente. Para realmente ser, é aquele que se torna criador e criatura ao mesmo tempo. Ele executa e é fruto do trabalho.
   A escrita é um modo de construir desconstruindo, de reinventar e explorar, de partir do conhecido para o desconhecido e realizar descobertas.
    Escrever é morrer para poder nascer. A arte da escrita é o trânsito entre a vida e a morte. É uma afirmação da existência.

  ( Google imagens)
   

sábado, 14 de março de 2015

ORIGINALIDADE

Estavam vazias
as tuas mãos,
nuas de espanto.
 Nada havia nelas
a não ser
veias e calos.
Nada pediam,
apenas mostravam
envoltas
em nudez
simples de ossos
sob
 pele.
Esculpidas,
únicas,
reverberavam
os sentidos
da tua singularidade.

(Google imagens)

quarta-feira, 11 de março de 2015

A CIDADE DO SOL de Khaled Hosseini

   O romance A Cidade do Sol de Khaled Hosseini ( A Thousand Splendid Suns) é um livro que tem momentos marcantes e intensos.
     A Parte I que narra a infância da personagem Mariam consegue retratar muito bem a desolação e a solidão de uma menina rejeitada pela sociedade. Conseguimos visualizar e sentir aquele mundo nada idílico de uma vida extremamente dura e difícil.
    A personagem Laila é outro lado desta história . Um pouco mais amena no início,esta outra vida vai passando por uma série de situações até que ocorre o encontro entre as duas mulheres sofridas numa cidade caótica,em contínua destruição e violência.Uma violência que ocorre tanto no âmbito doméstico quanto num país devastado pela guerra.
   O autor nos revela situações de conflito e sofrimento que parecem ultrapassar os limites do suportável. E no entanto sabemos que não se trata de mera ficção. Os problemas existem e,atualmente,parecem se alastrar cada vez mais devido ao avanço do extremismo.Os conflitos aparentemente são de ordem religiosa.Mas sabemos que todas as guerras possuem uma motivação econômica.
     Uma leitura dolorosa e interessante ao mesmo tempo.
 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Conto: COMPAIXÃO

O reino de M. mantém costumes singulares.Um deles diz respeito  aos condenados à morte. Após a sentença,durante dez dias o condenado deve ter uma vida de sultão,com direito a todos os prazeres possíveis e imagináveis.
   O caso do jovem N. foi ainda mais singular.
   Feio e sem atrativos,decidiram que os melhores cirurgiões o transformariam num deus da beleza antes de morrer.Após inúmeras tentativas,o único resultado que obtiveram foi o  de tê-lo desfigurado,transformando-o num monstro. Diante disso,suspenderam a sentença,permitindo que vivesse livremente como aberração.
   O jovem N.,chorando,implora que o deixem morrer.

sábado, 7 de março de 2015

Conto: PARALELAS

Ninguém sabe ao certo de quem foi a ideia. Ao ouvirem a respeito do projeto,os habitantes ficaram incrédulos. Foi somente quando viram com os próprios olhos que se convenceram da sua. veracidade.Era uma cópia fiel da Catedral de C. Mesmo assim mantiveram a atitude cética. Quem iria se dar o trabalho de ir conhecer uma reprodução quando o original ficava ali logo ao lado ? Bastava realizar a travessia da ponte  para admirar a arte inigualável da catedral verdadeira. Grande , o assombro, ao constatarem que  os viajantes foram gradativamente desaparecendo. Nenhum amante da arquitetura e da arte tornou a colocar os pés no local. Todos dirigiam-se diretamente para a cidade ao lado ver a cópia  e quedavam-se diante dela,extasiados. Eles próprios passaram a duvidar da existência do arquiteto que concebera o projeto original. Então o sacerdote partiu.

sexta-feira, 6 de março de 2015

IDENTIDADE

Quando a ave
alça voo,
como ave acontece,
o insólito abandona,
mas nada a desmerece.

A ave,se aérea,
vai em busca de si mesma,
é menos que matéria,
mais que avantesma.

O voo da ave,
tornado êxtase,
não é vera chave
da sua ênfase,
mas recusar-se avis rara
para tornar-se clara.

( Google imagens)

terça-feira, 3 de março de 2015

ISSO

Sem jejum e milagre,
lucro ou perda,
sem nenhum alarde
estende-se o dia.

Ninguém o persegue,
nem ele transborda,
se algo acontece
é que mais reto se torna.

Não há contundência
ou genealogia,
é apenas a hora
em que ele respira.