segunda-feira, 11 de agosto de 2025
terça-feira, 5 de agosto de 2025
quarta-feira, 30 de julho de 2025
Círculos
sexta-feira, 25 de julho de 2025
Peixes
sexta-feira, 11 de julho de 2025
quarta-feira, 18 de junho de 2025
O gato e o mar
Na janela,o gato vê o mar.Ronrona e namora,quer a água
como amor.Não sabe o que são ondas,apenas está afoito.Chegar até a praia é o
seu grande desejo.
Salta para
a rua,atravessa-a,chega até o cobiçado local.
O namoro
principia.
Nunca
ninguém viu coisa igual.Um gato pela praia não é de todo dia.Passam
pessoas,passeiam pelas calçadas,nenhuma só presta atenção em tão inesperado
acontecimento:um gato apaixonado pelo mar.
Água e felino
não combinam,creem todos.Jamais viria à cabeça de quem quer que fosse
semelhante pensamento:um gato apaixonar-se pelo mar.
Ninguém
vira o rosto para observar o gato a rondar o inquieto líquido.Mas ali está
ele,todo à espreita,à espera de uma distração,de um descuido das ondas.Talvez
dê o bote.É que ele sonda as águas.E não compreende.
Com o
inesperado encontrou-se:uma coisa que balança suavemente e o chama para si.
Vem comigo,dizem as ondas,vem.
Difícil resistir.
Resistente,ao invés de ser encantado,quer encantá-las.
Também sei pular,diz.E salta para frente
em exibição.
Um estranho
bailado se faz presente:o do gato que não só não quer render-se ao mar,como
também pretende rendê-lo.E o do mar,igual em quase tudo,só mais largo,mais
tentador.
Difícil
saber qual o movimento mais poderoso.Um,cheio de manha.O outro,vasto.
Um tentando vencer pela agilidade.O outro,pela
grandeza.
Duelo
perigoso,onde os dois atacam,se exibem,tentadores e hábeis.Cada qual mais cheio
de encantos.
Eu consigo,sussurra o mar.
Consigo eu,insiste o gato.
Bailado e
duelo plenos de beleza e susto.
Homens e
mulheres continuam seu passeio,nada percebem.Parecem tão preocupados.
Enquanto
isso,do inesperado beijo,do bailado e da embate nasce o inesperado:um
ronronar-marulhar ou um marulhar-ronronar.
Somente
eles poderiam entender o significado de tal diálogo.
Irrompendo
em claridade,em tudo interferindo,surge,entre bicho e imensidão aquosa,no exato
meio,o sol:
Não sei o que pretendem vocês,interrompe.
Meio
atônitos,ambos olham para cima.É o gato que responde,insolente:
Não te interessa.
Estamos testando quem vai vencer,explicou
o mar.
Está na hora de resolverem esta situação,esclareceu
o sol.
Ali
embaixo,cada um pensa que teria sido melhor se aquele intrometido não tivesse
vindo dar ordens.
Precisam,agora,encontrar uma rápida saída.
Recua,em
ondas,o mar.
Para casa
vai o gato.
O sol,meio
aborrecido,recolhe-se atrás de uma nuvem.
Da janela o
gato mira o mar e mia.
Na
praia,retorna a água e murmura.
Mesmo à
distância,o namoro prossegue.
A vidraça
através da qual os dois se enxergam,dirige-se a eles,compreensiva:
Sim,sim,podem ficar à vontade.
sábado, 14 de junho de 2025
Erínias
segunda-feira, 2 de junho de 2025
Autor Convidado
Doutor em Teoria e História Literária pela
UNICAMP, Luciano Marcos Dias Cavalcanti é autor de vários livros de ensaios e
estudos dedicados à literatura e à música popular brasileira, especialmente à
poesia e aos poetas, dos quais se destacam: Orfeu, Prometeu e as Musas:
mito e poesia em Murilo Mendes (2025), Chico Buarque,
intérprete do Brasil (2024), Poesia, o que é e para que
serve? (2021), Poesia e transcendência na lírica de Jorge de
Lima (2019), Emílio Moura: o poeta em busca do incognoscível (2017)
e Metamorfoses de Orfeu: a “utopia” poética na lírica final de Jorge de
Lima (2015). Tem dois livros de poemas publicados: Instantâneos
do cotidiano (2020) e Aporia (2023).
Por que razão
resolveu ir para o mar?
Resolveu
ir para o mar.
Partiu
de sua ilha,
num
nevoeiro espesso.
Não
temia o uivo do vento,
ser
castigado pela fúria da tempestade,
ser
tragado pelas ondas do oceano.
Montanhas
de água erguiam-se e quebravam-se.
O
mastro arqueava, a água subia no convés,
a
embarcação sacolejava.
As
tormentas eram permanentes,
incidentes
inexplicáveis ocorriam,
ataques
de selvagens de estranhas tezes tatuadas.
Seguiu viagem, em busca de maravilhas
levado pela corrente marítima,
deparou, amiúde, com o comércio de almas.
Não se amparou na luz de nenhum farol.
Não encontrou nenhuma ilha bem-afortunada,
para ancorar seu barco combalido, à deriva.
Foi para o mar para afastar a ameaça do vazio,
aquele sentimento incômodo da vida ser
nada mais que um desperdício de dias.
Singrando
devagar um mar sonolento
–
mergulhado em sua melancolia –,
o
nauta atravessa o convés continuamente,
cada
extremo da embarcação.
Da
proa à popa,
mira
as águas a serem vencidas pela nau,
expande-se
no espaço;
despede-se
das águas escorrendo para trás,
consome-se
no tempo.
A
solidão é intolerável.
A
intensa concentração do eu
na
imensidão do mundo líquido
afoga
o infinito de sua alma
nas
profundezas do desconhecido.
O
mar é uma perene incógnita,
com
suas magníficas matizes de azul,
esconde traiçoeiramente temíveis criaturas.
Ao farol
“O
Farol era, então, uma torre prateada em meio à névoa, com um olho amarelo que
se abria rápida e suavemente à noite.” (Virgínia Woolf – Rumo ao Farol)
_
Enfim, vamos ao Farol?
_Após
tantas mortes?
O
que faremos lá?
Arriscaremos
extinguir nossas vidas
nos
atirando ao encontro de algum rochedo
nesse
mar bravio?
Muitos
se foram.
O
ambiente está empoeirado.
O
que resta é um pouco de luz verde-acinzentada
e
sombras perambulando pelas paredes.
O
faroleiro não deseja nossa companhia
com
jornais e revistas.
Não
quer que nossas ruínas entrem no seu lar
e
acabe com o encanto de sua solidão.
Prefere
ficar sozinho admirando o mar...
terça-feira, 6 de maio de 2025
quinta-feira, 6 de março de 2025
Poema em prosa
VERÃO
Insanas de calor, cigarras zumbem na tarde tórrida. Sobre flores pousando, borboletas sugam o núcleo da Terra. A vida vegeta na súbita eolização do nada. A tarde se dissolve no céu que não ousa esmaecer suas cores. É vitríolo o tempo que de se esgotar não cansa. Agora já podemos cerrar os olhos e incinerar a seiva do instante. A vida não cessa mesmo quando bizarra ou circunspecta.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Comentário
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Autor Convidado
Alessandra Del’Agnese é escritora, gastróloga, poetisa, declamadora e cronista gaúcha, com uma trajetória na literatura, percorrendo o Brasil e Portugal. Sua arte é a fusão entre palavras e sabores, onde a escrita e a gastronomia se entrelaçam em uma verdadeira alquimia sensorial. Inspirada pela vida e pela espiritualidade, transforma emoções em poesia e experiências em arte, encantando com sua sensibilidade e criatividade.
A Travessia
Caminhava entre sombras e luzes,
Onde a terra se desfaz em ecos de ontem,
E o amanhã se ergue como um véu dourado.
Vi almas que choravam seu próprio silêncio,
Presas no tempo que não volta,
Esquecidas do toque, da voz, do olhar.
Mas adiante, onde os olhos ardem de aurora,
Encontrei um caminho esculpido em fogo,
Onde o medo é apenas cinza ao vento.
Ali, entre murmúrios de estrelas e versos não ditos,
Descobri que o amor não se perde—
Ele espera, paciente, na eternidade.
E ao seguir, senti tua presença no ar,
Como um segredo sussurrado pela criação,
Um chamado suave que me guiava adiante.
Era teu nome que a luz desenhava no horizonte,
E nele, a promessa do infinito.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Amanheceres
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Danação
Não mais recolher
folhas e penas
caídas,
frutos esmagados
na polpa da terra,
não mais ingerir
o sangue das flores
que se mimetizam
em véu e crisálidas
na seiva do extático,
não mais a agonia
da flora que, imóvel,
se gesta
em inanição
pressuposta,
não mais o agreste
que se desdiz
no rumor catártico
da floresta,
só
o pássaro
que se despluma
e belisca
o orvalho
para, partenogênese
súbita,
encontrar
a si mesmo
em engenhosa selva ,
pássaro que se desmente
e se inventa,
em estertor e apocalipse,
na celestial
danação da primavera.
(Foto: Cleber Pacheco).
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Cordeiro Místico
domingo, 26 de janeiro de 2025
Cisnes



