Hoje publico o início de uma história no gênero fantasia. Espero que apreciem.Minha intenção é publicar dois trechos semanalmente,se houver interesse por parte dos leitores.
OS ANCIÃOS
CAPÍTULO 1
O antigo
povoado de Sadira tinha como marco
central um Templo circular completamente abandonado. Assemelhava-se a uma
torre de doze andares inteiramente escavada na rocha. Como o restante das obras
realizadas pelos habitantes locais, era de cor ocre, com a diferença que as
moradias encontravam-se ocupadas por famílias e ali ninguém ousava entrar há
muito tempo ,diziam. Apesar de impressionante e ainda apresentar muitas de suas
características originais, causando grande impacto por sua imponência e beleza,
estava decadente e esquecido. Em vez de motivo de orgulho e ambiente de culto,
tornara-se, na verdade, um estorvo. Nenhum morador prestava-lhe a menor
atenção. Havia quem criticasse as dimensões e até mesmo a presença de algo tão
extravagante justo no meio do lugarejo e havia também aqueles que afirmavam ser
um antro amaldiçoado repleto de velhos espectros. O fato é que, por diversos
motivos, ele jazia inerte como um corpo morto e inútil, uma carcaça hostilizada
por todos.
Ao surgir, o Grande Sol sobre ele incidia
diretamente, tornando-o ainda mais ocre, dotando-o de um assombroso aspecto,
realçando suas formas. Em tais momentos tornava-se impossível ignorá-lo,
exercendo um ma-cabro fascínio ao passante ou a quem, por acaso ou descuido, o
contemplasse.
Ao
redor, em espiral, distribuíam-se as habitações das famílias, sólidas,
retangulares, formando com ele um contraste.
Outro local marcante, mas totalmente em ruínas e de modo idêntico
relegado ao ostracismo, era a Biblioteca.Dividida
por colunas e formada por três alas distintas, guardava arcaicos manuscritos
condenados à deterioração e ao pó. Ao contrário do templo, ficava retirada, situando-se
na parte sul da cidadela, região igualmente evitada pelos moradores.
Diziam existir ali um milhão de escritos
decompondo-se sem piedade. Quem os produzira ou se dera o trabalho de
elaborá-los, nenhum homem ou mulher seria capaz de dizer. Por ter se tornado refúgio
de animais, a Biblioteca era considerada perigosa. Aliás, as informações a
respeito dela limitavam-se a isso. O conteúdo de tantos manuscritos era algo
solenemente ignorado. Se um viajante, por particulares motivos, passasse por
Sadira, sem dúvida ficaria espantado com mais aquele empreendi-mento “exótico”.
A desproporção do Templo e da Biblioteca com
o tamanho do lugar ficava visível. Poder-se-ia especular qual motivo levara
alguém – e neste caso, quem? - a preocupar-se em realizar tais construções num
ambiente insignificante e atrasado como
aquele. Parecia um completo despropósito, obra de um louco.
Não era tudo, porém.
Na ala norte ficavam As Cavernas, onde era proibido,sem exceções,
ir.
A leste, o Grande Vazio.
Restavam apenas, a oeste, As Plantações, onde
os filhos dirigiam-se a fim de levar o almoço aos homens, enquanto as esposas
cuidavam das tarefas de casa. Cabia aos jovens de até dezenove anos entregar o
alimento a cada pai ali presente. Desta idade em diante eram obrigados a iniciar
o aprendizado de como arar ,semear e
cuidar corretamente das plantações e da colheita ou das casas. Nenhuma outra
atividade existia além dessas. Cuidar da
alimentação e da moradia resumia a vida de todos os habitantes de Sadira.
Era para aquela direção que, poucos
instantes antes das doze horas, carregando a vasilha com comida preparada por
sua mãe, que ia Lelliah.
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