segunda-feira, 31 de maio de 2021

Antologia Poética Internacional


 

 Poema de minha autoria que faz parte do livro SIGNIFICANT ANTHOLOGY publicado  na Índia em 2015: 


GUEST
Sit down. You are my guest.
My house has many leaks
and a drop is always falling
over my head,
but you are my guest.
My furniture is completely broken
and chairs have only three legs,
but sit down.
You are my guest.
I have no food or water
to offer
and all my bills are unpaid,
but you are my guest.
The carpet is old
and it was eaten by moths
and my feet have many calluses,
but you are my guest.
My words were extinguished
and I had to sell the last dictionary
but sit down and talk ,
you are my guest.
As a matter of fact
I died three days ago
and my flesh begins to fade,
but sit down.
I have no other guest.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Poema inspirado em Shakespeare

 


Este poema de minha autoria foi selecionado e  FAZ PARTE do livro SHAKESPEARE SINGS publicado na Índia em 2017. A proposta era escrever poemas inspirados nas peças do autor. Escolhi uma das falas do Bobo e criei o poema: 

KING LEAR AND THE FOOL 

I opened an egg
in the middle,
dividing the whole
into halves .
I ate its core
and the heart
will be mine.
There remain
two halves
and it is necessary to find out
what to do with that which is not whole.
You peeled
the two halves
and nothing remains in the middle.
There is no more
heart
for your enjoyement
or to nourish you.
Now
we are spoils
and we lost the whole.
We can
only walk
in the middle of nowhere,
fool and king
trying to forget:
you, what you lost,
I, what I never found.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Antologia Internacional


 Poema de minha autoria faz parte desta antologia publicada nos Estados Unidos em 2015 e premiada.

THE FOOL
Bless my madness
But bless gently
With generous hands.
Fools have
Delicate skin
And bone pain
Bless many times
Without looking,
Bless without
Saying a word.
Fools listen
And sighted
So well
That they often
Donate eyes and ears
To ensure that sane
Can unravel
Universes.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Poema de Cruz e Sousa


 ALELUIA! ALELUIA! 


Dentre um cortejo de harpas e alaúdes
ó Arcanjo sereno, Arcanjo níveo,
baixas-te à terra, ao mundanal convívio...
Pois que a terra te ajude, e tu me ajudes.
Que tu me alentes nas batalhas rudes,
que me tragas a flor de um doce alívio
aos báratros, às brenhas, ao declívio
deste caminho de ânsias e ataúdes...
Já que desceste das regiões celestes,
nesse clarão flamívomo das vestes,
através dos troféus da Eternidade
traz-me a Luz, traz-me a Paz, traz-me a Esperança
para a minh'alma que de angústias cansa,
errando pelos claustros da Saudade!

domingo, 9 de maio de 2021

Carta de Baudelaire a sua mãe

 


Meu agradecimento ao amigo IVANES FREITAS que fez a tradução e permitiu a postagem do texto no translittera.                                                              

06 de Maio, 1861.
Minha querida mãe,
Se tu realmente possuis gênio materno e se ainda não estiveres cansada, vem a Paris, vem me ver, e procura-me, mesmo. Eu, por mil razões terríveis, não posso ir a Honfleur buscar aquilo que tanto desejo: um pouco de coragem e de carinho. No final de março, escrevi-te: 'não nos veremos mais!' Eu estava em uma daquelas crises em que vemos a terrível verdade. Eu daria qualquer coisa para passar alguns dias contigo.
Todas as vezes que pego de uma pena para expor-te minha situação, tenho medo; tenho medo de matar-te, de destruir teu frágil corpo. E estou, sem que tu suspeites, à beira do suicídio. Acredito que tu me amas apaixonadamente; com um espírito cego, tens um caráter tão grande! Eu te amei passionalmente em minha infância; mais tarde, sob a pressão de tuas injustiças, faltei-te com o respeito, como se uma injustiça materna pudesse autorizar o desrespeito filial; arrependi-me disto muitas vezes, apesar de nunca ter dito nada a respeito, como sempre. Não sou mais a criança e violenta. As longas meditações sobre o meu destino e sobre o teu caráter ajudaram-me a entender todos os meus defeitos e toda a tua generosidade. Mas, enfim, o mal está feito, feito por tuas imprudências e por minhas faltas. Fomos evidentemente destinados a amar um ao outro, a viver um para o outro, e acabar nossas vidas o mais honesto e docemente possível. E, no entanto, nas terríveis circunstâncias nas quais me encontro, estou convencido que um de nós dois acabará matando o outro, e que, finalmente, acabaremos nos matando reciprocamente. Depois de minha morte, tu não viverás, está claro. Eu sou o único objeto que te faz viver. Depois de tua morte, e sobretudo se morreres por um abalo causado por mim, eu me matarei, disto estou certo. Tua morte, da qual falas muitas vezes tão resignada, não corrigiria a minha situação em nada; o conselho judicial seria mantido (por que não seria?), nada seria pago e eu também teria dores, a terrível sensação de um isolamento absoluto. Eu, matar-me, que absurdo, não é?
Adeus! Estou exausto. Para entrar em detalhes sobre minha saúde: não tenho dormido nem comido há quase três dias; minha garganta está fechada. E é preciso trabalhar.
Não; não te disse adeus, pois espero tornar a ver-te. Oh, leia-me com bastante atenção, tenta compreender.
Eu sei que esta carta te afetará dolorosamente, mas certamente encontrarás nela um acento de doçura, de ternura, e mesmo de esperança, que tu nem sempre ouviste
E eu te amo.
C. B."

domingo, 2 de maio de 2021

Autor Convidado

 


1960 – Carolina – MA. jjLeandro (José Leandro Bezerra Júnior). Jornalista com graduação pela UFG (1983), autor de quatro livros: Quase Ave (IGL – 2002), Babaçulândia (Kelps – 2008), A morte no Bordado (Kelps – 2009), Memórias de Petelico (Kelps – 2011). Premiado como poeta inédito pelo Instituto Goiano do Livro com Quase Ave e duas vezes pela Fundação Cultural do Tocantins com os romances A morte no Bordado e Memórias de Petelico. Publicou com Edson Galo e José Francisco Concesso o livro de contos 3x4 – Três autores, quatro histórias, em 2013. Em 2020, junto com autores tocantinenses e de outros estados, participou da antologia da Editora Veloso (Gurupi), Ruas Vazias, cujos contos e poemas abordam a temática da pandemia do coronavírus. Participou de antologias literárias no Brasil. Tem perfil no Facebook (jjLeandro) e no Instagram (jjLeandro60). Mora em Araguaina – TO. 

                       


                         



Conto: A CEGA
Tereza, a cega, orgulhava-se do ouvido sensitivo que tinha. Há trinta anos trabalhava no patriarcal casarão da rua com mangueiras centenárias. Ia e vinha, de casa para o casarão e vice-versa com a habilidade de um morcego no voo. Desenvolvera ao longo desse tempo a infalível capacidade de reconhecer no soalho de ipê os passos de quem se aproximava de si. Se era seu Onofre, o patriarca irascível e mandão, os passos eram rudes e pesados. As tábuas rangiam como se fossem ceder ante tanta prepotência; se fosse dona Aurora, a patroa, o som nas tábuas tinha o timbre de beijos dados no rosto amado, eram leves e suaves; se fosse Ana, a filha impúbere, os passos miúdos e apressados vibravam como sinos no Natal; Pedro, o pirralho, tinha passos saltitantes de borrego no aprisco que arrancavam sorrisos de Tereza. É um, é outro, outro, ou outro, adivinhava Tereza, a cega, com o ouvido a aproximação de qualquer dos moradores da casa enquanto passava roupas conferindo com as mãos destras o tecido quente que perdia as rugas com o ferro de passar.

No dia que morreu, Tereza, a cega, distinguiu quem se aproximava e depois lhe desferiu a mortal facada que queimou mais seu peito que o ferro que ardia no tecido que seus dedos seguiam conferindo a eficiência da engomação. Os passos do assassino não tinham o timbre do beijo no rosto amado, não eram nem apressados e muídos, nem soavam como sinos de Natal; tampouco eram saltitantes como os de borrego no aprisco. Tereza morreu e, se isso a confortou, sentiu a sensação de que não fora traída.