domingo, 31 de agosto de 2014

FLUIDO

Sereno
é o rio
a ocultar
pedras e retalhos
no entalhe da correnteza.

Entre cortes e trapos,
mergulho e morro
na atroz calmaria.

No fundo,
os afogados,discretos,
 lançam-me
breve olhar de cumplicidade.

(arte de Cleber Pacheco)


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

REALIDADE

(NARRATIVA EXTRAÍDA DO LIVRO)

Um pintor.
A cada dia ele pinta um quadro.Sempre o mesmo motivo.
Terminando-o,vai até o porão.
Enterra-o.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

FRIO

Retirei
as meias e as luvas,
senti
o frio do solo
congelando as veias.

Imóvel,
o coração soluçou
por um momento
acatando,
a seguir,
o gelo em suas entranhas.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

CHAMA

O fogo,quando arde,
cria ruptura,
com o alarde
que o faz fissura.

Separando o separado,
descobre o intervalo,
inventa novo arado
sem terra e cavalo.

O campo que se estende
neste estranho cio
súbito acende
o vazio.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A VÍTIMA

Trecho do livro.Romance policial e de suspense.

"  Perigo,um grande perigo.
    Entendo preciso de detalhes.Tente manter a calma.
    É urgente.
    Certo.Mesmo assim precisa esclarecer melhor o que está acontecendo.
    Alguém de salvar a criança."

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A ARTE DA TAPEÇARIA

(poema extraído do livro)

Tramar o tapete
é para quem vê
fim e início
sem começo,
arte acabada
antes do esboço,
vidência de mão
em cegueira de fio,
descoberta do pronto
à medida que apronta,
trilha desfeita
na hora do olho,
redescoberta
de trama e trajeto.

contos recomendados

Faço aqui uma lista de grandes contos como sugestão de leitura (não necessariamente nesta ordem):

1- A História Imortal, de Isak Dinesen;
2- Greville Fane, de Henry James;
3- A Aula de Canto,de Katherine Mansfield;
4- A Biblioteca de Babel, de Jorge Luis Borges;
5- Onnagata, de Yukio Mishima.


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

VIVER

(poema publicado no livro PEQUENO TRATADO SOBRE O GRANDE NADA & OUTRAS INSIGNIFICÂNCIAS)

O miolo do limbo aquece
e fermenta estranho pão
cujo saber esquece
receita e intenção,
num desnutrir tão vivo,
que intensamente alimenta
o morrer mais esquivo
da memória que o sustenta,
o corpo só dando guarida
às veias de boca e mão,
mão que engravida
a linha que alinha o chão,
fenda gritando "Ativo
apenas aquilo que ausenta
e,florescendo,avivo,
saciedade que se desinventa."

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

UM POEMA DE LI PO

Você pergunta por que eu me isolo aqui na minha cabana na floresta ?
Eu apenas sorrio e nada digo,ouvindo o silêncio em minha alma.
Essa paz reside em outro mundo
Que ninguém conhece.

sábado, 16 de agosto de 2014

DESERTOS

 Foi queimado meu corpo
nos desertos de areia

Foi corroída minha alma
nos desertos de sal

A Morte saciará
minha sede
nos desertos de gelo.

(Imagem do Google)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

NIRVANA

Ali
onde o silêncio
cessa
som e sopro.

Ali
onde o nada
anula
o trágico.

Ali
onde o sono profundo
extingue
o sonho.

Ali
onde não há
lugar nem direção.

Ali
habito
sem nome
e me completo
ainda antes
do princípio
das coisas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

prosa e verso

Abelha é palavra;
colmeia,sintaxe.
Mel:poesia.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

FERRAMENTAS

Minha caixa se de ferramentas
é realmente útil

Saio
debaixo
dos escombros
e conserto
o gramado.

(Imagem do Google).


sábado, 9 de agosto de 2014

MORTE

Enquanto
vai roendo
a extrema-unção do instante,
a morte
 arranha
a vida.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

MEMÓRIA

A névoa
destila
o arquivo de imagens
do lago.

As nuvens
despejam
lascas de espelho
no museu da terra.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

CEMITÉRIO DE GÊNIOS

O mundo
tem talento
e perícia
para matar gênios.

Um cemitério de gênios
seria crucial.

Esqueletos silenciam
o suficiente
para que
sejam construídas
magníficas tumbas.

domingo, 3 de agosto de 2014

GENIALIDADE

Conheço
todas as mortes.
 Todos os dias
morro
com maestria.
Doei
os meus ossos
aos arqueólogos
E
minhas córneas
aos estetas.
Sei
que ninguém mais
consegue
decifrar
a anatomia da morte.
Ainda
assim
visito as tumbas
com reverência
sabendo que os mortos
são os gênios da raça.

(foto Cleber Pacheco)


sábado, 2 de agosto de 2014

TEMPO

A palavra
pregada na cruz
em escombros
é a voracidade
de Cronos
muito antes
do Ônfalos.

(foto de Cleber Pacheco)