sexta-feira, 30 de outubro de 2015

EXPLICAÇÃO

 Eu não inventei a morte,
a morte é que me inventou.

 Não assassinei o instante,
o instante é que cometeu suicídio.

 Não tenho um punhal nas mãos,
os dias é que foram fatiados.

(foto: Google imagens)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

DESPEDIDA

O bule está vazio;
a xícara,quebrada.

Limpem as prateleiras,
comprem louça nova.

Amanhã
ainda é hora do chá.

(Foto: Google imagens)

DESEJO ANTIGO

Aquela velha sempre olha
o meu pequeno vaso de flores.
Penso que ela constantemente
o cobiça
Quer colocá-lo na laje do marido,
herói de guerra,
quer verificar se um dia a flor nasce.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

REFUGIADOS (2)

Fronteiras cortam
peles e mundos,
fundam
duras travessias
ao redor do nada,
limites forjados
pelos arquitetos do medo.

Única é a verve
a conduzir o homem
pelos caminhos.
Que abertos estejam
para a fusão no Infinito.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Fronteiras

Cercas e cravos
rondam o aberto,
delimitam nomes
e caminhos.

Mais vale
o enigma da busca
a furtar da fronteira
o seu mapa.

Novas topografias surgem
na intersecção das esferas.

Sempre é longe
quando
viver se ultrapassa.

(foto:  Cleber Pacheco)

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Poesia e Preguiça

   Não, este não é um texto afirmando que o poeta é um ocioso. É um texto que fala a respeito da capacidade da poesia de salvar a nossa mente  do comodismo, da nossa percepção habitual do mundo.
   O mestre russo Gurdjieff elaborou o Eneagrama, um sistema completo de autoconhecimento e como item primordial do seu sistema está a Inércia, ou seja, uma concepção ampliada da Preguiça,um dos pecados capitais. É esta inércia que desencadeia todos os demais pecados,pois ela é a tendência de nossa  psique em se acomodar no já conhecido,no estabelecido, no sistema de crenças, nas estruturas mentais próprias do senso comum. Ela faz com que o ser humano fique preso a um círculo vicioso, apegando-o aos velhos hábitos e à percepção corriqueira de si mesmo e do real.
   Ora, a poesia pode nos libertar da inércia, trazendo uma abertura de percepção , dissolvendo as estruturas mentais comuns e fornecendo olhares e compreensões inovadores,originais,expandindo a compreensão a respeito da vida. Por isso mesmo,poesia é tão vital, essencial para o nosso desenvolvimento como seres humanos,  alimentando nossa capacidade criativa e libertadora.
   Isso nos lembra a proposta de Rimbaud de um poeta vidente que através das iluminações vislumbra uma realidade outra,de ir além dos sentidos e conseguir captar o Mistério e a Magia da Vida.
   A propósito, a aparente ociosidade do poeta é o seu trabalho.
   Sim,sim,poesia sempre.
 

domingo, 18 de outubro de 2015

VESTÍGIOS

Palavras,fórmulas,encantamentos
são desnecessários.
A vida foi impressa na areia.
A morte,fossilizada no silêncio.

(foto: Google imagens)

sábado, 17 de outubro de 2015

VOO

Mais uma dia e a casa estará pronta.
Mais uma hora e o jardim estará perfeito.
Mas as borboletas precisam voar agora.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Microconto: Adormecida

    Dormiu durante cem anos.Então o príncipe chegou e selou o encontro com um beijo. Ao despertar, a bela imediatamente se desintegrou, restando um punhado de cinzas pelo chão.

( imagem: Google )

terça-feira, 13 de outubro de 2015

FLORA

 Árvore da vida
 retendo
 seiva e raiz .

Nódoa no mapa
dos desatinos
do vivo.

Troféu
do impossível
na insensatez
da verossimilhança.

Carma vegetal
na infusão
da imobilidade.

Espírito
 encravado
 nos rizomas do tempo.

( foto: Cleber Pacheco)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Estações

São muitas
as estações,
breves
em sua contumácia,
intensas
em sua contundência,
são inúmeras
as estações
e não há provas
de seus rastros
 na retina dos ossos
Na casca
da velhice atroz
das horas,
o parto incessante
das eras.

( foto: Cleber Pacheco)

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

REFUGIADOS



  É vasto o mar,
  inúmeros os monstros
  que os distanciam de Ítaca.


  São muitos os Ulisses,
  e muitas mais
   as cicatrizes.

   Ainda haverá
   uma Nausícaa
   ou Penélope?

   Por ora restam
   os escombros de Troia.

(foto:  Google imagens)
 
 

domingo, 4 de outubro de 2015

Arte com Livros






sábado, 3 de outubro de 2015

Salão do Livro

   Foto do meu livro de crítica literária  A Arte Poética de Aricy Curvello no Segundo Salão do Livro de Nova York.  Dias 1 e 2 de outubro de 2015.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

POEMA ORGÂNICO

A vida tem dessas náuseas
que regurgitam ossos,
transmutam a textura da pele,
expelem pedras dos rins,
imprimem memórias
na tipografia das células,
nutrindo esquecimentos
nos estilhaços do instante.
A vida tem desses nódulos
gerados nos gânglios do medo,
desventrando os fetos da alma,
macerando os fósseis do nada.