segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Comentário

 




A escritora Cecília Kemel escreveu este belo texto a respeito do meu livro A Conversão da Pedra :
Virgínia: e quem lhe tem medo?
Mais uma vez, Cleber Pacheco escreve, para o mergulho abissal da alma de seus leitores, um romance áspero, sólido e multifacetado, talvez uma de suas produções mais complexas.
“A conversão da pedra” vem protagonizado pelo menino Walter, embora o foco narrativo esteja muito assentado no elemento feminino vivido pela prima Virgínia e sua sensibilidade exposta ao fundo de um forte instinto maternal. De modo que Walter se torna quase um coadjuvante nessa rede tecida com engenhoso labor.
À medida que a narrativa avança, o ritmo se acelera e o enredo se adensa, desafiando o leitor a perseguir a história nos detalhes. O desprezo do autor pelas estruturas tradicionais é, sempre e cada vez mais, um mérito à parte que faz com que o texto se abra a multiplicações interpretativas. Isso permite uma longa viagem que pode caminhar desde o embate entre os anseios masculinos e femininos até os desdobramentos mais íntimos e viscerais de cada ser, suas crenças, suas verdades, sua fé: a pedra humanizada.
Tudo isso, é evidente, e por se tratar de Cleber Pacheco, desenhado com lápis de mestre, em magistral conhecimento linguístico e refinada ourivesaria poética.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Autor Convidado

 



 Alessandra Del’Agnese é escritora, gastróloga, poetisa, declamadora e cronista gaúcha, com uma trajetória na literatura, percorrendo o Brasil e Portugal. Sua arte é a fusão entre palavras e sabores, onde a escrita e a gastronomia se entrelaçam em uma verdadeira alquimia sensorial. Inspirada pela vida e pela espiritualidade, transforma emoções em poesia e experiências em arte, encantando com sua sensibilidade e criatividade.

A Travessia

 

Caminhava entre sombras e luzes,

Onde a terra se desfaz em ecos de ontem,

E o amanhã se ergue como um véu dourado.

 

Vi almas que choravam seu próprio silêncio,

Presas no tempo que não volta,

Esquecidas do toque, da voz, do olhar.

 

Mas adiante, onde os olhos ardem de aurora,

Encontrei um caminho esculpido em fogo,

Onde o medo é apenas cinza ao vento.

 

Ali, entre murmúrios de estrelas e versos não ditos,

Descobri que o amor não se perde—

Ele espera, paciente, na eternidade.

 

E ao seguir, senti tua presença no ar,

Como um segredo sussurrado pela criação,

Um chamado suave que me guiava adiante.

 

Era teu nome que a luz desenhava no horizonte,

E nele, a promessa do infinito.

 


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Amanheceres

 


Pode, a manhã,
descamar
os fractais do dia,
expelir ,
com presteza,
luminosidades da tarde,
reverter
clamores ocultos
na treva.
Pode, a manhã,
ser indício
duma outra
manhã,
mas com mais
clareza, menos
virtudes ou
mais ousadia.
Pode, a manhã,
descascar
segredos do tempo
e fazer soar
as cordas do olvido.
Pode, a manhã,
vislumbrar
o eterno,
tornar-se resquício
doutro infinito.