sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Valsa

 



Há modos tantos
de inventar o vento:
flagrar a folha
em insana coreografia;
fecundar o embrião
da nuvem dissipada;
sorver o sopro,
expirar palavra,
imprimir o gesto
no corpo-ideograma.
Há muitos modos
de se ver o vento:
nenhum deles
dispensa o drama.
Há um modo outro
de convocar o vento:
revirar o olho
em seu avesso:
adormecê-lo cego ,
inspirar começo,
desmembrar de membrana
que voo alça,
e enfim curvar-se
à sua valsa.

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Oráculo

 



Sempre é tarde demais,

já foi dito.

Sempre é cedo demais,

sussurrou alguém.

Sempre é apenas 

um modo do Nunca,

foi insistentemente explicado.

Nunca é um modo

de acontecer desacontecendo.

Talvez só o talvez

tenha a exatidão necessária,

anuncia o Oráculo de Delfos. 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Resenha

 


RESENHA DO ESCRITOR FRANKLIN JORGE A RESPEITO DO MEU LIVRO ESCRITORAS INGLESAS: 

Escritoras Inglesas, de subtítulo De Mary Shelley a Ruth.Rendell [Editora Caravana, Ouro Prefo. 2024] nos proporciona uma leitura agradável e instrutiva, ao desvelar-nos de forma fluente o universo criativo de uma Plêiade de mulheres inteligentes e imaginativas que nos têm despertado a atenção e o interesse há gerações de leitores e e inquietos.
Seu autor, o polígrafo gaúcho Cleber Pacheco realiza uma obra que nos surpreende, delicia e nos faz pensar sobre um gênero que no curso do tempo tem-se enriquecido com novas aquisições e se mantido vivo e instigante.
Leitor acurado da obra alheia e, como tal atento às novidades, Cleber Pacheco amplia com a sua colaboração à Literatura Brasileira ao afirmar com esta obra breve e significativa a Cultura do nosso tempo

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Os Rishis de Aryavarta

 


Para quem tem olhos de ver
e ouvidos de ouvir
não há o Oculto.
Distantes dos cegos guiando
cegos, desvendam,
os rishis, os Arcanos do Cosmos,
leitura infindável
de um texto sem alfabetos.
capaz de eclipsar
a linguagem cifrada
da mais astuta Sibila ,
passagem pelo mais vibrante vivo
e o noturno mundo dos mortos.
Não há, para os rishis,
fronteiras a não ser o Insondável
onde reina, absoluto, o Indizível
e é desnecessária a memória,
Cosmos que continuamente se revela
sempre mais além de todo alcance
onde o Infindável se resolve
em infinito transcender-se
e até mesmo uma Rosa suspira ,
mesmerizada pela insana
lógica da Beleza.
( Rishis eram sábios da antiga Índia, videntes do Conhecimento .)

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Zen

 



Engana-se quem jura,
num jardim de areia,
não haver borboletas.
Encontram elas, nos grãos do tórrido,
as cismas do sóbrio
onde floresce o impossível.
Desafiam, com asas ingênuas,
os estertores do árido,
dele sorvendo a seiva
do que não teve batismo,
sequer terá um nome.