sexta-feira, 28 de junho de 2024

Geografia

 



Ali está a cadeira,
mais que cadeira,
nela você se sentava,
ali estão as árvores
onde seus olhos pousavam
e então quedavam-se, transfiguradas,
ali está o céu que nos protege,
nele havia mais
que nuvens e sol e horizonte
onde o mundo se perdia.
São todos lugares agora
mais estrangeiros, mais velados,
mais inóspitos, evasivos,
carcomidos todos pela geografia do silêncio.
A cadeira deixou de ser
lugar para sentar-se,
tornou-se nua a árvore
onde sempre é outono,
desventrou-se o céu
num transtorno azul.
São todos não-lugares agora
ludibriando tradutores e intérpretes
por só evocarem línguas mortas
nos reinos sempre incertos do insólito.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Travessia

 



Cravo estacas no caminho ,
desta vez alcançando
camadas onde jazem
os mortos.
Formo um labirinto
sem gato ou águia
para sinalizar possíveis
roedores.
Visito as catacumbas
de olhos fechados,
já as conheço de cor.
Todas as travessias
são a mesma travessia,
só que com outros gestos.

domingo, 9 de junho de 2024

Autor Convidado