segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Mimetismo


Os cálices,
na cristaleira,
equilibram-se
precariamente,
enquanto cintilam
à luz do sol.

Sua opacidade,
na penumbra,
restitui,
ao restante da mobília,
imprevista verossimilhança.

(foto: Google imagens)

sábado, 22 de dezembro de 2018

Resenha


    O livro A Arte do Romance é, na verdade, uma compilação de nove textos que a autora publicou em diferentes meios, como o Times Literary Supplement , por exemplo. E é um grande prazer ler todos eles. Com inteligência, humor e um olhar afiado, a autora fez reflexões a respeita da leitura e da escrita.
   Uma questão fundamental  é o prazer da leitura. Para ela resgatar isso é mais importante do que a erudição. O leitor comum (nem especialista ou sedentário, isolado do mundo, vestido com seu roupão e meio misantropo), é aquele que lhe interessa. O leitor que sabe mergulhar num livro, encantar´-se com a narrativa, com o poema, com a vida de outras pessoas ou personagens, que consegue saborear capa palavra e cada página é precioso. O encantamento com o livro é a sua tônica e, no mundo de hoje isso é ainda mais necessário.

    (...) estar numa grande livraria , cheia de livros tão novos que as páginas ainda estão quase coladas e o dourado das lombadas ainda está fresco, desperta um entusiasmo tão prazeroso quanto o velho entusiasmo da banca de livros usados.

   Virginia também escreve a respeito de poesia, teatro, biografias, romances escritos por mulheres com sagacidade e de modo prazeroso, principalmente para quem também sente um autêntico amor pelos livros.
   Outro trecho importante que encontramos num dos textos:
 
   O romancista - tal é seu mérito e seu risco - está tremendamente exposto à vida.

   Então ela afirma a respeito do valor de um texto literário:

   Para sobreviver, cada frase precisa ter uma pequena centelha  em seu cerne, e essa centelha, por arriscada que seja, o romancista precisa extrair das chamas com as próprias mãos.

   Com muios trechos memoráveis e páginas deliciosas,  A Arte do Romance deveria ser lida tanto por escritores quanto por leitores apaixonados por literatura.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Negativo


Minha sombra procura
meu corpo ausente
na cadeira vazia
que não está lá.

A cadeira sustenta
quatro pernas dementes
no chão abrasivo
onde solo não há.

O chão recupera
memória e mobília
na forma esquecida
que ainda virá.

(foto; Cleber Pacheco)

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Internacional

 Sou um dos ilustradores da antologia poética Aatish, que será lançada na Índia em 2019. O livro é fruto de um concurso literário. Será um dos lançamentos mais importantes do mercado editorial indiano.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Revista



A partir de agora, sou um dos colaboradores da revista bimestral SOPHIA, que trata de temas nas áreas de Ciências, Religião e Filosofia.
 A revista pode ser adquirida nas bancas ou por assinatura.
 O número 76 traz um artigo meu intitulado Dualidade e Unidade.  
 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Escritas


Às vezes é necessário
escrever sob
a chuva.
Enquanto alfabetizamos
poças d'água,
deciframos
o palimpsesto da lama.

Às vezes é necessário
escrever sobre
a areia,
para que possamos recriar
a lucidez do vidro.

Às vezes é necessário
utilizar a neve
para que o frio
 calcifique
a aprendizagem dos ossos.

(foto: Cleber Pacheco)


quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Intimidade


Para ir ao trabalho
estou sempre atrasado.

Passear no sol
pode ser um sacrifício.

Mergulhar no lago
é uma impossibilidade.

Fecho os olhos,
abro todos os portais.

(imagem: google)

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Sonho


O espelho sonha
com o eco das sombras
sondando reflexos
no inacontecido,
compondo quadros
ao inexistente,
escavando esculturas
ao nunca.

O espelho sonha
com o sonoro,
converte o intervalo,
compõe o impossível,
sinfonia do silêncio
no alfabeto dos cegos.

(foto: Google)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Deserto



Sol de areia e ossos
cozendo
o calcinado cerne do nada,
desventrando
o nu,
o avesso do escaravelho
fundindo
a carcaça do vazio
em vestes de grão e medula.
Areia e ossos
a engendrar
um outro sol
nas entranhas do ermo.

(foto: Google imagens)