sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Arquitetura

 



"O pássaro está morto" foi a sentença.
"A árvore onde pousava
o pássaro definhou", avisou alguém.
"Não há mais primavera", foi a palavra dada.
Com uma pedra de uma cratera
da lua edifiquei
minha catedral.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Precaução

 


Ontem ela quebrou 

o açucareiro e as formigas

vieram me despertar

pela manhã exigindo

uma explicação.


Hoje ela quebrou

o vaso de flores

contendo a única rosa

que havia no jardim.


"Está tudo bem", eu disse,

trincando

meus olhos

antes que seja tarde demais. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Tumba

 



Hoje retornei à tua tumba.
Minhas pernas estavam destroçadas,
minhas mãos haviam trincado,
tanto e tão pouco tempo corroendo
o que poderia ter sido primavera.
Flores secas ao vento sussurram
os pergaminhas da ausência
e tudo se apaga e desidrata
ainda antes que se desintegre o dia.
Chega murcha a noite e nada
acrescenta ao triste canto.
Já era tarde demais quando nasceu
o lamento, tarde demais
quando quis dissipar-se o véu,
tarde demais quando despertamos
para a possibilidade do sol.
Deposito uma vela que não
se acende e mais escuro se torna
o dia que esqueceu de abandonar
as tortuosas vias da noite,
dia que se desfez intacto
diante da insanidade obscura da Terra
a acolher loucos nas catacumbas
avaras do silêncio eterno.