sábado, 18 de maio de 2024

Flora

 



Ainda que nos trópicos
caminharei sobre
a neve,
pés queimados
no atrito,
carregando
galhos secos, folhas mortas ;
no coração dos olhos,
uma luz :
orquídea rara.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Autor Convidado

 



Elício Nascimento escreve poesia desde os 13 anos de idade. É bacharel em Direito e advogado. Trabalha como servidor municipal. Tem um livro publicado pela editora Caravana e textos publicados em revistas literárias.    


                                               EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

 

Fumou seu calendário o vento

Queimou ponta a ponta sem filtro

A cada tragada um bom tempo

Subia ao ar do precipício

 

Carbonizou vivas as datas

Cuidadosamente esquecidas

Do aniversário das duas filhas

Ao de casamento entre farras

 

O vento da vida avisou

A cada nova ruga rala

Acesa ao dia que apagou

Acordou no rosto do nada.


 

IMPOSTO VOLUNTÁRIO

 

Aprazer-se do prazer para ser

A nova antiga conquista do mundo

Na mais rasa prova, prova-se fundo

A sala clara sem se poder ver

 

Cento e oitenta graus, parede a parede,

Todas as revoluções nessa sala

Muda-se o nome, contorno, tapete,

Mas, nos móveis, o imóvel é da sala

 

Tato a tato na sala iluminada

Vê-se, alto, o esmero da decoração

Em busca da nova revolução

Até o prazer no centro do nada

 

A cada novo objeto aparece

O que some na claridão da sala

E tudo se ajeita no que apetece

E a nova revolução na entrada

 

A última espera sua esperança:

Nascer nos cômodos empoeirados

No comodismo da mesma mudança:

 Mudando no cômodo ajoelhado.


 

 






segunda-feira, 6 de maio de 2024

Caminho


 


Pulou

cada poça com entusiasmo.

Atravessou

o mar como se

 tivesse só dois dedos d'água.

Enfrentou

a terra seca 

com  pés trincados 

de desgosto e mágoa.

Afogou 

os dias na poeira 

íngreme 

da mais crua 

abstinência.

No final do caminho só abelhas, nenhuma flor.. 


(Foto: Cleber Pacheco). 



quinta-feira, 2 de maio de 2024

Tradução

 



Traduzirei
o que não tem idioma
para uma linguagem
sem palavras, sem imagens,
onde o cálculo prescinde
dos algarismos,
as nuvens se desventram
sem chuva
e as almas transmigram
às pedras.
Ali não haverá
testemunhas, só vítimas
onde o nítido se concentra,
a nudez
é palpável ao olfato
e a vida morde
a morte
sem fome, sequer náusea.