Mais uma releitura. Desta vez se trata da novela AURA do escritor mexicano Carlos Fuentes. Aprecio tanto romances longos quanto relatos curtos. Esta novela, fascinante e mórbida ao mesmo tempo, nos prende desde o início.
Atraído por um anúncio de jornal, o personagem vai em busca do trabalho oferecido e se depara com um ambiente sombrio em todos os sentidos. Numa casa sempre imersa na penumbra, ele encontra Consuelo e a jovem Aura, cujos olhos verdes e beleza influem em sua imediata decisão de ficar no lugar e realizar o trabalho proposto.
Lugar, aliás, cheio de mistérios e estranhezas, a casa e as moradoras acabam por envolvê-lo por completo, muito mais do que os decepcionantes manuscritos deixado pelo militar, marido de Consuelo. Completamente hipnotizado por Aura, ele se revolta com a atitude sempre submissa que ela mantém em relação à dona da casa. Por sua vez, envolve-se completamente com Aura, com quem estabelece um relacionamento altamente erótico por meio de encontros não tão fortuitos quanto imaginava.
O autor cria um clima de tensão e envolvimento com grande habilidade e suas descrições nos fazem mergulhar naquele mundo cheio de esquisitices, cada vez mais desconcertante:
Allí, essa figura pequeña se pierde en la inmensidad de la cama; al extender la mano no tocas otra mano, sino la piel gruesa, afieltrada, las orejas de ese objeto que roe con un silencio tenaz y te ofrece sus ojos rojos(....)
Ou como neste outro trecho:
Tú sientes el agua tibia que baña tus plantas, las alivia, mientras ella te lava con una tela gruesa, dirige miradas furtivas al Cristo de madera negra, se aparta por fin de tus pies, te toma de la mano, se prende unos capullos de violeta al pelo suelto, te toma entre los brazos y canturrea esa melodía, ele vals que tú bailas con ella, prendido al susurro de tu voz (...)
Mergulhamos junto com o protagonista neste jogo de sombras fantasmagóricas a nos conduzir para uma situação crescentemente assustadora até a surpreendente revelação final.
O texto nos remete às antigas histórias góticas, misturando religiosidade com erotismo e fenômenos sobrenaturais.
Vale a pena ler e se encantar com esta pequena pérola de Carlos Fuentes.