domingo, 24 de novembro de 2019

Resenha


   AS NOVE PÁGINAS DE ALBERTO SILVA  do escritor ÁDLEI CARVALHO foi o primeiro romance publicado pela Editora Coralina.
   O livro abarca vários anos  e narra  tanto a história de Alberto Silva  quanto do seu pai, um português que embarcou clandestinamente para o Brasil e aqui constituiu família.  São trajetórias marcadas por acontecimentos históricos  em que a política acabou interferindo de modo decisivo na vida dos personagens., deixando marcas  impossíveis de serem apagadas.
   Tanto na época do governo de Getúlio Vargas quanto nos anos 60, períodos caracterizados por ditaduras, as histórias são contundentes e muito significativas.  Ninguém fica impune aos acontecimentos: nem personagens nem os leitores. A leitura, aliás, vai nos envolvendo e acompanhamos com nítido interesse  as peripécias e as dificuldades enfrentadas, os desafios e perigos , assim como todas as emoções suscitadas.
   À medida que os fatos se sucedem,  nossa curiosidade é aguçada e a tensão aumenta, gerando expectativas. A narrativa prende do começo ao fim.
   Todavia, o romance não é apenas um apanhado histórico, vai além. É, sobretudo, uma história  muito humana, de sofrimentos,  conflitos e sentimentos marcantes. Em meio a tanta violência, o amor permanece e vai costurando os acontecimentos , conduzindo a narrativa até o final marcante.
    Dentre todos os personagens, a meu ver, Sumiço é um grande destaque. Pode-se afirmar que já é um dos personagens inesquecíveis da  Literatura Brasileira.
   O final do livro comove. Confesso que acabei indo ás lagrimas. Não há como evitar.
   Um romance significativo, necessário e corajoso neste período de obscurantismo e de democracia fragilizada, denunciando o horror da prepotência e de qualquer ditadura.
   Merece nossa leitura e atenção.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Conto: Panorama


   Restam apenas doze mirantes para se admirar a vasta paisagem. Os outros já ruíram faz tempo. Dos doze, três encontram-se em estado precário. Sua instabilidade é visível. Podem desabar a qualquer momento.Melhor evitá-los. Os outros nove mirantes  são utilizados por algumas pessoas. Ou melhor, dos nove restantes, um foi coberto pela hera e pelo musgo; outro foi ocupado por um grupo que se recusa a sair dali; o terceiro é disputado por dois grupos diferentes; o quarto ficou esquecido; o quinto está sendo dilapidado aos poucos, servindo como lenha; o sexto  está sendo devorado pelos cupins; o sétimo foi comprado por alguém que mandou fechá-lo para uso exclusivo; o oitavo serve de abrigo aos poucos animais restantes; o nono é visitado aleatoriamente por um poeta chinês  que contempla as crateras da lua.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Ondas


Flores de espuma dissolvendo-se
num jardim líquido.
Prisma de rumores ecoando
na carne do instável.
Entrecruzar-se de escritas
anunciando  abismos.
Sinfonia assimétrica
de rumores e ritos.

Ondas, polinização do efêmero
nas colmeias do eterno.

(imagem: Google)