Resenha
Mundialmente famoso devido ao polêmico romance Lolita. o escritor russo Vladmir Nabokov, deve ainda ser melhor conhecido no Brasil. O livro A Defesa é um ótimo motivo para desbravar a literatura do autor.
O inquietante personagem Luzhin é uma grande criação, sem dúvida. Sempre deslocado, desajustado em qualquer ambiente, quase incapaz de expressar sentimentos, sem nunca conseguir compreender o mundo à sua volta, o personagem se mostra sempre distante de tudo e de todos, incluindo os pais, por quem nunca demonstra o menor afeto. Ainda menino, seu pai nutre esperanças de que ele realize grandes feitos,se destaque pelo talento e genialidade. O menino, no entanto, não consegue se interessar por nada. Na escola se revela medíocre, não consegue conviver com os colegas nem se interessar por nenhuma disciplina. Por mera casualidade, descobre o jogo de xadrez e enfim desenvolve habilidades. Torna-se, finalmente, alguém de destaque por sua perícia e por algumas jogadas assombrosas. No entanto, durante um torneio, acaba entrando em colapso.
É nesse período que conhecerá aquela que se tornará sua esposa, a única pessoa a quem parece dedicar algum afeto. Nabokov vai desenvolvendo a narrativa com extrema habilidade, com um estilo cheio de humor e fina ironia, criando situações desconcertantes que nos fazem rir, pensar, intrigando-nos com a criatura taciturna e chamada de palerma pelos amigos da esposa. Esta, movida por um vago romantismo e algo próximo da compaixão, busca mantê-lo afastado dos jogos de xadrez, tentando despertar o seu interessa para outras áreas sem nenhum sucesso. Luzhin não está apto para mais nada. Não entende a política, os negócios, as artes. Na verdade, não entende coisa alguma a não ser o mundo do xadrez onde se recolhe, mesmo quando deixa de jogar. E é com este ponto de vista que ele passa a observar e a sua própria vida, tentando escapar das armadilhas da existência como se houvesse um adversário sempre prestes a derrotá-lo, a prejudicá-lo de um modo misteriosos até que consegue enxergar um padrão: as repetições devem ser evitadas e para isso ele sente que precisa criar uma defesa a fim de derrotar a animosidade do mundo e da existência contra si mesmo.
De forma magistral , Nabokov vai desdobrando os temores do personagem, acentuando-os e revelando a crescente gravidade da situação e seu desfecho trágico.
Figura incômoda, canhestra, incompreendida, Luzhin revela a inaptidão para viver num mundo que considera como absurdo e sem sentido.
A Defesa é uma obra-prima a desafiar os limites da racionalidade, revolvendo as vísceras da estranheza do existir.