sábado, 30 de julho de 2016

JARDIM DE INVERNO

O coração do inverno
abre
 válvulas de silêncio
nos abrigos da morte,
ressuscitando
mumificadas palavras
que florescem
em jardins de gelo.
Borboletas mortas
espalham
polens de neve
na vastidão do ermo.
Viceja
  o esplendor
do vazio:
uma nova flora.


(imagem: Google)







sexta-feira, 29 de julho de 2016

O SILÊNCIO DAS MONTANHAS de Khaled Hosseini

    O silêncio das Montanhas de Khaled Hosseini é um romance com uma estrutura narrativa muito interessante. A partir do relacionamento entre dois irmãos, o autor desenvolve a história que oscila entre presente e passado e vai abrangendo outros personagens ao longo do tempo e de diversos países diferentes.  Conflitos pessoais e nacionais vão se desenrolando diante de nós, montando um painel do mundo contemporâneo. Este painel tem sua profundidade.
   As diversas histórias prendem a atenção, fazendo com que a leitura se torne uma aventura que queremos saber como irá se desenrolar.
   Humanidade,sentimento e reflexões a respeito de nosso tempo e do mundo em que vivemos enriquecem o texto.
   O final poderia ser piegas,mas possui um toque de delicadeza.
   Livro interessante e que vale a pena ler.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

VISLUMBRE

Era uma coisa,
não sei o que era,
era só uma coisa sob o sol.
Era coisa autêntica e definida,
era uma coisa que reverberava
sob a luz.
Era
 coisa única e incontida
que exalava
suor sem respirar
e que agora,
confinada ao anônimo,
retornou
ao que nunca foi.
Era uma coisa
e ninguém diria
que apesar de muda
gritasse tanto,
só uma coisa então perdida
entre coisas
jamais contadas.

( imagem: Google)

terça-feira, 26 de julho de 2016

MICROCONTOS




   1-  INSPIRAÇÃO
Após examinar atenciosamente o menu,o escritor pediu:
- Só quero uma sopa de letrinhas.


   2-  HIGH SOCIETY
A socialite passou os olhos pelas páginas do jornal com as manchetes: BOMBA MATA 50 PESSOAS NO PAÍS ***, SOCIOPATA MATA TRINTA ALUNOS NA UNIVERSIDADE DE ***, ATENTADO TERRORISTA MATA 100 PESSOAS NA CIDADE DE *** e sorri profundamente: acaba de ver o anúncio de uma nova bolsa da grife ***.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

SEGUNDA EDIÇÃO

    Já está encaminhada a segunda edição revista e ampliada do meu livro de crítica literária A ARTE POÉTICA DE ARICY CURVELLO.
   Publicado pela primeira vez em 2013 e recebeu medalha de ouro da academia Brasileira de Pesquisas Literárias.
   Esta nova edição é mais completa,pois abrange toda a obra do autor.
   Estará disponível em breve.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

TRANSFUSÃO

Sou assassinado
todos os dias,todos os dias
sangro,morro,adormeço
roído
pelo vitríolo
do nada.
Sou ressuscitado
todos os dias,todos os dias
desperto, vivo na transfusão
da morte e seus estigmas.
Todos os dias
aguardo
transmutação de palavras.
Todos os dias aguardo
 silêncio e madrugada.

(foto: Cleber Pacheco)

quinta-feira, 21 de julho de 2016

MISTÉRIOS

Sete vestes
recebi;
 com três
fiquei,
só uma
verdadeira:
túnica inconsútil.

(imagem: Google)

quarta-feira, 20 de julho de 2016

LER

Jogos
de luz e sombra
sobre
a página.

Resgate
do fluir
em movimento e tinta.

Afresco
do lúdico
na escavação
da forma.

( imagem;  pintura de Monet)


terça-feira, 19 de julho de 2016

DIAGNÓSTICO

Arrumo
o vaso sobre
a mesa,
forma reta
na toalha a reclamar
o instável,
procura de flores
no diagnóstico do dia
enquanto
a beleza agoniza.

( foto: Cleber Pacheco)

sábado, 16 de julho de 2016

FRÁGIL

Na fragilidade
o frágil
 sustenta
e reabilita
o ínfimo
em floração
de istmo,
desafio
ao íntimo
das argamassas,
rigor mortis
do nunca
vestido
de acontecimento.

(foto: Cleber Pacheco)

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Livros de David Goodis


   Gosto dos livros de Dashiel Hammet,mas prefiro Raymond Chandler, que tem mais estilo, ironia e senso de humor. No entanto, o meu favorito é David Goodis (1917-1967).
    Seus livros são breves,intensos,dramáticos. Os personagens encontram-se em situações difíceis ou extremas. A narrativa sucinta faz com que queiramos mais,sabendo que se houvesse mais,estragaria tudo. Este é um dos seus talentos.
    Impossível não apreciar Sexta-Feira Negra e A Garota de Cassidy. O primeiro tem alta dose de suspense que ocorre num tempo breve,aumentando ainda mais a tensão e a urgência de encontrar uma improvável solução. O segundo é um primor de história, com aspectos humanos muito interessantes e significativos.
   Atire no Pianista,transformado em filme por François Truffaut, na chamada nouvelle vague,  é ótimo e desconcertante.A Lua na Sarjeta é igualmente memorável.Também foi transformado em filme por Jean-Jacques Beinex.
 
   

terça-feira, 12 de julho de 2016

Biblioteca

    Cada livro da biblioteca tem uma história.
    Morte de Alguém de Jules Romains, por exemplo, estava abandonado numa caixa com outros títulos numa Feira do Livro. Quando o vi, imediatamente tratei de pegá-lo . O vendedor mal podia acreditar que eu havia escolhido justo aquele. Havia duas mulheres por ali comprando um daqueles famosos de autoajuda. Olharam com estranhamento e um certo descaso. Até achei graça na situação.
   Não muito diferente foi quando comprei um exemplar de poemas de Saint-John Perse. Já meio velhinho e com a capa desbotada, sofria também de cruel abandono. Os vendedores olharam um para o outro como quem diz: "Não acredito! Até que enfim!" Já deviam ter desistido há muito de efetuar a venda.
   Meu exemplar do Rubáiyát encontrei num sebo em Porto Alegre.. Desisti de levar outros para ficar com ele. Cada poema era emoldurado por belos arabescos ,tornando ainda mais poética a obra.Já o livro de poemas de Paul Valéry  encontrei numa fantástica livraria com livros espalhados por toda parte.Apreciava ir até lá aos sábados para ouvir alguém tocando o piano de cauda que  havia enquanto escolhia o que me interessava. O exemplar era em francês e continha o magnífico poema O Cemitério Marinho.Não hesitei em pagar mais caro.
   Também no sebo encontrei diversos autores orientais. Tenho especial interesse por eles. A literatura indiana contemporânea tem excelentes romancistas.
    O que lamento até hoje é ter deixado escapar aquele magnífico livro com a obra completa de Baudelaire. A Livraria fechou e a oportunidade de adquiri-lo perdeu-se para sempre. Entrou para a história dos livros que escaparam pelos vãos dos dedos.

(foto: Google)
 

sábado, 9 de julho de 2016

Arte Poética

   Na poesia,como em tudo mais,  há arquétipos.
   Por exemplo, T.S. Eliot e Ezra Pound são arquétipos do poeta cerebral,erudito,do poeta fechado em seu gabinete fazendo uma releitura da tradição. Seus escritor exigem conhecimento da história,da poesia e,obviamente,da história da poesia.  São poetas intelectuais.
  No outro lado está Rimbaud,o poeta que mergulhava no inferno,nas visões, o vidente de uma realidade outra em que era preciso adentrar por inteiro para concebê-la. Cheio de som e fúria, vivia a experiência dos limites e além deles. É o arquétipo do poeta que se torna poesia.Mesmo que a tenha abandonado posteriormente.
   Diferentemente do ocidente que reverencia os acadêmicos ou cultua os malditos, o oriente busca uma outra via. E aí temos Tagore, cuja harmonia é capaz de perceber o poética existente num grupo de árvores, na existência,no universo,de modo profundo,mas equilibrado. Sem intelectualismo,sem excesso.
   O ocidente ainda desconfia do equilíbrio e da harmonia e poucos conseguiram compreender a visão de mundo do oriente. Mas Tagore é um exemplo da beleza desse modo de viver.
   De qualquer modo,o importante é que cada poeta revela um modo original de vislumbrar o mundo.

(foto: Google)
   

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Escrever

Não escrevo odes ao amor
nem elegias ao adeus.
 Mostro
o abraço que se perde
na eolização
do instante morto
entre duas plumas.

(pintura: Jack Vettriano)
.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Conto: CÍRCULOS

Uma construção circular com quatro torres idênticas,
sendo que a torre do leste fica exatamente diante da torre do oeste.
O mesmo se dá com as torres do norte e do sul.
Os moradores da torre do leste afirmam que a torre do oeste é apenas um reflexo da sua torre
e os do oeste juram que a torre do leste é apenas um reflexo da sua própria torre.
O mesmo se dá com os moradores das torres do sul e do norte.
O centro da construção circular é inteiramente ocupado pela água.
Esta água crê que é toda a água existente no mundo.
Os habitantes da Lua afirmam que a construção circular é apenas um ponto em meio ao Oceano.
Já os habitantes de Andrômeda sentenciam que a Terra nunca existiu.

( imagem: Google)

sábado, 2 de julho de 2016

DIA

Desvesti
as sombras,
descasquei
os frutos,
espremi
o sumo,
poli o Sol.

Grato,o dia
reverteu
as horas,
trazendo,em seu bojo,
a brisa da manhã.

(foto: Cleber Pacheco)