Canto
Sobre o muro havia
uma laranja,
resplandecente, perfeita, intacta,
ali a depositara.
Para ela nasceu
o pássaro,
para dilacerá-la, para desconfigurá-la
e depois injetar
seu canto estridente
ferindo o ar num gesto prometeico.
Naquele instante, porém,
ainda resplandecente, ainda intacta,
do seu endocarpo exalava
o desafio de desnudar-se
simplesmente perfeita.
De cada gomo a ser ingerido
exsudava o olor de quem está pronta
para o sacrifício da beleza.
Se naquele instante a visse
o pássaro,
perderia para sempre suas asas
cosendo com penas afoitas
toda a terra
e calaria para sempre
seu canto ao desvendar
que se deposita,
mais intenso, o mundo,
onde reverbera o mudo.
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