quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

IDENTIDADE (conclusão)

Resignei-me à rendição.
“Extorquir”,veio à mente.Fosse quem fosse,queria roubar,obter o material por mim recebido.Voraz leitor,queria tudo para si,tornar-se dono,proprietário de cada fragmento que eu recebera,em egocêntrica voragem.
Reagi.
A certeza de jamais ceder, de resguardar e preservar com o maior dos cuidados cada fragmento obrigou-me a tomar uma atitude.
“Terá de lutar primeiro” respondi, provocativo.
Entendendo, aumentou a criatura o rigor do ataque. Ela faria de tudo para alcançar seu propósito. Esmagador,ansiava por alcançar rapidamente o maior êxito.
“Devo ter enlouquecido”, ainda pensei antes de agir.
E em seguida:
“Farei”.
Disposto a enfrentar, suportando as conseqüências, estava. No limite das forças, teimava em resistir, superar-me, ir além. Não iria muito longe.
Uma intervenção ocorreu.
Retornara o anjo, intercedendo por mim, o demônio enfrentando. Tríplice embate se fez. Homogênea e heterogênea força em caótica fusão trouxe igualmente tríplice resultado, divergente.
Repelido, para trás a terrível criatura projetada foi, entre urros desaparecendo. Atraído, para o alto seguiu meu benfeitor. Para baixo precipitei-me.
Tudo acabou.
Silêncio.
Abri os olhos.
Na casa encontrava-me. Recuperando aos poucos a noção das coisas, busquei pelo menino.Precisava muito ter um contato com ele.Redescobrira-o.
Tive um choque.
Ele jazia ao meu lado, imóvel.
Num salto, segurei-o, tentando ajudá-lo. Inútil.
Quedei-me, sem reação, pasmo. Simplesmente não sabia o que fazer. Fiquei sentado, sem conseguir atinar em nada.
Então, num impulso,apanhei os papéis que ali se encontravam,começando a dispô-los aleatoriamente. Súbita inspiração envolveu-me. Refiz a sequência,colocando-os em círculo.Só aí aconteceu o sentido.
Maravilhado, percebi que aqueles rabiscos que antes me pareceram desprovidos de significado, formavam uma espécie de mapa. Um mapa cósmico, contendo o mundo físico, metafísico e ultrafísico.Conseguia lê-lo com a maior clareza,com inacreditável facilidade. Completo, continha a imagem do Universo. Aquele era o trabalho do desenhista.
Ouvi passos. E, com eles, veio a compreensão. Agora, sabia quem ele era. Logo, desvendara quem ela era. Consequentemente,pudera chegar a quem eu mesmo era.
Imediatamente desfiz o círculo de papéis, enrolei-os, fiquei a segurá-los com firmeza.
O meu trabalho e minha luta ainda estavam por começar.


(ESTA HISTÓRIA FOI PUBLICADA NO LIVRO INVENTÁRIO DE DESIMPORTÂNCIAS).

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