segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Autor Convidado

 


Milton Rezende, poeta e escritor, mineiro de Ervália (MG). Morou em Juiz de Fora (MG), Varginha (MG), Campinas (SP), Ervália (MG) e retornou a Campinas (SP). Possui quinze livros publicados e tem um Site e um Blog:

www.miltoncarlosrezende.com.br

estantedopoetaedoescritor.blogspot.com.br

Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).


A VERDADE SOBRE A MENTIRA

 

 

Tenho dito mentiras

sem tomar consciência

de sua contextura falsa.

 

Não tenho desmentido o que digo

pois tenho a concepção de que minto

sobretudo para mim mesmo.

 

Sendo assim as minhas mentiras

não podem acarretar

na perda de qualquer afeição.

 

E já que é precisamente sobre a falsidade

que se alicerça o convívio entre os homens,

as palavras de mentira ou verdade que eu disser

nada significam de permanente num relacionamento.

 

Mas não posso deixar de convir

que assim fazendo, a cada dia

eu amanheço mais distante de mim.

 

Milton Rezende “in” O Acaso das Manhãs




 

 ANDARILHO DEITADO

 

cheguei cansado para deitar

sobre a cama de papelão no chão

e debaixo da marquise gotejante.

 

uma poça de água da pingadeira

sobre o passeio do mercado desativado

onde dormiam indigentes à espera do fim.

 

dormir é dócil como o bebê embriagado

desapercebido dos planos de Deus.

 

Milton Rezende “in” Um Andarilho Dentro de Casa


ENQUANTO A CHUVA NÃO PASSA

 

Os dias acalmaram o sonho,

como se para isso não bastasse

a ausência de teus olhos.

Mas na noite um verso simples

brotava do silêncio para dar

uma esperança menos triste

ao cotidiano.

Ao longe eu visualizava uma imagem

pensativa que acreditava estar

preenchendo o hálito da noite

e a chuva no telhado com teu

sorriso mágico. Mas a distância

não me permitia tais conclusões.

Seria necessária a palavra e a

tua presença para restabelecer a paz

e aquela sensação confiante que

tínhamos quando crianças.

Coordenar as coisas e arrumar

a casa num ambiente tranquilo

para receber a realidade,

dissipar os sonhos

e adormecer em teu gesto.

 

Milton Rezende “in” A Sentinela em Fuga e Outras Ausências

 

 

 

 

 

 

 


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