quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O Vento da Noite - Emily Brontë

À meia-noite de verão,mole como um fruto maduro, A lua sem véus lançou sua luz Pela janela aberta do parlatório, Através dos rosais onde o orvalho chovia. Sentada e perseguindo o meu sonho de silêncio, A doce mão do vento brincava em meus cabelos E sua voz me contava as maravilhas do céu E a terra era loura e bela de sono. Eu não tinha necessidade de seu hálito Para me elevar a tais pensamentos, Mas um outro suspiro em voz baixa me disse Que os negros bosques são povoados pelas trevas. A folha pesada, nas águas da minha canção, Escorre e rumoreja como um sonho de seda, E ligeira, sua voz miriápode caminha Dir-se-ia levada por uma alma fagueira. E eu lhe dizia: " Vai-te, doce encantador. Tua amável canção me enaltece e me acaricia, Mas não creio que a melodia desta voz Possa jamais atingir o meu espírito. Vai encontrar as flores, as tuas companheiras, Os perfumes, a árvore tenra e os galhos débeis; Deixa meu coração mortal com suas penas humanas, Permite-lhe escorrer seguindo o próprio curso." Mas ele, o Vagabundo, não me queria ouvir, E fazia seus beijos ainda mais ternos, Mais ternos ainda os seus suspiros: "Oh, vem, Saberei como conquistar-te apesar de ti mesma! Dize-me, não sou o teu amigo de infância? Não te concedi sempre o meu amor? E tu o inutilizavas com a noite solene, Cujo morno silêncio desperta minha canção. E quando o teu coração achar enfim repouso, Enterrado na igreja sob a lousa profunda, Então terei tempo para gemer à vontade, E te deixarei todas as horas para ficar sozinha..." (tradução: Lúcio Cardoso).

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