quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Resenha


 

   O livro Maravalha de Cláudio B.Carlos é uma bela publicação da Editora Saraquá em conjunto com a Editora Coralina. As ilustrações são  de Thassiel Mello e o projeto gráfico, de Angel Cabeza  

   A história é definida pelo autor como uma novela grunge gaudéria, uma classificação, no mínimo, curiosa devido ao aparente  descompasso entre mundos tão distintos. No entanto, cai como uma luva,pois a narrativa, requintadamente minimalista, mostra um lado "sujo" ambientada  num bar situado em alguma cidade qualquer do Rio Grande do Sul. Os  personagens  nem um pouco "edificantes", por assim dizer, são pessoas comuns, medíocres, desbocadas, que estão o tempo todo indo ao banheiro, urinando, vomitando, e em situações escatológicas.  O cenário é, na verdade,um microcosmo de relações humanas revelando vidas vazias, sem sentido. Ninguém tem realmente nada para dizer, para acrescentar.  O texto evidencia o vazio da contemporaneidade, a falta de perspectivas, uma angústia corroendo as entranhas, um desespero talvez ignorado pelos próprios personagens, inconscientes de sua real  situação ou ao menos tentando ignorá-la, escapando provisoriamente dela.  

   Todavia, o autor vai além, lançando o seu olhar desiludido sobre o mundo com maestria.  Há uma situação tensa que vai se intensificando o tempo todo. Um ato  foi cometido. Será descoberto?  Haverá consequências? Nesta época doentia do século XXI, não há lugar para a culpa,como em Crime e Castigo de Dostoiévski.  A preocupação não é ter cometido o erro. O que preocupa realmente é se ele será descoberto. Não se pensa em reparação.Ao contrário, é preciso fugir  dela a qualquer custo. Não há senso de responsabilidade, de castigo. Ninguém assume nada. Ninguém está disposto a carregar o seu fardo , não há lugares para feitos "heroicos" , para romantismos. O escapismo, tornou-se um recurso recorrente em nossa época. Assim como o entretenimento tomou o lugar da cultura e o excesso de informações roubou o lugar do conhecimento.  

   Ninguém se deixe enganar pela aparente banalidade da narrativa. Estamos lidando com um escritor contundente e visceral, capaz de dizer muito com pouco, criando cenas e situações com  perspicácia. Há uma sutileza a exigir a atenção do leitor e vai conduzindo a ação, oculta sob detalhes sórdidos de vidinhas inglórias. 

   Maravalha  até pode ser lido rapidamente. Mas continuará perturbando  a mente do leitor muito tempo após ter sido encerrada a leitura. 



    


1 Comentários:

Blogger Cláudio B. Carlos disse...

Cleber!
Muito obrigado, mesmo. Você, como sempre, certeiro.
Grande abraço.

8 de outubro de 2020 às 07:08  

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