Invernia
Há um momento
em que o mundo se recolhe,
sequer cães ladram.
Tudo se retira e se desventra,
viver se torna concha
no abissal do estéril:
deixa de ser vidro o vidro,
deixa de cortar a faca,
mimetizam-se as coisas
para se tornarem nulas:
não mais há musgo e pedra,
só o sintoma,
desritualiza, o mundo,
a agudeza do instante:
raça,instrumento,nome
se desmentem
com inconsistência
de sombra sobre a água:
tudo é instinto e espanto
nos descaminhos
do rigoroso,
tudo é inverno e cavidade
nas intimidades do mínimo:
não há face nem totem
nos recônditos do escuro:,
viver é anonimato
a destituir o denso,
instante de amolar lâminas
para sangrar silêncios,
cerne do vibrátil
a render-se ao Imóvel.
(foto: Google)
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