segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Resenha

    O escritor e tradutor José Eduardo Degrazia escreveu esta resenha referente ao meu livro de poemas: 

NA TEIA INCONSÚTIL DO COSMOS
Cleber Pacheco vem se firmando há já algum tempo, com excelentes críticas nacionais e internacionais. Autor já de uma obra importante, de prosa e poesia, participando de inúmeras antologias no exterior, tem conseguido abrir um espaço nesse tão difícil mundo da literatura em nosso país. Principalmente, por estar fora da grande mídia e vivendo numa cidade do interior. Mas hoje, com os novos meios de comunicação, estando onde estivermos, e se o nosso trabalho for de qualidade, ele acaba encontrando a repercussão merecida.
Tive o prazer de escrever a apresentação do seu livro de poemas “A arte rupestre” e nela dizia que a poesia do autor (quem sabe, toda a poesia) “Talvez seja a poesia a forma possível para fazer a arqueologia do universo, do mundo, e da alma humana.” E não é diferente nesse novo livro que recebo do Cleber, Poemas Orgânicos, Editora Penalux, Guaratinguetá, 2020. A começar pelo título, que nos remete ao que na “orelha” diz o ensaísta Eduardo Jablonski: “O primeiro poema da obra, que dá nome a ela, fala da vida e reflete suas idiossincrasias.” Vale a pena ver esse poema para ter a noção da visão de mundo que carrega o livro inteiro, p. 7:
“A vida tem dessas náuseas
Que regurgitam ossos,
Transmutam a textura da pele,
Expele pedras dos rins,
Imprimem memórias
Na tipografia das células,
Nutrindo esquecimentos
Nos estilhaços do instante.
A vida tem desses nódulos
Gerados nos gânglios do medo,
Desventrando os fetos da alma,
Macerando os fósseis do nada.”
Já havia dito no livro anterior que o autor não nos propunha facilidades, e aqui acrescento, que além disso, ele não tem medo de entrar em terreno não poético, ou pelo menos em temas não tão explorados pela poesia. Lembro logo de Augusto dos Anjos (1884-1914), poeta paraibano, que no seu livro conhecidíssimo “Eu”, mergulha no mundo orgânico do homem, sua evolução, sua matéria, usando uma terminologia cientificista e evolucionista. Dele se aproxima Cleber Pacheco quando diz no poema Roca, p.9:
“O homem,
Espelho orgânico do Nada,
Anjo selvagem
De êxtase e infâmia,
Traduz
Os Arcanos do medo
Em vestes de carne e fúria.
O que engendra, cala ou congela
Tece os vestígios do híbrido
Em trama que flui e resvala
Em cilada de nós e de linhas,
Traçando veleidades, funduras
Na teia inconsútil do Cosmos.”
O que diferencia o autor gaúcho do autor potiguar, no meu entendimento, é que mesmo os dois autores procurando mergulhar nas circunvoluções do cérebro e do pensamento, o primeiro tem um núcleo espiritual intenso, hermético, mágico, enquanto o segundo é materialista. Nos dois há uma procura de uma visão universal, uma visão de mundo. Lembro de Pablo Neruda (1904-1973) no seu livro de memórias “Confesso que vivi”, em que o poeta nos diz que a sua poesia mudou quando encontrou a visão de mundo que precisava baseado na degeneração e revitalização da natureza, da vida e da morte que viu quando criança no húmus da floresta do seu Chile natal. Pois bem, para mim, Cleber Pacheco é poeta que almeja encontrar um sentido maior na sua poesia. Isso, como todos nós sabemos é difícil, mas a trajetória que vem marcando nas nossas letras só nos leva a esperar que o seu caminho seja sedimentado nessa direção. Leiam “Poemas orgânicos” e tirem suas próprias conclusões.



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