segunda-feira, 4 de maio de 2015

ENTREVISTA

               Entrevista concedida pela tradutora brasileira Rafa Lombardino que reside nos Estados Unidos.



     1-   Como surgiu o seu interesse pela literatura?

            Eu lia os livros que a professora de português pedia para a gente ler, mas só fui me interessar mesmo quando ganhei um livro de presente em uma “Olimpíada de português”. Gostei tanto da história e de ter um “filminho” passando pela minha cabeça, que depois disso comecei a ir atrás e comprar mais livros para alimentar a minha sede de leitura.

2-                Por que decidiu se tornar tradutora?

            Eu tive a minha primeira aula de inglês na 5a série, aos 11 anos. Desde então, descobri que era apaixonada por idiomas. Depois de concluir o curso de inglês aos 17 anos, passei no exame de proficiência da Universidade de Michigan e comecei a dar aulas para alunos de 4 a 40 anos. Nessa época, muita gente procurava a escola de idiomas onde eu dava aula, perguntando se alguém poderia traduzir uns documentos, cartas ou artigos científicos para um trabalho de faculdade. Comecei a aceitar esses trabalhos para complementar a renda e, quando me dei conta, os projetos de tradução passaram a ser a minha atividade principal.

3-                Como é realizar esse trabalho de tradução aí nos Estados Unidos?

            Na verdade, não acredito que a minha localização geográfica faça muita diferença, já que o tradutor hoje em dia só precisa de uma conexão de internet para se comunicar com o mundo, entrando em contato com clientes e colegas, além de pesquisar material de leitura e vocabulário e promover os seus serviços. Do ponto de vista operacional, o fato de eu estar nos EUA simplificou o processo de abertura de empresa e facilita o recebimento do pagamento de clientes americanos.

4-                Conte-nos a respeito da trajetória da CBSS:

            O Contemporary Brazilian Short Stories surgiu de um sentimento muito egoísta que eu tive, pois estava sentindo falta de criatividade nos projetos que eu estava recebendo para traduzir. Eram documentos muito técnicos, geralmente com instruções para usuários de informática ou descrições de políticas empresariais. Em 2010, comecei a entrar em contato com escritores brasileiros para pedir autorização para traduzir os contos que eles escreveram e publicaram em seus blogs. Aos poucos o site do CBSS foi surgindo, mais escritores enviaram material para tradução, outros tradutores foram entrando na equipe e hoje estamos fechando a 4a temporada do site e terminando de editar a terceira coletânea.

5-                Quais são os seus atuais projetos de tradução neste momento?

            Documentos novos chegam todo dia dos nossos clientes de longa data, assim como de clientes novos, então continuo bastante envolvida com as traduções técnicas. Quanto ao material literário, no momento estou traduzindo um livro de inglês para português chamado “It Never Rains in Colombia”, que foi escrito por W. H. Benjamin, autora britânica autopublicada, além de um livro de espanhol para português chamado “El legado de Maria Schlau”, escrito por vários autores e editado pela BabelFamily, uma organização que pretende arrecadar fundos para a pesquisa de uma doença chamada Ataxia de Friedreich.

6-                Qual a sua opinião a respeito da literatura brasileira contemporânea?

            Eu gosto de ver a variedade e diversificação e fico feliz com o fato de a internet facilitar a comunicação direta entre autor e leitor, permitido que escritores que talvez não tivessem uma chance de entrar no ramo editorial pelos canais mais tradicionais ―ou seja, publicando um livro por meio de uma editora― possam mostrar o seu trabalho para o mundo. Só gostaria de ver mais literatura brasileira, tanto antiga como contemporânea, sendo traduzida para mais idiomas.

7-                O que o leitor americano conhece a respeito da literatura brasileira?

            É claro que o escritor brasileiro com mais fama no mundo inteiro é Paulo Coelho, que já foi traduzido para tantos idiomas. Sempre que menciono para alguém que vim do Brasil, geralmente me perguntam sobre Pelé ou Paulo Coelho. Mas quem gosta de literatura internacional ou tem algum laço com a cultura brasileira acaba pesquisando e procurando se informar mais. Porém, se o leitor americano não lê português, acaba ficando limitado com os poucos títulos que passam a ser traduzidos e publicados nos países de língua inglesa. A quantidade de traduções estrangeiras para o inglês já é pequena, algo como 3% de todos os livros publicados por ano, então dá para imaginar a porcentagem correspondente à literatura lusófona em inglês.

8-                Quais são os seus conselhos para quem quer se tornar um bom tradutor?

            Para ser tradutor, de qualquer idioma, é preciso anos de estudo e um contato muito próximo com a cultura dos países onde essa língua é falada, além dos aspectos político-sociais que vão influenciar a linguagem dos autores que você vai traduzir, seja o texto algo técnico ou literário. Porém, antes de mais nada, é preciso ter uma base muito sólida no seu próprio idioma, porque não basta saber muito sobre a sua segunda língua se você não consegue passar a mensagem do original de maneira natural para o leitor da sua tradução, que não compreende o outro idioma e merece receber as mesmas informações, carregadas com as mesmas intenções que o autor do original tinha em mente ao escrever em seu próprio idioma.

Abaixo, o link da CBSS: 

http://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.brazilianshortstories.com%2F&h=pAQGmFMxp




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