quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Invernia


 

Há um momento 

em que o mundo se recolhe, 

sequer ladram os cães.

Tudo se retira e se desventra, 

viver se torna concha 

no abissal do estéril: 

deixa de ser vidro o vidro, 

deixa de cortar , a faca, 

mimetizam-se  as coisas 

para se tornarem nulas: 

não mais  há musgo ou pedra, 

só o sintoma, 

desritualiza, o mundo,  

a agudeza do instante: 

raça, instrumento, nome 

se desmentem 

com inconsistência 

de sombra sobre a água: 

tudo é instinto e espanto 

nos descaminhos  

do rigoroso,  

tudo é  inverno e cavidade 

nas intimidades do mínimo: 

não há face nem totem 

nos recônditos do escuro, 

viver é anonimato 

a destituir o denso, 

instante de amolar lâminas 

para sangrar silêncios, 

carne do vibrátil 

 a render-se ao imóvel.  


(foto; Cleber Pacheco). 



0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial