Os Mortos
Os mortos nunca morrem. Apenas têm uma vida mais delicada. Optaram pela discrição , comunicando-se através de sussurros . Seus gestos são mais autênticos, jamais se desmentem. Seus olhos reverberam no escuro enquanto tateamos entre sombras. Sentam-se diante de nós e bebem apenas um gole de chá, lembrando-nos que o sabor ainda existe. Desnudam a lima para nos lembrarem que o aroma é indelével. Tocam somente uma nota no piano para não nos deixarem esquecer que a música é possível.
Recebemos a visita dos mortos como quem se prepara para uma missa. Ajoelhamo-nos e reluzem os vitrais na concupiscência do Sol. Curvamo-nos, atentos ao Kyrye Eleison Regurgitamos hóstias de tristeza no áspero atrito dos dias. Enfim cedemos ao silêncio o dom de cantar mais alto.
(Foto: Cleber Pacheco).
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