sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Resenha

   Rainha de Katwe escrito por Tim Crothers surpreendeu-me. Não se trata de um livro com preocupações literárias, mas preocupações humanas. Pensei que seria a clássica história de alguém que supera as dificuldades e se torna um grande vencedor, ressaltando a meritocracia e o louvor ao sucesso. Felizmente foge aos estereótipos.  Não vi o filme. Talvez este se enquadre  dentro do sistema típico de Hollywood.
   Felizmente o autor consegue mostrar todas as dificuldades de um país esquecido que o mundo insiste em fazer de conta que não existe. E entre os párias, a favela de Katwe, onde muitos não têm água, energia elétrica e fome é uma realidade diária. Pária entre párias, está a menina Phiona, que luta para sobreviver num ambiente sem perspectivas ou esperança.
   Sua história é narrada de modo comovente e sem sentimentalismos, sem final apoteótico e todo mundo batendo palminha como se tornou comum no patético imaginário fake criado pelos padrões vigentes. Trata-se de uma realidade crua,dura, incerta, repleta de pessoas com trajetórias sofridas, em situações aparentemente inacreditáveis para aqueles preocupados com o mundinho fashion, carros importados e clubes da moda, celebridades vazias que nada têm a acrescentar.
   Katende, o treinador e Phiona, a discípula, são exemplos de pessoas que nunca tiveram nenhuma facilidade em seu caminho,mas possuindo capacidades e talentos adormecidos, que nunca viriam à tona se não houvesse alguém para valorizá-los e que  vão sendo trabalhados, passando por superação, descobertas, iniciativas e, no caso dela, a miséria sempre presente, mas sem nunca esquecer a generosidade.
   Trata-se de um livro capaz de resgatar os rejeitados deste mundo, ainda que fique em aberto quanto aos rumos futuros. E isso traz ainda mais vida ao relato, tornando-o um convite à reflexão e fazendo com que voltemos nosso olhar a um continente injustiçado, com guerras civis,morticínios, exploração cruel de empresas multinacionais e que ainda serve como depósito de lixo de países que se dizem civilizados. 
   Um livro para quem ainda não perdeu sua humanidade.
 

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