sexta-feira, 4 de outubro de 2013

CARTA A PENÉLOPE

(do meu livro CARTAS IMAGINÁRIAS)

Há tantos anos tento retornar a Ítaca sem alcançar êxito,que já começo a duvidar de Ítaca.Só você poderá me dizer se Ítaca existe de fato.Ou se existiu algum dia.
Descreva-me,não nossa casa,mas as pedras,as árvores,os animais,a cor do céu e da água,o odor que a permeia,as variações da temperatura,o sol e a lua,estiagem e chuva,as cores,os sons.
Conte-me tudo em todos os detalhes,como se contasse a um cego,pois assim talvez eu consiga retornar.O que impede o retorno não são os desafios,obstáculos e perigos,sequer os deuses,mas a minha descrença para com Ítaca ou a descrença de Ítaca para comigo.Não sei ao certo.Nada posso afirmar ou garantir.Resta o receio de muito navegar e chegar a lugar nenhum.
Só sei que à noite,em meus sonhos,e durante a vigília,é grande e infinito o mar.
ULISSES

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