terça-feira, 12 de março de 2024

Resenha

 


MISTÉRIOS EM "A ROSA MÍSTICA",DE CLEBER PACHECO

por Luiz Otávio Oliani 

 

"Homens de artérias obstruídas

Andam pelas ruas

Esmagadas pelo tempo." P. 29

Cleber Pacheco


         O livro "A rosa mística", Guaratinguetá,SP, São Paulo, 2023, é um acontecimento na vida cultural de Cleber Pacheco. Trata-se de obra  que celebra 25 anos de atividades literárias do autor.

No prefácio, o já consagrado José Eduardo Degrazia trouxe à tona a trajetória literária de Cleber Pacheco em vários gêneros.

No que tange à poesia, enfatizou o misticismo como uma característica do autor, ao mergulhar nos mistérios da mitologia medieval. Enalteceu a união entre mente e espírito atravessa poesia. Citou Gaston Bachelard e o "devaneio" proposto pelo literário através do polissimbolismo da palavra.

Ao discorrer sobre a atenção do poeta sobre as questões do mundo, além do esoterismo presente no livro em análise, o que não afasta leitores céticos ou críticos, Degrazia expôs que a visão mágica e intervenção da realidade pelo encantamento foram duas  características autorais presentes, já que têm a ver com a essência da linguagem por si só.

Assim, ao revelar que Cleber Pacheco desvenda os enigmas do ser e da existência, o resultado é a Beleza, com letra maiúscula.

Parte do prefácio aparece nas duas orelhas de "A rosa mística".

Em termos de posfácio, há duas apresentações.

A primeira é de Eduardo Jablonski, Mestre em Literatura pela UFRGS. Nesta, ele enfatiza o hermético e o opaco na obra de Cleber. Isto porque é a ambiguidade do texto literário que leva o leitor a múltiplas percepções e todas estão corretas.

Segundo Jablonski, o hermético derivaria de uma das influências de Pacheco, no caso, João Cabral de Melo Neto, para o qual a concisão e o trato com as palavras são fundamentais em um bom texto

 Já Herman Augusto Schmitz, poeta e Mestre em Estudos Literários, no texto"25 anos de poesia,", p. 69, na obra em viga "(....) perscruta a alma, o sentido do oculto, do alegórico e do hermenêutico."

Assim tal literatura seria possível se ser contemplada como um mandala ou centro de força, em forte simbolismo religioso.

No que tange à estrutura de alguns poemas, cabem algumas notas, por ser impossível uma análise de todos os textos.

Em  "Condição",p.15, o eu lírico analisa a dicotomia entre "existir","memória","esperar"e "esquecer",ao realizar a tarefa mágica do ato criador.

Já em "Geometria",p.16,apesar da chave de ouro em "A geometria transcende / Hipotenusa e catetos", há um leve traço metalinguístico no poema, devido à presença dos vocábulos "semântica","grafemas "," branco" e "página". O mesmo de dá em "Verbo ",p.17, no qual é bem explícita a presença da função metalinguística,a começar pelo título.

Do ponto de vista estrutural dos poemas,"Ancestral",p.18, é o texto no qual prevalecem os paralelismos, já que as quatro estrofes são iniciadas pela estrutura "Antiga é a (....)", com alteração dos substantivos próprios elencados.

Com alusão intertextual a William Shakespeare, o bardo inglês, "To be or not to be",p.22, o poema é rico de metáforas e antíteses que buscam traduzir dúvidas existenciais: " Viver é quase um sonho / Que a morte nos desperta, / Morrer é modo estranho ,/ De descobrir a descoberta."

A reflexão filosófica  está em  "Adivinhos"p.,27 ,( o místico como busca para salvação).; "Tempo",p.29 ( poema que revela a inversão de valores da sociedade contemporânea,); "Mundo",p.31  ( a luta pela preservação da memória diante dos horrores criador pelo homem,), entre outros.

"Breakfast",p. 32,traz a efemeridade da vida,pois "O tempo transcorre fagueiro / e um dia tua boca murcha, / teus dentes caem / e já não ouves com a mesma / precisão de antes."

 

*LUIZ OTÁVIO OLIANI é professor e escritor. Publicou 18 livros, incluindo poesia, conto, teatro e literatura infantil.

 




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