Resenha
Em 1882 Ibsen, dramaturgo norueguês, publicou Um Inimigo do Povo. A peça só foi encenada no ano seguinte, obtendo grande repercussão. Após escrever teatro de caráter histórico sem sucesso, o autor deu uma guinada em sua trajetória, passando a fazer um teatro realista. A partir daí, sua carreira dramatúrgica ganhou realmente a importância que tem até hoje.
A peça em questão aborda os acontecimentos ocorridos com o dr. Thomas Stockmann e sua família quando ele revela o problema da contaminação da água na estação balneária de sua cidade. Inicialmente recebendo apoio da imprensa ( cujos interesses são, na verdade, políticos, sem nenhuma preocupação com a saúde das pessoas ), rapidamente a situação vai se modificando. Quando os interesses da classe dominante são desafiados, todas as informações são manipuladas de modo a opinião pública voltar-se contra Stockmann. E é exatamente o que acontece. Suas boas intenções e sua atitude ética são proclamadas como insanidade, jogo de interesses, etc. Seu objetivo de evitar que a população adoeça é distorcido e essa mesma população passa a tratá-lo com hostilidade. A campanha contra ele inicia com seu próprio irmão, prefeito da cidade. E vai se estendendo até chegar à classe operária.
O texto de Ibsen é bem claro: a unanimidade é estúpida. A visão da maioria não é a melhor, pois a multidão avilta a iniciativa individual, anula o pensamento próprio, é mesquinha e cruel, não dando lugar ao diferente, não permitindo discordâncias, agindo por medo da opinião pública, além de facilmente manipulável:
Não! A maioria nunca tem razão! Esta é a maior mentira social que já se disse! Todo cidadão livre deve protestar contra ela (...) em se considerando o globo terrestre como um todo, os imbecis formam uma maioria esmagadora."
Ora, em tempos de total manipulação midiática, de fake news, manipulação de eleições , e de grandes corporações engolindo cérebros, como é o nosso, nada mais atual do que esta peça. Lida ou vista nos palcos, o importante é conhecer o texto e refletir.
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