quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Resenha


ENTES

Este é um prato cheio para os psicanalistas que todos somos.  Cleber Pacheco nos faz ver o que escreve, como um  García Márquez, e é tão... surreal quanto ele e Lorca e Zé Limeira, além de sombrio feito um Augusto dos Anjos ou Poe. Li o livro como se estivesse vi/vendo o thriller de um sonho de garoto,  cheio de visões à Odilon Redon, como Lua olho que tudo penetra tudo vê, ou à David  Lynch, como legiões de entes revirando-se numa toca deflorada no solo, em que se poderia ouvir  lamentos dos danados. Olha só: “Toca boquiaberta”,“o velório da tarde”, “babas do obscuro”, “Bulício da mata,  ganância da noite”:  pepitas na escuridão em que se sente uma inquietação vazando pelas frestas e onde  soam hinos que não são ouvidos.
ENTES é um pesadelo, na verdade . Por que? Porque não se trata de remexer de folhagem ou bicho, de vasculhar de brisa, de fustigação de besta. Não é em volta dele, nem diante ou atrás, é dentro.
Dentro.
Daí que nunca se sabe, nesse suspense, o que de fato se passa, qual a anatomia do acontecimento.  Séculos atrás devorei, no Tesouro da Juventude, tudo aquilo que o garoto Lúcio ouve ao ligar um mero aparelho de rádio que ele torna... estranho.  Dentre chiados zumbidos roncos, regurgitava, o aparelho, uma voz – dizendo coisas que eu lia fascinado, no “Livro dos Porquês”, da coleção:
       
       Você sabia que as minhocas são hermafroditas? De onde veio a água que existe na Terra? Como os favos das abelhas viram hexágonos? Quais são os animais extintos que ainda podem estar vivos?  Qual a idade da Terra?
Mas lá vem o terror:
Corria a menina Alice enquanto gritava a rainha em seu encalço: Cortem-lhe a cabeça.

Comece a ler. Os ENTES de Cleber o esperam. Com gula. 

(Texto de Waldemar José Solha).

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