Resenha
ENTES
Este é um prato cheio para os psicanalistas que todos somos.
Cleber Pacheco nos faz ver o que escreve, como um García
Márquez, e é tão... surreal quanto ele e Lorca e Zé Limeira, além de sombrio
feito um Augusto dos Anjos ou Poe. Li o livro como se estivesse vi/vendo o
thriller de um sonho de garoto, cheio de visões à Odilon Redon,
como Lua olho que tudo penetra tudo vê, ou à David Lynch,
como legiões de entes revirando-se numa toca deflorada
no solo, em que se poderia ouvir lamentos dos danados.
Olha só: “Toca boquiaberta”,“o velório da tarde”, “babas do obscuro”, “Bulício da
mata, ganância da noite”: pepitas na escuridão em que se
sente uma inquietação vazando pelas frestas e onde soam
hinos que não são ouvidos.
ENTES é um pesadelo, na verdade . Por
que? Porque não se trata de remexer de folhagem ou bicho, de vasculhar de brisa, de
fustigação de besta. Não é em volta dele, nem diante ou atrás, é dentro.
Dentro.
Daí que nunca se sabe, nesse
suspense, o que de fato se passa, qual a anatomia do acontecimento.
Séculos atrás devorei, no Tesouro da Juventude, tudo aquilo que o garoto Lúcio
ouve ao ligar um mero aparelho de rádio que ele torna... estranho. Dentre
chiados zumbidos roncos, regurgitava, o aparelho, uma voz – dizendo
coisas que eu lia fascinado, no “Livro dos Porquês”, da coleção:
Você sabia que as minhocas são hermafroditas? De onde veio a água que existe na
Terra? Como os favos das abelhas viram hexágonos? Quais são os animais extintos
que ainda podem estar vivos? Qual a idade da Terra?
Mas lá vem o terror:
Corria a menina Alice enquanto gritava a rainha em seu encalço:
Cortem-lhe a cabeça.
Comece a ler. Os ENTES de Cleber o
esperam. Com gula.
(Texto de Waldemar José Solha).
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