1
Minha mãe veio me acordar (eu dormira o dia
inteiro).Abri os olhos.Sobre o guarda-roupa,a vela apagada que ela colocara.Esperar seis dias dissera.No sétimo,se Deus quiser,Ele virá.Eu
aguardava a vinda dEle dormindo.Lá fora,a mulher ,à minha espera,gritava: Seu filho não pode demorar.Da outra vez me
atendeu na mesma hora.Foi muito bonito.Preciso dele logo.
Minha
mãe tentava proteger-me,dizendo: Você é
quem sabe.Vai até lá ou espera o segundo dia.
2
Apagada ainda,a vela sobre o
guarda-roupa.Deitado,ouvia a conversa das duas mulheres no pátio,absortas nos
próprios comentários.Tinham pressa e problemas.Queriam me ver.Queriam auxílio.
Mais seis dias e tudo estaria resolvido.Era
preciso paciência.Fechei os olhos.
Minha mãe passou mais uma vez pelo quarto
para efetuar sua habitual vistoria e retirou-se.
Deus ainda não viera.
3
Precisamos
de sua ajuda gritaram as duas mulheres e mais o homem que chegara
recentemente.Não podemos ficar aqui para
sempre.
Exigiam minha presença.Mas não poderia sair
antes do acontecimento.Nem poderia explicar-lhes coisa alguma.Nunca
entenderiam.Melhor suportar-lhes a irritação do que a incompreensão.Continuei
imóvel,quieto,mal respirando.
A penumbra prosseguia.
4
Sentia minhas costas doerem,as pálpebras
pesarem,o amortecimento das mãos.Um pouco mais,só mais um pouco.
Os dias estão passando e,em breve,poderei
ir.
Lá no pátio,ia aumentando a aglomeração.
Minha mãe suspirou.
5
Nenhuma chama ainda.
Era uma questão de tempo.
E de espera.
6
Amanhã.
No
sétimo dia.Ele costuma chegar no
sétimo dia.Se Ele quiser,deixara bem claro minha mãe.
Quase pedi a ela que fizesse a aglomeração se
calar.Parecia cada vez mais ameaçadora e incapaz de compreender.Não raro,gritos
afloravam.
Amanhã estará feito.Amanhã,a esta hora,já
estará cumprido.
Chamo por minha mãe.
Ninguém responde.
( foto: Cleber Pacheco)
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