Poesia, contos, crônicas, textos a respeito de livros e outros autores. Textos ficcionais em geral.
Páginas
▼
terça-feira, 27 de setembro de 2016
Carte de Adolfo Bioy Casares a Jorge Luis Borges
Amigo,
Bem sei que não mais você próprio lê as suas cartas,mas estou ciente de que possui quem as leia, traduzindo cada sinal,sílaba e palavra em sons e que poderá,assim,convertê-los em imagens suas,muito particulares,com peculiaridades somente possíveis às suas idiossincrasias, e, uma vez tendo feito isso, esta minha carta simplesmente deixará de existir, transmutada em indefiníveis hieróglifos e arcaicas escrituras, incompreensíveis aos outros,todavia perfeitamente claras apenas para si mesmo.
Sei,portanto,que esta carta perderá por completo o sentido para mim, nunca tendo obtido signficado algum para o ser intermediário que a lerá para você e que Adolfo terá alquimicamente transmigrado para Borges.
Isso quer dizer o seguinte: esta carta não existe,portanto jamais poderá ser lida por alguém,ou seja,nunca a receberá, obrigando-me,enfim,a tentar escrevê-la. Caso contrário, acabaria por tornar-me um sonho de Borges.
Atenciosamente,
Adolfo Bioy Casares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário